sábado, 4 de abril de 2009

Tomava meu café com calma na manha da sexta-feira quando fui impedido de morder a torrada que segurava por um tapa que ela recebeu, voando longe. Minha mão se manteve na posição em que estava e apenas minha cabeça se moveu, ainda com a boca semi-aberta, a procura do autor da agressão gratuita ao pedaço de pão. A única pessoa parada ao meu lado era Gina, e a julgar pela cara de poucos amigos, fora ela que jogara minha torrada no chão.

- Que diabos... – comecei a falar com uma cara confusa e ela atirou um jornal amassado em cima do meu prato. O resto dos ovos mexidos que comia colaram na página.
- Você deu alguma entrevista pra essa mulher? – Gina perguntou em quase um rosnado e peguei o jornal melecado de ovo.

Assim que o tirei do prato, entendi o motivo da irritação dela. Estampada na primeira página estava uma foto nossa que reconheci ter sido tirada logo ao fim da primeira tarefa. Estávamos abraçados, comemorando nossa pontuação. A legenda, em letras garrafais e que piscavam como um letreiro de Las Vegas, dizia: Fim da Era Potter. Campeão de Beauxbatons arrebata o coração da campeã de Hogwarts. Logo abaixo da legenda absurdamente gigante, uma nota mais discreta: Gina Weasley, atual namorada de Harry Potter, troca o herói bruxo por amigo de escola. Recusei-me a ler o conteúdo da matéria e já olhei para ela rindo, o que foi uma péssima idéia. Gina me olhou quase com faísca nos olhos.

- Não, eu não dei entrevista a essa louca da Skeeter – logo me defendi.
- Ela é ridícula! Harry deve estar furioso e com razão, não é? – Gina bufou ainda de pé.
- Harry já é vacinado contra essa doida, Gina. Duvido que tenha se importado – fiz pouco caso da matéria, pois tinha achado graça dela – E também duvido que alguém tenha acreditado nesse lixo. As pessoas devem ter rido.
- Oi, com licença... – uma menina que nunca vi na vida parou do nosso lado, interrompendo a conversa – Desculpa atrapalhar, só queria dizer que vocês dois formam um casal muito fofo. Não liguem se estão dizendo que vocês traíram Harry Potter. O amor é mais importante! – a menina disse empolgada e saiu de perto da mesa.
- Ninguém acreditou, não é? – Gina cruzou os braços irritada e sentou do meu lado.
- Não acredito que ouvi isso... – falei perplexo, olhando para a garota, que agora conversava com as amigas e todas nos olhavam com caras estranhas, bobas – E que história é essa de que somos traidores agora?
- Por que acha que estou irritada, Gabriel?? – Gina falou exaltada e pedi para ela falar mais baixo – Vim ouvindo essas besteiras da Avalon até aqui, pessoas fofocando, comentando o artigo e apontando!
- Ninguém tem mais o que fazer não? Por que não cuidam de suas vidas? – e falei a ultima frase alto o suficiente para que os que estavam nos olhando pudessem ouvir.
- O que vamos fazer? – ela perguntou soando cansada
- Ignorar. Isso é tudo que podemos fazer – dei de ombros, amassando o jornal e fazendo-o evaporar com a varinha – Se dermos importância a isso, vão comentar cada vez mais. Se ignorarmos, daqui a pouco as pessoas esquecem.
- É, tem razão... – ela mordeu um pedaço de torrada fria e levantou da mesa – Mas por via das duvidas, hoje à noite vou até Londres. Não custa nada garantir.

Ri do seu comentário e quando ela saiu do salão e voltei à atenção ao meu prato vazio. Peguei um limpo e enchi outra vez de ovos mexidos e bacon, terminando meu café. Evitava olhar para os lados, pois sabia que as pessoas estavam me encarando e comentando sobre a matéria do jornal e mesmo que não quisesse admitir, aquilo estava me incomodando...

*****

A maioria dos alunos já havia saído no último trem do vilarejo de volta para casa, restavam poucas pessoas nas repúblicas, especialmente na Spartacus. Do nosso quarto, apenas Ty e eu ocupávamos o espaço e no quarto ao lado restara somente Ricard e Wes. Tentava ler um livro, mas minha mente não absorvia as linhas direito, pois Ty atirava uma bolinha na parede, entediado, e o barulho que ela fazia tirava minha concentração.

