À medida que ia se cansando, o monte parecia se distanciar. Gabriel levantou do chão com dificuldade e corria por cima das pedras usando toda a energia que ainda lhe restava. Já estava próximo quando, mesmo sem ouvir, viu a platéia levar as mãos à cabeça e se agitar. Virou para trás e sentiu um solavanco que o atirou longe. Ajeitou os óculos no rosto e viu um Occami avançar em sua direção. Não deu tempo de reagir. Quando percebeu, já estava sendo arremessado outra vez para cima das pedras. A varinha escapou de sua mão e rolou alguns centímetros de distância. O Occami tornou a avançar para cima dele, mas Gabriel rolou para o lado antes que ele conseguisse atingi-lo outra vez e alcançou a varinha.
- INCARCEROUS! – cordas foram projetadas pela varinha e prenderam o animal, quebrando algumas de suas penas. O Occami se debatia tentando se livrar delas, mas sem sucesso.
O arremesso do Occami acabou o jogando para o pé do monte que devia subir e, prendendo a varinha com os dentes, escalou as pedras soltas até o topo dele. Quando chegou ao topo e viu a arquibancada vibrar, se atirou no chão. Uma sirene ecoou na arena e ele levantou depressa. Tinha um minuto para capturar um pergaminho. Olhou em volta do lugar e não havia sinal de nenhuma criatura, mas uma idéia lhe ocorreu. Pela descrição do guardião do pergaminho, só podia ser um Seminviso. Gabriel ajoelhou perto de algumas pedras que lembravam uma pequena toca, colocou a varinha no chão e estendeu a mão, esperando.
- Ah, aí está você... – disse sorrindo quando segundos depois um animal pequeno coberto por pêlos longos e lisos e com olhos que lembravam os de um macaco apareceu. O pergaminho estava amarrado em uma de suas patas traseiras e Gabriel aproveitou que o bicho cheirava sua mão para desamarrar a corda.
Assim que a corda soltou, outra sirene ecoou na arena e a voz de Fedorovitch anunciava que a prova havia terminado. Os bruxos que cercavam a arena libertavam novamente as criaturas e Gabriel agora ouvia o barulho ensurdecedor que vinha das arquibancadas. Era como se estivesse em um jogo da Copa Mundial de Quadribol. Uma passagem apertada se revelou no alto do monte e o diretor de Durmstrang o puxou para dentro. Madame Maxime apareceu correndo e, muito empolgada, lhe deu um tapa forte nas costas.
- Parabéns, Gabriel! Foi excelente! – ele notou que embora animada, sua mão tremia levemente
- Obrigada, diretora – disse tentando não fazer careta pela dor que sentia causada pelo tapa.
- Saiam, por favor! – uma mulher com roupa de enfermeira abriu caminho entre os professores e puxou Gabriel – Ele precisa de curativos, saiam do meu caminho!
A mulher o empurrou sem delicadeza em uma maca e começou a limpar os cortes causados pelas pedras. Ela passava um algodão com um liquido de cor verde que ardia mais que tudo no mundo. Gabriel ainda tentou se esquivar, mas ela o puxava de volta. Ele ouviu o apito soar outra vez e sabia que Gina estava entrando na arena.
- Posso ir agora? – perguntou ansioso
- Não! Sente quieto um minuto. SENTE-SE! – berrou quando ele não obedeceu e Gabriel sentou outra vez – Espere só mais um minuto, depois pode ir!
- GABRIEL! – ele ouviu uma voz bem conhecida gritar dentro da tenda e segundos depois estava sendo sufocado contra uma blusa azul
- Oi mãe... – respondeu com a voz abafada pelo abraço – Está me enforcando.
- Ai, desculpa! – Louise o soltou e tinha lágrimas nos olhos. Segurou sua cabeça com força – Você está bem? Se machucou muito? O que a enfermeira te deu?
- Eu to bem, calma. Ela só passou um treco ardido e disse que já voltava
- É um absurdo, como colocam criaturas como essas na arena?? – ela reclamava indignada e Gabriel revirou os olhos – Um dementador foi o fim da picada! E se a sua lembrança não fosse o bastante e ele pegasse você? Não daria tempo de fazer nada!
