- Tchau, Clarinha – falei mexendo com a mãozinha da minha irmã, que ria no colo da minha mãe – Já consegue dizer “tchau”?
- Claro que não, Gabriel – mamãe riu – Ela só tem 5 meses.
- Ah, mas não custa nada tentar – dei de ombros sorrindo e beijei sua bochecha. Ela riu sacudindo os bracinhos e tentou puxar meus óculos – Bom, tenho que ir. Não quero perder a hora e ter que pedir outra chave de portal pro tio Wayne.
Abracei minha mãe e meu pai e joguei a mochila nas costas, pegando a caneta que era a chave. Só deu tempo de acenar uma última vez, então senti um puxão no umbigo e tudo começou a rodopiar. Segundos depois, estava caído na neve de Durmstrang. Puxei o cachecol da mochila depressa e enrolei no pescoço. Ouvi o barulho de mais quatro corpos caindo na neve e olhei ao redor, sorrindo. Ty, Miyako, Seth e Griffon estavam de volta, todos agasalhados até o nariz.
- Sempre chegamos na mesma hora – Griff falou com o habitual aperto de mão complicado que tinha inventado – Como foram de natal e ano novo?
- Ótimo! – respondi animado – Bem mais quente que aqui...
- Ah, mas eu já estava com saudades desse frio – Ty falou e olhamos indignados pra ele – Eu já acostumei, conformem-se.
- Eu também senti falta – Miyako jogando os dois braços por cima dos nossos ombros – Aqui não tem dois bebes chorando de madrugada e nem mamãe gritando com Sergei pra não queimar a garganta deles com leite quente.
- Será que a nossa mãe também gritava esse tipo de coisa com o nosso pai, Griffon? – Seth perguntou rindo
- Não duvido nada...
Rimos imaginando o tio Lu e o tio Sergei levando bronca das esposas e mais uma vez ouvi alguém cair no chão. Dessa vez foram dois baques, e Chris e Shane levantaram batendo a neve da roupa. Shane sorria animado por estar de volta, mas Chris tinha um semblante sério.
- Natal ruim? – perguntei vendo a expressão dele
- Não tenho boas noticias – respondeu em tom de mistério e nos olhamos receosos – Vamos pra república, eu explico lá. Temos que esperar os outros chegarem.
Caminhamos pela neve de volta para as repúblicas e Miyako seguiu direto para a Spartacus com a gente, enquanto Shane seguia para a Osíris. Não esperamos muito tempo até que Victor e Ricard chegassem e logo depois Wes entrou sozinho no quarto. Chris fechou a porta.
- Bom, acho que já posso começar a explicar.
- Não, o Micah ainda não chegou – Victor falou e concordamos. Chris olhou para Wes.
- Micah não vem – Wes falou e sentou na cama que era dele
- Como assim ele não vem? – perguntei olhando para os outros
- Ele e a Evie terminaram – Chris sentou também e começou a falar – E ele voltou pra Califórnia.
- Ah, está brincando que ele não voltou só porque terminou com ela! – Ty falou indignado
- Não foi por isso, esse é só o começo da história – ele trocou outro olhar esquisito com Wes e nos encarou – É uma história longa, espero que ninguém esteja com pressa.
- O que está acontecendo, Chris? – falei começando a me preocupar – Está nos assustando.
- Bom, a confusão começou quando Josh procurou Evie para dizer a ela que Micah estava mentindo, que o único motivo pelo qual ele veio para Durmstrang foi pra fazer ela se apaixonar por ele e depois esfregar na sua cara que roubou sua namorada.
- Que ridículo! – Miyako falou – Ela acreditou nisso?
- Sim, porque ela já estava levantando essa suspeita – Wes falava agora – E no dia seguinte ela confrontou o Micah, e ele não conseguiu negar. Confessou que Josh não estava mentindo, mas que havia desistido do plano inicial há algum tempo e que estava gostando dela de verdade.
- Não acredito que Josh não mentiu – Ricard falou espantado. Fiquei calado, não estava tão surpreso quanto eles.
- Eles brigaram feio, e Evie foi embora não querendo mais olhar pra ele. Ele foi direto lá pra casa e me contou tudo, desde o começo – e Chris me olhou enquanto falava. Sabia que ele se referia ao acidente no lago – Ele estava determinado a procurá-la na manha seguinte e conversar com mais calma, estava decidido a fazê-la acreditar nele outra vez, mas Micah nunca chegou até ela.
