- Essa vista é linda!! – Minha prima, Gaia, se maravilhava olhando da janela do hotel no Cairo, enquanto puxava eu e Luna pelos braços. – O Egito é um lugar muito lindo, Seth!
- Daqui do hotel podemos ver o Nilo e até um pedaço do deserto, está vendo? – comentei enquanto apontava em uma direção e Gaia se maravilhava.
- Aqui realmente é um ótimo lugar para observação, Kam. Os Produvos da Areia gostam de lugares onde o deserto se encontra com o rio, e o Nilo é o melhor lugar para tentarmos ver um deles. – Luna comentou alegre, enquanto segurava minha mão. Gaia ficou imediatamente interessada e queria saber mais. Desde que encontrara Luna pela primeira vez, Gaia nutria uma admiração por ela, tratando-a quase como uma irmã.
- Produvos? O que são eles?
- Eles são um tipo de bicho muito adaptado à vida no deserto, e parecem minhocas gigantes que se alimentam de areia, mas podem ficar dias sem comer, pois quando finalmente comem, sua saliva transforma a areia em um pó brilhante muito valioso e bonito.
- Eu vou arranjar alguns desses pó de Produvos para você então, Luna. – Falei sorrindo enquanto puxava-a para um abraço.
- Eu vou adorar, Kam!
- Assim não é justo, eu também quero Pó de Produvo, Seth!! – Gaia fez birra enquanto balançava minha mão sorrindo.
- Vejam que estão se divertindo. Nossa!! Havia anos que não vinha ao Egito, havia me esquecido de como é maravilhoso – Era mamãe que falava, enquanto abraçava Gaia junto dela. Ártemis estava em seu colo e também dirigia um olhar maravilhado para a janela.
- Mas tome cuidado, Mirian, há muitos Diabretes Egípcios que gostam de provocar miragens para aqueles despreparados! Mas não se preocupe, eu trouxe vários galhos de Especiiris, elas afugentam os diabretes! – O Sr. Lovegood já trazia pendurado ao pescoço pequenos galhos de uma cor cinzenta, assim como vários outros na mão que distribuía entre nós todos.
- Não esqueça de mim, Xeno! Também gostaria de um Especiiris. Mas se tiver um bloqueador solar eu prefiro...O Sol aqui realmente é forte! – Papai se queixava, pois apesar de ser meio vampiro, o sol egípcio era muito forte e o afetava muito. Eu também não gostava de passar muito tempo ao sol, mas devido aos ensinamentos de mamãe desde pequeno já estava mais acostumado.
- Ai Lu, você é muito fresco!! Nem as crianças estão reclamando! Tente se espelhar no Seth! Vocês não passaram a lua de mel aqui? – Tia Celas implicava com papai, empurrando-o para mais perto da janela.
- Ai que está, era lua de mel e o sol não me atrapalhava muito...
- Lu!! Não fale isso na frente das crianças!! – Mamãe brigou com ele enquanto ficava vermelha e tapava os ouvidos de Gaia que ficou sem entender.
- Não me diga tio Lu, o que você fazia aqui que até o sol não o incomodava? – Luna lançou um olhar de pura curiosidade e ingenuidade, que serviu para deixar papai vermelho agora e sem ter o que falar. Todos rimos muito enquanto papai balbuciava palavras sem nexo.
Esse era o primeiro dia da nossa viagem, que duraria por volta de uma semana ou mais. Griffon fora passar o resto das férias com a família do Ty e iriam à Disney, mas não era algo que eu queria muito fazer, por isso recusei o convite. Preferia finalmente visitar o Egito. O lugar no mundo que eu mais admirava e que mais tinha vontade de conhecer.
