terça-feira, 7 de abril de 2009

"Durante a vida você conhece uma porção de gente. Algumas ficam com você para sempre, outras passam por sua vida e desaparecem totalmente. Mas de vez em quando aparece alguém que conquista um lugar permanente no seu coração."

A chave de portal feita pelo tio Kegan nos transportou para o apartamento da mãe do Ty exatamente as 21:30 daquela sexta-feira. Deixamos nossas mochilas no quarto dele e já saímos para as ruas movimentadas. Caminhamos direto para a Boulevard Saint-Germain, a rua onde tinha a maior concentração de cafés e pubs bruxos e trouxas e paramos no pub bruxo Les Deux Magots. Ty conseguiu uma mesa na parte de dentro e nos sentamos já pedindo nossas cervejas amanteigadas, mas conversar era quase impossível por conta da música alta. Ty, Ricard e Wes não estavam se importando, mas eu, ainda de mau humor, não estava gostando muito.

- O que foi, Gabriel? – Wes perguntou vendo que eu estava olhando entediado para o DJ – Não está gostando da música?
- Está muito alta – reclamei

- Ah que saco, está parecendo um velho! – Ty resmungou – Cara, para com esse bode, é só um pedaço de jornal velho!
- Gente, o Louvre não é aqui perto? – Ricard perguntou interessado, sem ouvir o que estávamos falando – Acho que vi a Escola Superior de Belas Artes no caminho também, podemos ir lá amanha, Gabriel?
- Ai Ricard... – Ty bateu com a mão na testa e passou a mão na cabeça do Ricard como se ele fosse uma criança inocente – Bebe mais um pouco, vai.
- O que foi que eu disse? – perguntou confuso, sem entender minha cara azeda.
- Nada, você só pediu pra ele te levar na escola que a ex dele estuda. Só isso – Ty explicou rindo – Lobão, levanta dessa cadeira agora, vamos lá pro meio. Você ta voltando pra fossa, não vou permitir. Anda, vamos conhecer umas meninas.
- Não estou afim, vão vocês, vou ficar daqui olhando.
- Se você não levantar dessa cadeira eu juro que te dou um soco – ele ameaçou, mas não dei credito, então ele agarrou a gola da minha camisa e me puxou pra cima, me arrastando pelo meio das pessoas – Ricard, Wes, levantem também!

Os dois levantaram depressa, largando os copos vazios na mesa e nos alcançando na pista. Ty e Wes logo puxaram papo com duas meninas e num piscar de olhos estavam dançando com elas. Ricard tentava uma abordagem meio sem jeito e depois de algumas tentativas frustradas, conseguiu engatar em um animado papo com uma menina muito bonita. Resolvi tentar alguma coisa também e já tinha escolhido um alvo, quando senti um dedo cutucar meu ombro com força. Olhei para trás e dei de cara com Mad, de braços cruzados e uma expressão séria, diferente do que estava acostumado, com ela sempre sorrindo. Olhei em volta e nenhum dos garotos estava por perto.

- Oi Mad, tudo bom? – perguntei meio incerto, mas precisava dizer alguma coisa.
- Quer dizer que ainda sou sua namorada e fui traída? Que você me trocou por Gina Weasley? – ela nem respondeu minha pergunta e disparou irritada – Sabe quantas piadinhas tive que ouvir desde que sai de casa hoje? E o pior era que não estava entendendo nada até Dominique me ligar para fazer graça também e me contar o que estava acontecendo!
- Eu não tive nada a ver com isso. Se te serve de consolo, só fiquei sabendo depois que a maioria da escola já tinha lido e não gostei também.
- Não, não serve de consolo e nem apaga tudo que já ouvi hoje!
- Ei, não grita comigo, eu não autorizei essa matéria. Rita Skeeter é maluca e faz o que quer!
- O que está fazendo aqui, afinal? – ela perguntou mal humorada, sem descruzar os braços – Não devia estar na Escandinávia?
- Tenho os finais de semana livres, posso ir aonde eu quiser e isso inclui Paris – respondi no mesmo tom e ela não gostou, mas estava pouco me importando – O mau humor é só por causa da matéria ou está incomodada em me ver aqui?
- Está se achando, não é? – ela falou debochada – Pode andar por onde quiser, não estou nem ai. Com licença, vou voltar pra minha mesa.

