quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

De quem é o poder?
Quem manda na minha vida?

Uns dizem que ele é de Deus
Outros, do guarda da esquina
Uns dizem que é do presidente
Outros, quem vem lá de cima

Cazuza – De quem é o poder?


Já haviam se passado alguns dias desde que Seth e Griffon nos acordaram no meio da madrugada para descobrirmos que o Conselho dos Vampiros havia se reunido e que o Profeta Diário da Bulgária havia noticiado o escandalo nas repúblicas da escola. Mas apesar de vários aurores do Clã Chronos estarem circulando pelo castelo e nos deixando mais seguros quanto ao ataque dos vampiros, o clima pelos corredores não era dos melhores. O diretor, furioso com o escândalo do jornal, invadiu as repúblicas com um exército de professores e vasculhou uma a uma, de cima a baixo. Confiscaram diversas coisas em algumas delas e deixou um professor responsável por cada república. Na Spartacus, estavamos sob a vigilância constante do professor de Feitiços, Nicolai Lênin. E a vida nela ficou mais complicada, pois ele fazia marcação cerrada e até uma respiração fora do comum era notada.

Era uma terça-feira, tinha reunião de pauta na redação do jornal, e uma movimentação estranha tomava conta do castelo. A aula de feitiços ainda acontecia, mas a minha atenção e a de outros alunos se perdeu no jardim. Esticavávamos o pescoço para ver direito da janela do segundo andar, e conseguíamos apenas perceber que muitos homens circulavam no andar de baixo. Pela aparência deles, eram homens do ministério da magia.

- Atenção cavalheiros! – o professor falou enérgico e olhamos para a frente – A aula está acontecendo aqui dentro, não lá fora. O que tanto prende a atenção de vocês?
- Tem uns homens do ministério andando lá fora, professor – Griffon levantou para ver melhor o jardim – Estão entrando no castelo.
- Homens do ministério? – o professor pareceu alarmado e caminhou até a janela

Bastou ele soar interessado que toda a turma levantou também, se esperemendo nas janelas para ver a movimentação. Eram muitos, e pude reconhecer o Ministro da Magia em pessoa liderando o cortejo, cercada por seguranças. O diretor saiu ao encontro deles e parte da comitiva ficou parada na entrada do castelo, enquanto o Ministro e mais alguns homens desapareceram no corredor que levava ao seu escritório.

- O que será que está acontecendo? – Gina perguntou confusa
- Aposto tudo que tenho que isso está relacionado a matéria do Profeta Diário – Miyako respondeu e muitos concordaram
- A aula terminou por hoje, estão liberados – o professor saiu da janela e caminhou até sua mesa, juntando todo o material com um aceno rápido da varinha – Continuamos amanhã – e saiu da sala apressado
- O professor Lênin nunca nos liberou cedo! – Chris olhou chocado pros amigos de Durmstrang – A coisa é séria...

Saímos da sala sem muita pressa e fomos direto para o salão principal esperar o jantar sair. Ainda nem tinhamos entrado e já notamos alguns dos homens na porta do salão, como caes de guarda. Começava a me sentir um prisioneiro, era como se aquelas pessoas estivessem observando cada passo nosso. E a situação não melhorou no clube de Trato de Criaturas Mágicas. Durante toda a reunião, que era liderada pela Milla, funcionários do ministério passavam de um lado para o outro, e dois deles assistiram as atividades do clube.

- Não estou gostando nada dessa movimentação – Ty comentou quando saimos de perto do grupo, ao fim da reuniao do clube – Estou com um pressentimento de que as coisas vão feder.
- Também não me agrada esses homens andando de um lado pro outro, mas o que podemos fazer? – Miyako encarou um deles quando passou e o homem a encarou de volta, com uma expressão séria – Biel, temos reunião de pauta hoje, melhor irmos andando.

Nos separamos do Ty e seguimos para o 4º andar, onde ficava a redação do jornal. E mal entramos, fomos sugados para dentro de uma roda de discussão sobre a atmosfera carregada que pairava sobre o castelo. Georgia foi à última a chegar e já entrou na sala agitada, distribuindo papéis sobre a mesa de reunião. Tomamos nossos lugares e ela ia começar a falar, mas a porta se abriu e um homem e uma mulher entraram. Ficamos todos mudos, encarando os dois, e Georgia levantou.

- Posso ajudá-los? – perguntou com sua voz forçando simpatia
- Façam de conta que não estamos aqui – a mulher respondeu no mesmo tom – Estamos apenas observando.
- Desculpe, mas a reunião é fechada apenas para a staff do jornal – Georgia insistiu, e dava pra perceber que ela queria voar no pescoço da mulher
- Se tem algum problema com a nossa presença, sugiro que apresente uma queixa formal ao Ministro da Magia – o homem respondeu mais ríspido que a mulher e Georgia sentou, acuada
- Er, bem, vamos começar a reunião – ela estava visivelmente balançada, mas ignorava a presença dos dois e nos encarava, firme – Temos uma matéria sobre o consumo de drogas nas festas que aconteciam nas repúblicas, quem quer ficar com essa?
- Hem-hem – a mulher pigarreou e todos olhamos pra ela – Desculpe, mas talvez você queira repensar sobre essa matéria
- E por que eu faria isso? – Georgia respondeu sem paciência
- O Ministro nao quer que os assuntos revelados na matéria do Profeta Diário tomem mais repercussão – o homem respondeu por ela
- Na verdade, a partir de agora, todas as matérias que vocês escreverem para o jornal deverão passar pela nossa aprovação, antes de serem impressas – a mulher tornou a falar, se adiantando e estentendo a mão para Georgia – Para nos poupar tempo hoje, por que não me dá essa lista, garotinha?
- Garotinha? – Georgia sussurou entregando o pergaminho a ela, irritada, encarando Evie.

A mulher recolheu a lista de matérias da mão dela e se sentou em uma das nossas mesas, de frente para o homem. Observamos sem qualquer tipo de reação eles riscarem todo o pergaminho. Levantaram depois de um bom tempo e devolveram ele a Georgia. Ela passou os olhos pela lista e encarou a mulher.

- Vocês riscaram tudo! – disse indignada
- Nao diga bobagens, deixamos alguns tópicos para serem desenvolvidos – ela respondeu sorrindo
- A falta de aquecimento em algumas repúblicas? – Miyako leu um dos itens que sobrou na lista – Como vamos fazer disso uma matéria de capa?
- Se a staff desse jornal não tem competência para escrever sobre qualquer assunto, talvez esteja na hora de uma reformulada – a mulher respondeu grossa e Georgia se levantou, mas puxei ela de volta pra cadeira – Se não estão satisfeitos, sugiro que saiam agora. Mudanças estão acontecendo nessa escola e aqueles que não se adaptarem, terão um semestre dificil.

A mulher terminou de falar em um tom grosseiro, mas abriu um sorriso falso em seguida e deu alguns passos para trás, encostando na parede ao lado do homem. A mesa ficou em silêncio por longos minutos, nos encaravamos perplexos, até que Georgia resolveu encarar o desafio e distribuiu as matérias que sobraram. Foi a reunião mais curta da história de um jornal, sequer discutimos o nível de importância do que seria escrito e fomos liberados. A época da ditadura havia voltado, e chegado a Durmstrang. E o jornal parecia ter sofrido o primeiro baque de muitos que ainda estava por vir. Estávamos sofrendo censura, e havíamos acabado de perder a nossa liberdade de expressão.
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