- A caminho da casa do professor Andrei, um carro o pegou na estrada – Wes falou e dava pra sentir a raiva na sua voz – Josh estava dirigindo o carro.
- O que? – Ty ficou de pé – Ele está bem?
- Sim, está, não foi nada grave – Chris falou com uma calma surpreendente – O carro só tirou ele da estrada, mas como ele quebrou o braço, foi levado para um hospital.
- E antes que pudéssemos chegar lá, Josef Parvanov fez uma visita a ele – Wes completou, mas não deixaram que interrompêssemos.
- Quando soube do acidente e cheguei ao hospital com meu pai, Micah nos contou o que ele foi fazer lá – Chris recomeçou a falar – Ele foi ameaçá-lo, disse que se Micah voltasse a se aproximar da Evie, ele ia fazer uma visita a sua família, em Londres. O homem tinha até o endereço dos pais adotivos dele, e fotos do irmão mais novo dele na escola.
- Micah ficou com medo e achou melhor se afastar. Ele ameaçou também a própria filha, disse que ela também poderia se machucar se ele insistisse em levar adiante o namoro.
- Mas ele não pode desistir assim! – agora quem ficou de pé foi eu – Coloquem aurores na porta dos pais dele, sei lá, mas ele não pode simplesmente desistir dela por causa desse maluco!
- Ele não desistiu dela – Chris pediu que eu sentasse e continuou – E é aqui que a gente entra na história.
- Como? – Seth perguntou já interessado. Ele podia farejar uma briga grande de longe.
- Micah quer voltar, mas não pode fazer isso enquanto não se assegurar de que ninguém vai se machucar. E pra isso, precisamos de alguma coisa que possa ser usada contra o pai dela. Meu pai já está ciente disso tudo e até já alertou algumas pessoas, estão atrás de informações.
- Se ele for preso, acabam os problemas, não? – Ricard sugeriu
- Prender ele não vai adiantar, só vai irritar mais ainda e ainda temos que lidar com Max aqui fora, que pode fazer alguma coisa contra eles. – Wes falou preocupado
- Mas como vamos fazer isso? – perguntei totalmente perdido – Não podemos ficar na cola dele 24 horas por dia, temos aulas!
- Não vamos precisar ir muito longe pra vigiá-lo – Ty falou olhando para Chris – Ele está sempre na escola.
- Alguém já ouviu falar dos Reis e Sombras? – Chris perguntou dando um longo suspiro
Os dois trocaram um olhar cúmplice quando negamos com a cabeça e então começaram a contar uma história sobre uma sociedade secreta cuja sede se encontrava nas masmorras do castelo de Durmstrang, debaixo daquela casa onde estávamos dormindo. A história começava ainda quando Grindelwald estudava aqui, e terminava em um assassinato presenciado por Micah, alguns meses atrás. Ouvíamos a tudo quase sem respirar para não perder nenhum detalhe e quando terminaram, parecia que tínhamos sido atropelados por um caminhão de informações ultra-secretas e que podiam nos custar a vida.
- Tudo que vocês ouviram nesse quarto, não pode sair daqui – Ty alertou
- A sociedade é secreta e vocês correriam perigo se algum membro dela descobrisse quem sabem tudo isso – Chris completou e assentimos com a cabeça, ainda assustados.
- E como podemos ajudar? – Griffon perguntou animado
- Chris e eu vamos às reuniões dessa semana, sentir como estão as coisas por lá, ver quem está andando com ele esses dias. Só depois disso poderemos bolar um plano.
- Mas o importante é não nos expormos – Chris falou cauteloso – Meu pai disse que o que está para acontecer é “briga de cachorro grande”, não devemos nos envolver demais. Ouvi meu tio dizer a ele que uma fusão na sociedade está para estourar a algum tempo e que as coisas vão esquentar por lá.
- Vamos fazer o trabalho superficial, deixar que eles cuidem da parte suja – Ty falou em tom de brincadeira e acabamos rindo um pouco.
- Micah pode contar com a gente, então? – Wes falou voltando a ficar sério
Trocamos olhares rápidos pelo quarto e balançamos a cabeça todos juntos. Se Micah precisava de ajuda para voltar e lutar pelo que foi forçado a deixar pra trás, íamos fazer o que estivesse ao nosso alcance para ajudar. Algo me dizia que dias turbulentos estavam por vir na nossa pacata vida escolar...
Assinar:
Postar comentários (Atom)