- Será que dá pra parar? – pedi impaciente, olhando para ele por cima do livro – De 10 linhas que li, entendi no máximo 3.
- É sexta à noite, vai mesmo gastar ela lendo um livro sobre museus? – Ty sentou na cama atirando a bolinha pra cima de mim e a rebati com a capa do livro, sem querer a jogando pela janela.
- Não é um livro sobre museus, é um livro do Louvre – corrigi e ele revirou os olhos, indo até a janela – Foi mal pela bola.
- Estou extremamente entediado – ele sentou na cama outra vez.
- Se está entediado, pegue um livro para ler – sugeri.
- Oi, muito prazer, me chamo Ty, não Seth – ele falou debochado e jogou os pés na parede. O barulho deve ter chamado à atenção de quem estava do outro lado, pois logo depois dois chutes foram ouvidos, vindo do lado de lá – Legal, código Morse!

Tentei voltar a ler o livro, mas era impossível. Ty agora se ocupada em chutar a parede, se comunicando através de ritmos de musicas com alguém do outro lado. Os chutes ficavam cada vez mais fortes e quando ele fez a parede estremecer usando os dois pés, fechei o livro irritado e atirei em cima dele.

- Mas que coisa, será que não posso nem ler em paz nesse quarto?? – falei alto e ele me olhou assustado.
- Que bicho mordeu você hoje? – Ty pegou o livro do chão e atirou de volta pra mim
- Bicho nenhum, mas você está tirando a minha concentração!
- Ah, já sei por que você está assim... Está nervosinho por causa da matéria da Rita Skeeter!
- Não me importo com o que aquela doida escreveu, ignorei a matéria.
- Você chegou a ler a matéria?
- Claro que não, nem perdi meu tempo.
- Devia ler, fala até da Mad.
- O que?? – levantei da cama num salto e catei o jornal dobrado que Ty havia deixado em cima da mesinha.
- É, diz ai que ela era sua atual namorada e foi trocada pela Gina. Traída como Harry Potter, é o que diz ai – Ty falou rindo e olhei para ele irritado.
- Isso é uma palhaçada! Essa mulher precisa ser presa, como um editor sério como o editor do Profeta Diário deixa essa louca publicar uma matéria cheia de mentiras como essa??
- Relaxa, Lobão, não adianta se estressar. Pensa pelo lado cômico da coisa, você conseguiu botar um par de chifres no menino que sobreviveu. Só faltava isso na coleção dele.
- Que bom que ao menos alguém está conseguindo se divertir com isso.
- Eu não sou o único, garanto – bufei amassando o jornal e ele riu.
- Ei, por que parou com o código Morse? – a porta do quarto abriu e Ricard e Wes entraram – Estávamos cantando Callifornication, você não completou o refrão.
- Lobão cortou a brincadeira, ele ta irritadinho porque as pessoas acham que ele e a Gina estão namorando.
- Pô Gabriel, a Gina é gata, você devia estar comemorando! – Wes falou espantado e Ricard concordou com a cabeça
- Não estou irritadinho, mas é uma mentira e eu não gosto de mentiras. – me defendi
- Não sobrou ninguém mesmo nas repúblicas? Todo mundo foi pra casa esse fim de semana? – Ty perguntou inconformado
- Só sobrou nós 4, todo mundo foi embora – Wes confirmou – Nem Miyako ficou, disse que estava com saudade dos irmãos.
- Ok, não dá pra ficar aqui – ele levantou decidido e puxou o tênis de debaixo da cama – Querem passar o fim de semana em Paris?

Wes, Ricard e eu trocamos olhares rápidos e não foi preciso uma resposta para aquela pergunta. Os dois correram para fora do quarto para jogar algumas peças de roupa na mochila e eu já procurava meu espelho de duas vias para chamar tio Kegan com uma chave de portal. Pra que ficar no frio de Durmtrang se tínhamos um teto para dormir em Paris?

((Continua...))
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