Essa viagem, assim como a viagem do Griffon, foi quase um prêmio pelos nossos ótimos resultados nos NOMs e também para descansarmos após as caçadas a Hellion. Os NOMs foram meio difíceis, pois eu e o Griff perdemos muitas aulas, mas como estudamos quase 24 horas por dia, conseguimos tirar ótimas notas. E quando papai disse que eu poderia escolher onde viajar, não pensei duas vezes quando falei: “EGITO!!”. E pedi também para que pudéssemos convidar a Luna e o Ssr. Lovegood para irem juntos, eles adorariam viajar para um lugar tão exótico quanto o Egito, e acabou que se tornou uma viagem em família, pois Tia Celas e Gaia também quiseram ir.
Assim hoje de manhã nos reunimos na nossa casa em Londres e usamos uma chave de portal conjurada por mamãe para irmos ao Ministério da Magia Egípcio. O Ministro Egípcio já conhecia há muito tempo meus pais e minha tia e por isso tomamos café com ele, para só então ele nos indicar um hotel para ficarmos, assim como vários guias turísticos com os lugares que não podíamos deixar de visitar, apesar disso ser meio desnecessário, pois eu em si já era quase um guia egípcio. O Hotel onde ficaríamos se chamava Abu Simbel e ficava às margens do Rio Nilo, em uma região calma do Cairo, com pouca gente, fora que o hotel em si era um hotel bruxo e nos permitia usar magia de vez em quando, mas evitávamos exageros.
Como era nosso primeiro dia, decidimos apenas descansar e curtir um pouco as atrações do próprio hotel, que era construído tematicamente, inspirado no Templo de Abu Simbel, templo construído por Ramsés II em homenagem a sua esposa e a ele. A esposa oficial pelo menos, pois Ramsés II é conhecido com o faraó que mais teve filhos da história egípcia, legítimos ou não. O hotel possuía miniaturas perfeitas dos obeliscos do templo, e algumas se moviam, e mais de uma vez tive que impedir uma miniatura de Ramsés de pular no Sr. Lovegood ou na Luna, pois eles achavam que havia uma Diabrete nele. Luna estava maravilhada com o lugar, e eu também, pois nem em meus sonhos imaginava que o Egito fosse tão lindo. Passamos o dia inteiro juntos, conversando e quando havia chance, escapulindo para ficarmos sozinhos. Isso não era muito difícil, já que todos se preocupavam mais em cuidar de Ártemis e de Gaia, e queriam nos deixar mais livres, já que ficávamos tanto tempo longe um do outro.
Nesse primeiro dia, convidei Luna para visitar a cidade do Cairo, talvez uma das cidades mais mergulhada em história do mundo, já que vivia disso. A levei para passear pelo centro da cidade, visitando lojas de antiguidade e de souvenires. Comprei para ela uma pequena esfinge de pedra, brincando que iria protege-la por mim. Aproveitei também para visitar o Museu do Cairo e passamos o resto da tarde vagando pelos corredores cheios de hieróglifos e história. Conversávamos sobre tudo isso, e ela me contava todas as histórias que conhecia sobre Egito, assim como eu contava as minhas, e quando vi já estava citando quase toda a linhagem dos primeiros faraós...
Passamos o resto da viagem visitando museus e templos ao longo do Egito, indo da cidade do Cairo a Tebas. Mamãe também estava feliz com a viagem, pois essa era uma das origens mais antigas de sua família, e sempre parava em algum templo, como se estivesse voltando a um lugar querido. Passávamos o dia inteiro fora, e voltávamos apenas a noite, quando Gaia já não conseguia andar e tinha que ser carregada por papai ou pelo Sr. Lovegood, que adorava crianças. As vezes deixavam que eu e Luna voltássemos mais tarde e nessas ocasiões visitávamos oásis e outros lugares lindos, para olhar a luz da lua no deserto, sempre abraçados para amenizar o frio do deserto. A noite ocupávamos quatro quartos do hotel, sendo um para os Lovegood (apesar de Luna ter pedido para que eu dormisse com eles, achava melhor ela e o pai ficarem juntos), um para Tia Celas e Gaia, um para mim e o berço de Ártemis e um para meus pais. Eu me ofereci para cuidar de Ártemis, querendo que meus pais tivessem mais tempo a sós, e eles gostaram da idéia, deixando mamãe um pouco constrangida e papai extremamente feliz, piscando para mim. Ártemis adorava ficar comigo, e não era nenhum problema para mim cuidar dela, e cada vez mais eu via que gosta de crianças.