Mad virou de costas jogando o cabelo na minha cara, mas agarrei seu braço e a puxei com força pra cima de mim, a beijando. Não sei o que me motivou. Talvez o fato de que por mais que não admitisse, não passava um dia sequer sem pensar nela. E apesar de ter feito aquilo sem pensar na sua reação, ela não tentou me afastar. Soltei seu braço e a segurei pela cintura, enquanto ela me empurrava contra a parede mais próxima, suas mãos bagunçando meus cabelos enquanto caminhava de costas.

- Senti sua falta – ela admitiu quando interrompemos os beijos, seus dedos enroscados no meu cabelo.
- Eu também – respondi a beijando outra vez e a puxando para uma mesa vazia.
- O que exatamente você veio fazer aqui? – ela perguntou quando sentamos na mesa.
- Já disse, temos os finais de semana livres e Ty sugeriu que viéssemos pra cá, já que todos os nossos amigos foram pra casa.
- E como estão as coisas por lá? – ela já não estava mais tão séria e se permitia sorrir um pouco – Como é a vida acadêmica do campeão de Beauxbatons?
- Bastante vigiada – disse rindo e ela riu também – E você? Como está a faculdade?
- Puxada, mas faltam apenas 3 meses para a formatura – ela ergueu as mãos agradecida e ri – Marie e eu estamos enlouquecendo com a monografia, mas vai dar tudo certo. E temos planos de abrir uma galeria.
- Sério? Isso é ótimo, Mad! – falei empolgado e ela sorriu animada.
- Sim, mas isso não vai ser agora, precisa de muito planejamento. Depois que nos formarmos vamos correr atrás disso. E você? Muitos planos para a vida pós-escola?
- Quero conseguir um estágio em um jornal bruxo e também quero fazer jornalismo em uma faculdade trouxa do Brasil. Não abro mão de me formar nos dois mundos, quero me garantir.
- Faz muito bem – ela ainda sorria, mas aos poucos isso foi morrendo e ela me encarou séria outra vez – Isso nunca vai dar certo.
- Isso o que?
- Nós dois. Nunca daria certo.
- E por que não? A gente se gosta, pode dar certo se quisermos.
- Gabriel, nós terminamos por causa da distancia. Não percebeu que isso não mudou? Eu tenho cada vez mais planos aqui em Paris e você já tem sua vida toda planejada no Brasil. Eu não posso manter um relacionamento a distancia, vou acabar magoando você e não quero isso. Quantas vezes brigamos no ano passado?
- Perdi as contas – e acabamos rindo – Não quero perder contato com você.
- Não precisamos perder contato, éramos amigos antes, não é?
- É, mais ou menos, não? – brinquei e ela concordou – Mas acho que podemos começar agora. Prazer, Gabriel – e estendi a mão, sorrindo.
- Madeline, muito prazer. Você não é o campeão de Beauxbatons, que está namorando Gina Weasley? – ela brincou também e rimos.

Apertamos as mãos ainda rindo e passamos o resto da noite conversando como bons amigos. Talvez não fosse exatamente como queríamos que as coisas acontecessem, mas sabíamos que era assim que deveria ser. Daquela vez sentia que havíamos resolvido tudo que havia ficado pendente, sem ressalvas. E em meio à conversa regada a brincadeiras e planos para o futuro, surgiram promessas de amizade e contatos que sabíamos que não seriam mantidos. Não porque não quiséssemos, mas porque sabíamos que com o tempo íamos nos afastar naturalmente. Precisaríamos daquele tempo sem noticias um do outro, pois ainda tínhamos outras coisas para viver antes de nos encontrarmos outra vez.
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