sexta-feira, 31 de julho de 2009

Reencontros - Parte II

‘Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim’

Chico Xavier



Paris, Agosto de 2012

Madeline passou no hotel onde Gabriel e Clara estavam hospedados para buscá-los e às 20hr em ponto estavam no apartamento de Ian e Marie. Evan, o filho dela de 2 anos, era loirinho, com fortes olhos azuis e extremamente parecido com a mãe. Gabriel duvidava que ele tivesse qualquer traço do pai. Ele era uma cópia fiel de Madeline. Quando tocaram a campainha e a porta se abriu, pensou que havia voltado no tempo. Os rostos de Ian e Samuel surgiram na sua frente e ele foi sugado para dentro do apartamento, sendo recepcionado com tapas nas costas e mãos bagunçando seu cabelo. O tempo podia ter passado, mas as pessoas não haviam mudado tanto assim.

- Gabriel, como você desaparece assim?? – Ian o soltou do abraço e o deixou falar com os outros.
- Não tiro férias há 5 anos – respondeu rindo e abraçando Manu – Tudo que vejo é minha mesa cheia de papel e fotografias!
- E quem é ela? – Samuel falou estendendo a mão para Clara – Sua filha?
- Que filha o que! – ele riu – É minha irmã!
- Essa é a Clara? – Marie falou assustada – Lembro de você um bebê recém-nascido!
- Bom, tenho certeza que você não vai achar agradável o papo dos velhos, então vou apresentar a gangue – Ian a conduziu até o outro lado da sala e assobiou alto – Atenção tropa! Formar fila!

Ao ouvirem o som do assobio, várias crianças saíram de dentro de um dos quartos e se postaram em fila, por ordem de tamanho. Algumas tinham expressões mais sérias, outras de intelectuais, mas a grande maioria tinha cara de ser levado. Ele parou com Clara na frente delas e começou a apresentá-las.

- Clara, essa é a tropa de choque: Gabriela, Damien, Daphnee, Auguste, Alphonse, Aurelian, Stéphanie, Heloísa, Alicia, Edmond, Clarisse, Michel, Austin, Leonard, Sophie e o nosso caçula, Evan, que você já conhece – as crianças iam levantando a mão conforme ele dizia os nomes – Gabi, faça as honras da casa e deixe a Clara à vontade.
- Pode deixar, papai! – Gabriela agarrou a mão de Clara – Vem, estamos jogando no meu quarto!

As crianças desapareceram outra vez e logo o som que enchia a sala eram o de conversas animadas, taças se enchendo e muitos brindes sendo feitos. Eram muitas histórias para contar em 13 anos sem ver os amigos. Passado algum tempo Marie puxou Madeline para fora da sala, e não demorou até que só restasse Isa na sala com os homens. O assunto era casamento.

- Acho que só não fui aos casamentos da Isa e da Bel. Lembro de todos os outros!
- Você também não foi no meu! – Dominique falou arrancando risadas.
- Claro, também perdi seu casamento imaginário!
- Perdeu um festão – continuou com a brincadeira – Minhas damas de honra eram todas de 18 aninhos...
- Dominique, por Merlin, você agora é pai! – Isa o repreendeu, mesmo rindo.
- Pai solteiro, não esqueça esse detalhe.
- Você também nunca casou, Gabriel. Por quê? – Bernard indagou.
- Não sei, acho que nunca encontrei mais ninguém com que quisesse me casar, só isso.
- Não encontrou mais ninguém? – Ian riu – Ok, entendemos.
- Com licença, pessoal. Vou ver o que houve com a demora da bebida!

Isa levantou depressa e sumiu pela porta da cozinha. Quando entrou encontrou Madeline com as mãos apoiadas no balcão e Marie e Manu em cima dela, tentando acalmá-la, enquanto as outras se revezavam em oferecer um copo de água.

- Gente, o que está acontecendo? Mad, você está bem?
- Não, ela está tendo um ataque aqui – era notável que Marie fazia esforço para não rir.
- Senta na cadeira, se acalma! – Manu puxou uma cadeira e Mad se sentou, abaixando a cabeça.
- Sério gente, o que ela tem?
- Não percebeu, Isabel? – Bel não perdia a mania de provocar – Mad não contava que fosse encontrar Gabriel novamente, e achou que podia lidar com isso.
- Ledo engano... – Anne não agüentou e riu – Nunca achei que fosse vê-la assim. Desculpe, mas é engraçado! – acrescentou quando Mad levantou a cabeça e quase a fritou com o olhar.
- Mas claro que ela não saber contornar isso – Dora engrossou o coro – Viram como ele está lindo?
- Vocês vieram ajudar ou piorar a situação? – Manu olhou atravessado e elas prenderam a risada – Mad, não estou entendendo essa sua reação toda, de verdade. Pensei que tinha superado isso!
- Somos duas então – respondeu sincera e tinha os olhos cheios de lágrima – Maldita hora que resolvi comprar água naquela porcaria de museu!
- Maldita hora não, achei ótimo vocês terem se encontrado! – Marie parou de dar risada e falava sério agora – Ele também não está casado, não acha isso um bom sinal?
- E ele acabou de dizer que nunca se casou porque nunca encontrou mais ninguém com quem quisesse casar. “Mais ninguém!”, ou seja, ninguém mais além de você! – Isa completou com empolgação.
- Deixe de bobagem, Mad! – Anne também não ria mais – Você ainda gosta dele, está estampado na sua testa. E apostaria tudo que tenho como ele ainda gosta de você também.
- A gente sabe que foi horrível quando vocês terminaram, que você ficou péssima um tempão, mas já se passaram 13 anos – Manu falava paciente e Mad parecia se recompor – Não acha que vale a pena ver se ainda dá certo?
- E você nunca foi do tipo de correr de desafio, Madeline! O que aconteceu? Envelheceu e afrouxou? – Bel provocou, mas arrancou risadas de todas, até mesmo Mad.
- Ok, ok, vocês estão certas – disse ainda rindo e secando as lágrimas.
- Vai tomar uma providencia então? – Marie pressionou – Pode deixar o Evan aqui essa noite, sabe que Gabriela adora brincar com ele.
- Calma, não me apressa! – levantou da cadeira respirando fundo e abrindo a porta para a sala – Deixa as coisas acontecerem naturalmente...