Mais ou menos no nosso quarto dia de viagem, fomos finalmente visitar as Pirâmides, minha parada obrigatória e que eu não via a hora de visitar. Ártemis e Gaia não poderiam entrar, assim apenas eu, Sr. Lovegood, papai e Luna entramos na Pirâmide de Quéops, explorando os labirintos junto do guia. Luna não largava minha mão e juntos nos maravilhávamos com os hieróglifos, quando de repente ela parou e fitou algo na areia. Era um enorme escaravelho vermelho como sangue, do tamanho da minha mão.
- Que lindo! – Luna exclamou, abaixando-se para olhar mais de perto. Eu me abaixei também, tomando precauções para caso ele atacar, eu pegá-lo a tempo.
- É um escaravelho. São comuns no Egito, eram símbolos para os Egípcios.
- Sim. Mas esse é especial. É um Escaravelho-Rei, era um bicho de estimação dos faraós, muitas vezes enterrados com eles. Mas achei que haviam desaparecido.
- Esse deve ter conseguido entrar aqui de algum modo. Realmente é lindo. – Comentei enquanto fitava o escaravelho e ele parecia nos olhar também.
- Seth, Luna! Venham logo, ou vão se perder! – Papai gritou, já bem afastados de nós. Eu acenei e me levantei junto de Luna, já indo na direção deles.
- Até depois, Sr. Escaravelho. – Luna falou acenando para o bichinho que se enterrou na areia.
Eu a beijei na testa e fui na frente, puxando-a para irmos até nossos pais, que já estavam bem mais na frente, em um trecho muito escuro, iluminado apenas por uma luz mágica. O guia explicava o que era aquilo.
- Essa é uma área fechada para o publico trouxa, pois aqui já fica muito escuro para que a lâmpada trouxa seja capaz de iluminar bem. Aqui é o começo do túnel que leva as múmias ainda intactas dos egípcios, nós não a retiramos daqui nunca. Tomem cuidado, há diversas paredes falsas.
Todos assentimos e apertei a mão de Luna mais forte, enquanto ela fazia carinho em minha mão com a outra, antes de colocar a mão na parede e começar a andar ao meu lado. Foi realmente ficando cada vez mais escuro, até mesmo para meus olhos vampiros, e eu sabia que não era algo normal.
- Há um feitiço antigo aqui, é para desorientar trouxas que possam tentar roubar os tesouros dos faraós e também afeta bruxos. – o guia explicou. Então, como se uma luz se acendesse de repente, estávamos em uma grande câmara subterrânea totalmente iluminada por uma luz clara e brilhante. A câmara era linda, cheia de objetos dourados e brilhantes, pertences do faraó. Haviam muitos sarcófagos encostados nas paredes e em uma contagem rápida eu contei por volta de trinta, todos ricamente coloridos e belos. Haviam múmias de animais que me lembravam cachorros, mas que eu sabia que eram gatos ou chacais, que serviriam como proteção para a alma dos mortos, pois representavam o guardião do reino dos mortos, que era um gato, e o deus Anúbis, o juiz dos mortos. Andávamos pela câmara todos boquiabertos e maravilhados, as vezes tocando algo ou algum hieróglifo. Papai e o Sr. Lovegood conversavam animadamente sobre tudo isso, comentando da beleza do lugar, enquanto eu e Luna nos mantínhamos calados, meio estupefatos com aquela beleza peculiar. Meus conhecimentos em egípcio antigo me ajudavam a identificar alguns hieróglifos, e pude constatar que aquela câmara continha a guarda do faraó, ou seja, o faráo deveria estar por perto.
