quinta-feira, 23 de abril de 2009

“O sangue jovem não obedece um velho mandato”.

William Shakespeare


O clima em Durmstrang estava mais pesado a cada dia que passava. Fazendo vista grossa, o Ministério não dava descanso e a impressão que tínhamos era de que o numero de aurores e outros funcionários circulando pela escola fiscalizando tudo aumentava da noite pro dia. Estava quase impossível lançar as edições do Berrador, mas trabalhávamos nas madrugadas dentro dos nossos quartos e conseguíamos colocar o jornal para circular. Logo que a primeira edição saiu, nosso grupo foi pego para interrogatório. Como éramos os únicos alunos que haviam enfrentado os funcionários encarregados de comandar o jornal, nos tornamos rapidamente os únicos suspeitos. Chegamos a ser ameaçados com veritasserum, mas o diretor conseguiu intervir a nosso favor e fomos liberados por falta de provas. Claro que depois disso passamos a ser vigiados mais de perto, mas com o tempo aprendemos a driblar aquela perseguição.

Apesar dos problemas e restrições impostas, o fato de estarmos lutando contra o poder do Ministério através do jornal e do teatro nos incentivava a encarar as aulas com bom humor. Mas a irreverência parecia que chegaria ao fim em uma aula de Feitiços, no meio da semana. Tudo corria bem, até que uma aluna da Mannaz entrou chorando na sala, muito nervosa. O professor Lênin interrompeu a explicação que dava para ampará-la e conjurou um copo com água, forçando-a a beber. A garota tremia descontrolada e a turma inteira assistia a cena assustada. Depois de um tempo, onde algumas meninas conseguiram faze-la parar de chorar, ela começou a explicar o que havia acontecido. Um dos funcionários do Ministro a parou no corredor e a levou para interrogatório, pois seu pai havia dado uma declaração no jornal criticando a posição do Ministério na escola. A menina havia sido alvo porque seu pai não concordava com o Ministro.

- Isso é um absurdo! – Ty socou a mesa, revoltado – Como podem fazer isso com ela?
- Agora quem for contra o Ministro vai ser preso ou o que? – Miyako balançava a cabeça indignada
- Não podemos mais ter opinião, é isso. Voltamos à época da ditadura – Conclui irritado e a turma começou a falar ao mesmo tempo, se acalmando apenas quando o professor sacudiu os braços.
- Vocês estão revoltados, eu entendo, todos nós estamos – o professor Lênin se levantou e encarou a turma – Mas o que pretendem fazer a respeito? Vão ficar reclamando dentro da sala de aula ou vão levar isso lá pra fora?
- O que está sugerindo, professor? – Griff perguntou intrigado
- Existe uma coisa chamada Desobediência Civil – ele explicou, e tinha um brilho estranho no olhar enquanto falava – É quando as pessoas não cumprem uma ordem como forma de protesto por algo declaradamente errado.
- Ele quer que a gente faça um protesto – Miyako sorriu ao entender a mensagem
- Vocês são jovens, são o futuro da nação, e se querem um futuro onde não exista ditadura e vocês tenham o direito de pensar por si próprios, precisam lutar para conseguir o que querem – ele concluiu e a agitação tomou conta da sala outra vez.
- Então o que estamos esperando? – Ty se empolgou e já ia até a porta – Vamos sair gritando!
- Calma, Sr. McGregor – o professor sacou a varinha e selou a porta antes que Ty a abrisse – É um movimento rebelde, mas nem por isso deve ser desorganizado. Vocês precisam de um líder.
- Georgia, é claro – Micah sugeriu, achando graça – Quem mais poderia ocupar essa posição? – e a maioria dos alunos se manifestou a favor.
- Eu não concordo – Georgia falou e a turma inteira olhou para ela com cara de espanto – Não que eu ache que não faria um bom trabalho, é claro que faria, mas acho que tem outra pessoa que pode fazer um excelente trabalho também – e como ninguém parecia entender, ela sorriu e apontou para mim – O Gabriel.
- Eu? – perguntei surpreso – Que história é essa, Georgia?
- Gabriel foi quem teve a idéia do jornal alternativo e se não tivesse nos incentivado a participar, talvez o Berrador não existisse. E foi dele também a matéria de capa sobre a ditadura em Hogwarts que gerou tantos comentários.
- Gina também ajudou a escrever aquela matéria – interrompi
- Mas a idéia foi sua, eu apenas fui com você até Londres para ajudar – Gina logo explicou e alguns alunos começavam a cochichar.
- Ele também é um dos campeões do Torneio Tribruxo, isso vai chamar a atenção. E seus pais e amigos lutaram na batalha de Hogwarts, fazem parte da história do mundo bruxo – Georgia continuou, ignorando o fato de que eu estava discordando – Tenho certeza que será um excelente líder. Ele tem boas idéias e é tão organizado quanto eu, e tem a vantagem de não gritar com as pessoas.
- Não, eu não acho que isso daria certo – balancei a cabeça recusando.
- Eu discordo, acho que você daria um bom líder – Miyako apoiou Georgia e a olhei incrédulo.
- Gente, é sério, isso não vai dar certo. Georgia falando parece tudo muito bom, mas não é tão simples assim!
- Está com medo, Lupin? – ouvi a voz de Arthur no fundo da sala – Pensei que para ser um campeão do Torneio era preciso coragem. Enfrentou aquelas criaturas na primeira tarefa e está com medo de encarar o Ministério?
- O chato lá atrás tem razão, lobão – Ty bateu com a mão no meu ombro, me encorajando.
- Eu não estou com medo! – respondi indignado e encarei o professor – Tudo bem, se acham que devo fazer isso, então eu faço.
- Excelente! – Lênin falou animado – Vocês já têm um líder e podem começar a se organizar. Mas para isso dar certo, não adianta mobilizarem apenas 50 alunos, é preciso muito mais que isso. Do contrario serão apenas 50 alunos em detenção. Quanto mais gente aderir, mais difícil fica pra se aplicar uma punição.
- Posso falar, professor? – levantei a mão, ficando de pé, e ele assentiu com a cabeça – Se vocês me escolheram para organizar o movimento, então vão ter que fazer o que eu mandar. Não quero que essa idéia saia dessa sala até que eu pense no que vamos fazer ok? – e todos concordaram – Aceito sugestões, se alguém tiver alguma boa, mas não façam alarde.
- Muito bem lembrado, Sr. Lupin – Lênin parou ao meu lado, falando com a turma – É um ato rebelde organizado, não podem sair por ai espalhando ou podem pôr tudo a perder. Mas agora todos de volta aos seus lugares, preciso terminar a minha aula!

Ele destrancou a porta e recolocou as ilustrações de feitiços no quadro, retomando a aula de revisão para os N.I.E.M.s, mas eu já não conseguia mais prestar atenção. A idéia de liderar um movimento revolucionário era excelente, mas ao mesmo tempo isso garantiria uma mancha permanente no meu histórico e poderia me prejudicar no torneio e não sabia o que fazer para administrar isso. Claro que concordava com a idéia de ir contra o Ministério, mas é muito fácil assumir uma posição a respeito de alguma coisa quando não há risco nenhum. É muito fácil tomar posição contra a guerra, desde que ninguém peça que você se sacrifique. E naquele caso, parecia que o único sacrificado seria eu...
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