ººº

Já passava da meia noite e o jantar chegava ao fim. Um a um os amigos iam arrastando os filhos do quarto, quase todos completamente alertas, e indo embora. Bernard voltou à sala com uma Heloísa sonolenta no colo e se despediu, deixando apenas Madeline e Gabriel com os donos da casa. Gabriela saiu do quarto com Clara, ambas rindo, e Clara abraçou Gabriel. Queria pedir alguma coisa.

- O que foi? – falou já rindo – Pede logo, anda.
- Posso ficar aqui? – disse sorrindo.
- De jeito nenhum.
- Ah tio, por favor!! – agora era Gabriela que pedia – Deixa a Clara dormir aqui hoje! Ela vai embora amanha, não custa nada. Deixa??
- Deixe-a ficar, Gabriel – Marie interveio a favor das meninas – Amanhã você pega ela, dá tempo.
- Deixa, deixa, deixa! – as duas fizeram coro e ele riu.
- Tudo bem então, mas não vai fazer bagunça!
- Mais do que a gente fazia é impossível, meu amigo – Ian brincou enquanto as meninas pulavam e corriam de volta pro quarto.
- E a senhorita não pense também que vai levar o Evan – Marie falou virando para Mad – Ele já está dormindo na cama do Michel, não vai fazer a maldade de acordar ele. Amanhã você volta e pega.
- Ele vai acordar de madrugada chorando, vai dar trabalho. É melhor eu levá-lo. Prometo que não vou acordá-lo.
- Gabriela e Michel já tiveram 2 anos, acho que sabemos lidar com isso, não é meu amor? – Ian disse apoiando a esposa.
- Certo, vocês venceram. Vamos embora de mãos vazias então, não é? – disse rindo para Gabriel.
- Só não posso chegar de mãos vazias no Brasil, ou minha mãe comete um homicídio.

Eles riram e se despediram, voltando para as ruas quase desertas de Paris à noite. Iam conversando no caminho sobre suas carreiras, até que chegaram à entrada do metrô da Champs-Elysées e Gabriel resolveu mudar o assunto.

- Tenho uma confissão a fazer... Eu estive aqui em Paris há dois anos e vi você.
- O que? – ela exclamou indignada – E por que não foi falar comigo?
- Estava aqui a trabalho, vim fotografar o casamento de uma grande amiga e ela queria algumas fotos no Jardim do Luxemburgo – começou a explicar – Enquanto ela se preparava, outra coisa me chamou a atenção. Uma mulher, não muito longe de onde estávamos. Ela estava claramente vindo do trabalho e brincava com uma criança de alguns meses. Quando olhei com mais atenção, vi que era você com o, agora sei, Evan.
- Eu lembro de uma noiva tirando fotos no jardim, mas não vi o fotografo. Mas por que não foi falar comigo?
- Porque quando vi vocês dois, pensei: ela se casou. Agora tem um filho e está feliz. E eu não ia suportar ir até lá e ser apresentado ao seu marido – confessou, mas depois riu – E sinceramente, estava até com medo de quem você pudesse me apresentar.
- Ah qual é? Achou que eu podia estar casada com quem? O Thierry? – ela falou indignada por ele continuar rindo.
- Não ele, mas você namorou uns tipos bem exóticos em Beauxbatons.
- Não se esqueça que também namorei você. Está se encaixando nos tipos exóticos?
- Não, eu fui sua salvação.
- Pro seu governo, o pai do Evan nem é bruxo! – ela agora ria, mas depois assumiu um tom sério – Ia gostar que tivesse ido falar comigo.

Se encararam sem dizer nada por segundos que pareceram uma eternidade. Mad parecia disposta a dar um passo, mas Gabriel foi mais rápido. Aproximou-se mais e segurou seu rosto, a beijando. E Mad envolveu os braços ao redor de seu pescoço, correspondendo a beijo.
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