O guia nos conduziu para o final da câmara onde continuamos nossa excursão, indo visitar as próximas câmaras, que continham as armas do faraó, como seu carro de guerra, escudos, lanças e espadas, como se aguardassem o renascimento do faraó e de sua legião de guerreiros. Como havíamos andado pela câmara anterior, eu e Luna havíamos separado nossas mãos e agora olhei para trás procurando-a.
- Isso tudo é lindo, não acha Luna? Luna?! – Levei um susto. O corredor estava vazio e não havia sinal de Luna. Gritei seu nome mas sem ouvir resposta. Papai, o Sr. Lovegood e o guia olharam pra trás preocupados.
- O que aconteceu? – o guia perguntou.
- A Luna sumiu! Ela estava bem atrás de mim e no momento seguinte havia desaparecido! – eu começava a entrar em desespero, e isso deixava minhas ações meio impensadas.
- Eu avisei vocês para tomarem cuidado! Disse que havia portas falsas! – Ele falou enquanto praguejava algo de péssimo gosto, crente que ninguém entenderia.
- Ela deve ter ido procurar algo, ou viu algo que a interessou, ela estará de volta em breve. – O Sr. Lovegood falou com calma e continuou andando, sem ver meu rosto de pura surpresa e incredulidade. Papai se segurou para não rir de minha cara e me acalmou rapidamente.
- Calma, Seth, você a conhece melhor que ninguém aqui. Concentre-se no cheiro dela, na presença dela e a encontre.
- Sim...Ela está aqui perto, posso sentir. – Apertei o nosso pingente com força e consegui me acalmar, usando meus poderes e nossa ligação para encontra-la. Podia sentir o aroma único dela por aqui.
- Muito bem. Xeno vamos ajuda-lo a procura-la.
- Tudo bem, amos indo Seth?
- Não precisam, eu posso encontra-la sozinho. Mamãe e titia vão ficar preocupadas se demorarem, eu os alcanço daqui a pouco. – Falei sem esperar resposta e corri de volta para a câmara da guarda. Pude ouvir o guia xingar novamente, mas ser contido por papai e Xeno que lhe disseram que eu sabia me virar.
Quando cheguei a câmara da guarda abaixei-me e toquei o chão de areia da câmara, me guiando novamente. Mantive-me concentrado em seu cheiro e caminhei até o inicio do corredor onde ela havia sumido. E ali estava seu cheiro ainda mais forte, próximo a uma parede sólida, porém ao chegar mais perto vi que era falsa e tentei empurra-la, sem conseguir mover um centímetro. Fiquei frustrado e só não a transformei em pó em respeito ao Egito, porém passei a tatear pela parede procurando alguma alavanca. Meus instintos me ajudaram e consegui fazer a parede se abrir, e pulei para dentro dela imediatamente, quando a porta se fechou as minhas costas. Estava tudo escuro, mas eu deixei meus olhos ficarem vermelhos e passei a enxergar com perfeição, usando meus dons para seguir em frente. Vi que a cada passo que eu dava, uma pequena luz na forma de um escaravelho se acendia aos meus pés guiando-me sempre em frente, e assim que meu pé saia de uma dessas lanternas, elas apagavam.
Fui seguindo por aquele caminho silencioso, guiando-me pelas luzes e pelo cheiro de Luna, que me atraia como um imã. Eu estava mais calmo, mas ainda preocupado, pois não sabia o que podia haver naquela pirâmide por séculos. Comecei a ouvir e a sentir coisas estranhas ao meu redor, parecia que havia algo se arrastando, mas não me assustei. Não seria uma múmia que iria me assustar ou me pegar...Então engoli em seco e pensei em Luna. Ela provavelmente tentaria fazer amizade com a múmia, não se assustaria nem nada, mas o que a múmia poderia querer fazer com ela?! Comecei a correr, correr de verdade como sou capaz de correr, e as luzes aos meus pés mal ficavam acesas por alguns segundos. Os sons ao meu redor ficavam mais intensos como se reagindo a minha velocidade e eu cada vez corria mais. Por minha cabeça passavam cenas, desde uma Luna sentada conversando com uma múmia até uma múmia olhando-a surpresa enquanto tentava assusta-la, sem sucesso. Ou cenas piores, como uma múmia atacando a Luna...Agora as luzes sequer acendiam, sem conseguir acompanhar minha velocidade.