- Minha lembrança era ótima, eu sabia que ia conseguir. Pensei em quando levei você até o altar e entreguei ao meu pai – disse um pouco sem graça
- Ah, meu bebê! – Louise agarrou o filho e o abraçou apertado – Não sabe como fico feliz em saber que essa é a sua lembrança mais feliz – ele sorriu menos sem graça
- Ver você feliz é o que me faz feliz – disse sem se soltar do abraço e ela beijou sua testa – Quem veio com você? Meu pai veio? E o tio Scott?
- Estão todos lá fora assistindo as outras provas. Veio todo mundo, sua torcida é imensa. Só a Clara não veio, deixei-a com a Susan. Mas prometo trazer na 3ª tarefa.
- Imaginei mesmo que não fosse trazer ela dessa vez, muito nova ainda – disse rindo e se levantou olhando ao redor – Cadê a enfermeira? Quero assistir a prova da Gina antes que acabe!
- Sente-se! – ele a ouviu berrar de novo
A enfermeira estava de volta com uma poção fedorenta, que ele foi forçado a beber. Depois saiu apressado da maca e correu com a mãe até a bancada onde estava a diretora, para assistir a prova de Gina e Reno. A ruiva já havia derrubado o Occami, mas enfrentava dificuldade para passar pelo Erumpente. Usou um feitiço complicado que resultou no bicho ficando ainda mais enfurecido e foi preciso a intervenção dos monitores para que ele não a machucasse muito. O dementador foi o alvo mais fácil para a garota e também não enfrentou dificuldades em passar pelo Farosutil. Gabriel sabia que ela havia sido mais rápida que ele, mesmo tendo tido problemas com o Erumpente. E também não teve dificuldades em capturar o pergaminho. Demorou um pouco mais, mas conseguiu antes dos 60 segundos esgotarem.
A arquibancada vibrou quando a garota saiu com o pergaminho na mão e Reno entrou na arena minutos depois. Quem estava lá dentro não ouvia a algazarra das arquibancadas para não assustar os animais e os que estavam de fora não ouviam os feitiços e urros dentro da arena, apenas os movimentos mudos dos campeões e criaturas mágicas. Gina logo se juntou a Gabriel na bancada e assistiram a prova de Reno juntos. O campeão de Durmstrang foi o que mais se atrapalhou. Lançava feitiços rápidos e eficazes, mas nem todos surtiam o efeito desejado. Quase foi esmagado pelo Erumpente e o Farosutil chegou a se enroscar em toda sua perna e parte da cintura, mas ele conseguiu se livrar da serpente com eficiência. Mas não enfrentou dificuldades com o dementador e o Occami. Fez o percurso no pior tempo dos três e alcançou o monte já esgotado. E talvez por estar muito cansado, não teve paciência de encontrar o animal. Começou a lançar feitiços de revelação para todos os lados e quanto mais nervoso ele ficava, mais tinha dificuldade em encontrar o Seminviso. Faltavam menos de 10 segundos para terminar o prazo quando o bicho se revelou e Reno aproveitou o segundo de fraqueza para se atirar em cima dele, arrancando o pergaminho de sua pata com violência.
A arquibancada voltou a gritar e comemorar e Reno saiu de braços erguidos, saudando a torcida. Os cinco juízes discutiam entre si e os três campeões desceram para a arena, agora vazia, para aguardar as notas. Pareceu levar uma eternidade, mas os juízes finalmente chegaram a um consenso. Gina ficou em 1º lugar, seguida por Gabriel por pouquíssimos pontos de diferente e Reno, com uma distância muito grande para a primeira colocada. O garoto rosnou alguns insultos ao receber a nota e os três voltaram para a tenda, agora parecendo muito mais acolhedora que antes.
- Muito bom, todos vocês! – Fedorovitch entrou na tenda sorridente e parecendo satisfeito – Agora, só algumas palavrinhas. Vocês terão um bom intervalo até a segunda tarefa, que terá lugar às nove e meia da manhã de 24 de Fevereiro. Guardem esse pergaminho que estão segurando, ele será muito importante. Acho que é só isso, podem ir! Acredito que as repúblicas onde estão hospedados estão preparando algumas comemorações!
Os três deixaram a tenda com os pergaminhos bem presos nas mãos e Gabriel voltou com Gina até onde suas famílias e amigos já esperavam. À noite, depois das famílias já terem ido embora, as repúblicas Avalon e Esparta se uniram para fazer uma única, e grande, festa para os dois campeões. Mesmo o dia seguinte sendo dia de aula, ninguém parecia interessado em dormir tão cedo...
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