Então a escuridão desapareceu. Como na câmara da guarda, sem nenhum indicio precedente, eu estava em uma câmara enorme, maior que a da guarda, e muito mais iluminada e mais ricamente “decorada”. Era uma explosão de dourado e prata, junto de cores diversas, predominando o vermelho e o branco. Era a câmara do Faraó, eu podia notar e corri ao longo dela, sentindo o cheiro mais forte de Luna. Agora eu já podia ouvir seu coração batendo, um ritmo que me cativava e me encantava, e depois ouvi sua voz.
- Não disse, o Kam veio me buscar. – ouvi sua voz claramente e me perguntei com quem ela conversava...Ela estava no fundo da câmara, ao lado do sarcófago mais rico e belo que eu já havia visto, o sarcófago do Faraó. Luna estava sentada no que era pra ser o trono do faraó, com o escaravelho-rei no colo, e eu sabia que era o mesmo escaravelho de antes. Assim que eu a vi, eu corri para ela, agarrando para um abraço forte, levantando-a do chão, com felicidade. Com sorte, o escaravelho havia saído de seu colo, ou teria sido esmagado.
- Eu estava preocupado! Não faça mais isso! – Falei enquanto passava a mão por seu cabelo e a beijava com amor.
- Respeite o Faraó, Kam! Você está diante de um governante sabia? – Ela falou, mas também me beijando. Ela balançava os pés enquanto ficava erguida por mim, e a coloquei no chão, passando meu braço por sua cintura. Então olhei para o sarcófago e vi que os olhos pareciam realmente me olhar e notei que eram olhos de verdade...Provavelmente os olhos do Faraó, encantados para que nunca morressem.
- São olhos de verdade...Isso é magia de alto nível. – Comentei admirado.
- Sim, é verdade. O restante das víceras estão naquelas garrafas, aguardando o renascimento dele.
- Luna, como você chegou aqui? E com quem estava conversando?
- Ele me guiou. – Ela falou apanhando o escaravelho novamente no colo e mostrando-o a mim. – Eu o vi na parede e quando fui tocar ela se abriu e eu entrei, então ele me guiou até aqui. E fiquei conversando com ele e com vossa alteza enquanto esperava você, pois sabia que viria. – Ela sorriu pra mim e suspirei deixando de lado as preocupações.
- Bem agora devemos voltar não acha? Falei que ia voltar rápido.
- Vamos claro, deixe só me despedir de Sua Alteza, e você deveria também! – Ela falou virando-se para o sarcófago e fazendo uma pequena reverência. Eu a imitei e a puxei pela mão, já olhando em volta procurando a saída. Vi a porta por onde eu havia chegado, mas ela parecia diferente, porém não me importei. E vi também praticamente um mar vermelho. Eram centenas daqueles escaravelhos, todos ali diante de nós, parecendo nos olhar. Só então vi que eram eles me seguindo que faziam o barulho estranho. – Olha eles vieram se despedir! Adeus, queridos, outro dia volto para visita-los. – Luna falou dando um tchau para eles, e colocando o outro no chão, este porém nos seguiu quando fomos na direção da porta.
Dessa vez eu mantinha a mão de Luna com firmeza entre a minha, e toda hora verificava se ela não havia se perdido novamente. O escaravelho ainda nos seguia e eu podia ouvir o barulho dos demais se espalhando pela pirâmide. Não sei o porque, mas as lâmpadas não mais se acendiam de acordo com que íamos passando e foi necessário que eu e Luna acendêssemos nossas varinhas para iluminar o caminho para ela. Agora estava mais aliviado por tê-la encontrado bem e ria da minha imaginação, enquanto achava que Luna poderia ter sido atacada por múmias enfurecidas. O tempo passava e meus sentidos me diziam que estávamos próximos da saída, mas algo estava estranho, quando chegamos no local onde deveria estar a porta falsa, nos vimos novamente na câmara do Faraó. Ele parecia ainda nos olhar e o encarei meio em dúvida. Como EU teria perdido o caminho? Sem querer admitir puxei Luna para uma outra porta novamente enquanto ela cantarolava me acompanhando. Eu me mantinha calado, só as vezes dava uma batida na parede, para usar o eco como um radar. Achei novamente o caminho e apressei o passo.
Voltamos à mesma sala do Faraó. E seus olhos ainda estavam pousados em nós, em um tom meio irônico. Eu o encarei novamente, com uma sobrancelha erguida, sem querer acreditar em algum tipo de maldição. Luna continuava a cantarolar, enquanto balançava nossos braços. Eu suspirei novamente e segui para outra porta, mentalizando em minha cabeça o mapa da pirâmide novamente e agora com mais atenção. Andamos por mais alguns minutos e voltamos a mesma sala. O Faraó ainda me fitava e parecia a beira da gargalhada. Dessa vez eu peguei Luna no colo e disparei porta a fora, correndo pelos corredores rapidamente, e ao encontrar uma espécie de poço, o escalei com facilidade...
Indo voltar novamente a sala do Faraó. Odiava admitir, mas EU ESTAVA PERDIDO! Suspirei exasperado e decidi tomar a ultima iniciativa. Coloquei Luna no chão e pedi que se afastasse um pouco, e ela fez sem perguntar nada. Então deixei minhas presas a mostra e os olhos tingidos de vermelho e dei um soco na parede, com força suficiente para derrubar um prédio. Mas ela sequer se mexeu!! Meus olhos foram rapidamente para o Faraó e agora realmente ele parecia estar gargalhando, pois ao fundo ouvi o barulho dos escaravelhos. Eles voltaram a sala, e pareciam enfurecidos. Praguejei mentalmente por ter dado o soco na parede e me preparei para esmaga-los quando Luna entrou na minha frente.
- Calma, queridos, meu Kam está apenas frustrado por estar perdido. – Ela falou sorrindo pra mim enquanto se abaixava para acariciar um dos escaravelhos. Notei com surpresa que o escaravelho que nos seguia estava em meu ombro. – Hum? Kam, eles querem que você admita que está perdido e peça desculpas.
- Tudo bem, admito! Eu estou perdido e não sei como sair daqui! E acredite eu sinto muito por ter dado aquele soco. – Os escaravelhos emitiram um novo barulho de asas como se aceitassem e o escaravelho em meu ombro tremeu um pouco.
- Muito bem. Agora estamos direito. O Rei vai nos mostrar o caminho, ele ia fazer isso desde o início, mas você preferiu tentar achar sozinho...Tem um feitiço de confusão na pirâmide, lembra Kam? – Ela falou me dando um sorriso sereno e eu me lembrei disso.
- Oh! Havia me esquecido disso... – Era algo óbvio! Eu estava na sala do Faraó, haveria diversos feitiços de proteção nessa sala e de confusão também...E notei que os escaravelhos estavam ali para limpar a sala, caso algum visitante fosse cair ali e não conseguir sair...
- Já podemos ir, por aqui Kam. – Luna falou puxando minha mão e depois ficando na ponta do pé para me dar um beijo.
O Rei, o escaravelho que estava em meu ombro, saltou para o colo de Luna e ela me guiou na direção de uma parede sólida. Assim que ela tocou em sua superfície, ela deslizou de lado e Luna entrou por ela sem medo, enquanto as luzes se acendiam para nós. Fomos andando conversando um pouco, e quando olhei estávamos do lado de fora da pirâmide, e a parede por onde deveríamos ter passado era pedra sólida.
- Chegamos! – Luna sorriu pra mim e colocou Rei no chão, ele fez um barulho com as pinças e se enterrou desaparecendo.
- Obrigado, Rei. Os escaravelhos são realmente inteligentes. – Admiti impressionado.
- São, muito. Adorável a pirâmide, temos que vir novamente e precisamos voltar á sala do Faraó. Vamos indo?
- Humm...Na verdade, estive pensando enquanto saímos daqui. Quer visitar outro lugar que você deve gostar? Já está anoitecendo vai ser bonito, prometo.
- Claro que quero, qualquer lugar com você é ótimo!
- Então vem comigo. – Falei puxando-a para um abraço e depois ia puxa-la pela mão quando sorri. – Outra coisa, você quer ver como é correr de verdade? – Ela entendeu o que eu queria dizer e um sorriso se abriu em seu rosto.
- Achei que nunca ia me perguntar. Adoro voar.
- Pois verá o que é voar de verdade. – Comentei enquanto a beijava lentamente, depois nos olhamos um pouco e com um movimento rápido eu a coloquei em minhas costas, e quando tive certeza que estava bem presa a mim eu mostrei o que era voar para ela.
Eu comecei a correr. E a cada passo ia acelerando mais, e em questão de segundos adquiri minha velocidade máxima, e o vento morno do fim de tarde em nossos rostos fazia parecer que estávamos voando. Ouvi Luna rir alto enquanto sentia o vento em seu rosto e ela se agarrava ao meu pescoço, sussurrando em meu ouvido:
- Isso é maravilhoso...Amo você, Kam.
- É maravilhoso estar com você. Eu amo você, Luna. – Sem parar de correr eu a passei para meus braços e a beijei. – Agora feche os olhos, estamos em Tebas já. Vou voltar para te levar onde queria.
Ela fechou os olhos e apertou os braços em torno de meu pescoço enquanto eu fazia a volta e continuava a correr. Cheguei onde queria e num único salto estava no ar. Ela sentiu que estávamos pulando e me abraçou com mais força, mas sem abrir os olhos. Pousei com leveza e a coloquei no chão, segurando sua cintura.
- Abra os olhos. – Ela abriu lentamente e seus olhos se arregalaram, mostrando surpresa e admiração pela visão. Estávamos no topo da Esfinge, e de lá ela podia ver todo o deserto ao nosso redor, ver as Pirâmides, a cidade do Cairo, o Nilo, as estrelas no céu do deserto...Era um lugar maravilhoso, extremamente lindo...Misturando o passado, o presente e o futuro, junto da aridez, da beleza e da mística do deserto. Ela ficou um pouco sem fala, e simplesmente se virou pra mim e me beijou, por longos minutos, quando ela finalmente falou.
- Aqui é lindo, Kam...
- Meu pai me contou sobre esse lugar. Ele veio aqui com mamãe na lua de mel deles e quando nos deixou na pirâmide, me lembrei daqui. Eu queria te mostrar esse lugar...É lindo, mas se quer se compara a você.
- Obrigada...Isso é maravilhoso e eu adorei a surpresa. Você é maravilhoso, Kam. – novamente nos beijamos, por minutos a fio. A lua lentamente subia ao céu, iluminando-os com sua luz. Eu a segurei mais perto de mim, para protege-la do frio do deserto a noite. Depois nos sentamos e ficamos abraçados olhando o céu, sem mais palavras para se dizer...Quando foi ficando tarde eu lhe falei novamente.
- Agora, vamos voltar...Dessa vez fique de olhos abertos. Confie em mim.
- Eu confio.
Luna respondeu sorrindo enquanto eu a pegava no colo e a beijava novamente. Com ela em meus braços saltei da Esfinge, e passamos a voar.