quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Paris, Dezembro de 2012

- A piscina poderia ter cisnes, o que acha? Ah, não importa o que você acha, não entende de decoração de casamentos, vai ficar lindo! – minha mãe perguntou e ela mesma respondeu.
- Louise já está cuidando de tudo, mãe. E falta só um dia pro casamento, não acho que dê tempo de colocar cisnes na piscina, graças a Deus.
- Vou falar com ela hoje, a decoração precisa de mais vida.
- Christine, deixe a mãe do Gabriel em paz, por favor – papai interferiu a meu favor – Ela já está tendo um trabalhão para organizar tudo, não precisa de ninguém dando opinião.
- Mas eu sou a mãe da noiva, tenho direito de interferir!
- Mamãe, deixe a Louise em paz – levantei do sofá já com dor de cabeça – Não a irrite, por favor. Ela e as amigas já estão cuidando de tudo, não precisam de mais gente ajudando.
- Aonde você vai? Está muito cedo, Evan ainda nem acordou e você não tomou café!
- Papai vai ficar com ele hoje, vou tomar café com a Marie e depois vou passar o dia em La Force.

Antes mesmo que minha mãe pudesse responder já estava com a mão na maçaneta da porta, saindo da casa apressada. Adorava minha mãe, mas passar tanto tempo na companhia dela não me fazia bem, pois dava tempo para começar com suas criticas e opiniões sobre minha vida.

Era véspera do casamento e havia combinado de tomar café da manhã com Marie no nosso café favorito, como minha despedida dele. Ela já estava me esperando quando cheguei e ocupamos nossa mesa habitual.

- Quais os planos para hoje? – Marie perguntou se servindo de café.
- Vou passar o dia em La Force com Gabriel, longe da minha mãe.
- Ela está enchendo muito? – Marie riu.
- Ela quer colocar cisnes no jardim – ela riu mais ainda – Meu pai merecia uma medalha. Argh, o que colocaram nesse suco? – falei quase cuspindo o liquido de volta.
- O meu está bom – Marie provou do copo dela – Você está bem? Que cara é essa?
- Não sei, acho que é nervosismo, tenho andado enjoada – Marie me olhou com uma cara esquisita – Que foi?

Meia hora depois estávamos no meu apartamento e eu olhava ansiosa para uma tira de papel, nos 60 segundos mais longos da minha vida. Quando um sinal de positivo apareceu, Marie soltou um grito atrás de mim e me abraçou. Minha única reação foi começar a chorar, mas não de tristeza e sim felicidade. Uma felicidade que não poderia ser medida.

*****

As meninas chegaram a La Force por volta das 22h da noite e não ficaram nem cinco minutos. Foi só o tempo de cumprimentar as pessoas que também estavam lá e saíram me rebocando para fora. O destino era o Moulin Rouge. O motivo, minha despedida de solteira. Avisei que não queria uma multidão nos acompanhando, e por um milagre elas obedeceram, então éramos eu, Marie, Manu, Isa, Bel, Anne, Dora, Miyako, Rory, Evie, Shannon, Luna e Emily. Só as madrinhas do casamento. E essa turma valia por uma multidão em matéria de animação.

- Noite do Karaokê! – Isa chegou na mesa com o menu de musicas.
- Woooo! – todo mundo gritou junto, rindo em seguida. O combinado era que hoje seriamos as “wooo girls”.
- Primeira rodada de drinks! – Manu falou quando um garçom deixou a bandeja na nossa mesa e fizemos o “wooo” outra vez.
- Eu vou ter que ficar no suco, gente – Rory avisou recusando a bebida esfumaçada, apontando pros seios, mas fizeram o “wooo” assim mesmo.
- Vamos Mad, pegue logo a sua para brindarmos – Anne me estendeu a última taça da bandeja e olhei para Marie.
- Você vai ter que contar... – ela falou rindo – Não tem jeito.
- Contar o que? Contar o que? – Miyako só faltava se coçar de desespero – Contar o que???
- Eu não posso beber hoje.
- Por que não? – Miyako perguntou logo – Por que não, mulher?? Fale logo!
- Porque ela está grávida! – Marie não se aguentou e praticamente gritou.

Os “wooos” não eram mais suficientes, elas fizeram um verdadeiro escândalo dentro do Moulin Rouge. Todas me abraçaram felizes e queriam saber de quanto tempo eu estava, me encheram de perguntas. Segundo o médico que fomos ver as pressas depois do resultado do teste, eu estava com 6 semanas.

- Meninas, por favor, não contem nada a ninguém, ok? – implorei a elas – Quero contar ao Gabriel só quando já tivermos saído para a lua de mel e se vocês contarem aos fofoqueiros dos seus maridos, eles vão acabar dando com a língua nos dentes. Foi um sufoco passar o dia com ele sem falar nada, mas posso aguentar mais algumas horas.
- Tudo bem, vamos manter segredo, não se preocupe – Rory respondeu e todas concordaram com a cabeça – Mas quando vocês saírem da festa estamos autorizadas a contar, certo?
- Sim, ai vocês podem espalhar pra quem quiserem – e todas fizeram “woooo”, me fazendo rir.
- Bom, Mad e Rory não podem beber, mas podem cantar, não é? – Emily tomou o menu da mão de Isa e me entregou – Sei que você nunca precisou beber pra fazer algo que vá se arrepender depois, então qual vai ser a música pra abrir a noite?
- Cher! – falei decidida, levantando da mesa.
- Woooooo! – todas gritaram outra vez e subi no palco para cantar Believe.

A noite seguiu embalada pelo wooo. A cada vez que uma subia no palco, era aclamada por um wooo empolgado. Depois que desci, Manu subiu com uma taça na mão para cantar “Respect”, da Aretha Franklin. A coreografia acompanhava a música e arrancou muitas risadas e aplausos. Logo depois Isa e Bel pegaram o microfone para uma performance de “You are so vain” bastante aplaudida também. Rory e Emily foram logo depois para cantar “Girls Just wanna have fun” e levaram a maior seqüência de wooos da noite. A segunda maior seqüência ficou com Evie e Shannon, que cantaram juntas “Like a Virgin”, da Madonna, com direito a coreografia e tudo.

Marie e Anne tomaram várias doses de tequila antes de encararam o palco. Marie cantou, já na madrugada, “Dancing Queen” e Anne encarou o microfone para nos brindar com uma performance memorável de “It’s Raining Man”. Dora cantou “Material Girl”, Luna resolveu dar um pouco de classe e cantou “Hey Jude” e Miyako encerrou a primeira rodada de músicas cantando “Thriller”, em outra apresentação memorável.

Todo mundo cantou pelo menos umas três vezes. A cantoria rendeu até o Moulin Rouge fechar, fomos as últimas a sair da boate com o sol já quase raiando. Rory e eu éramos as únicas sóbrias, estavam todas pra lá de Bagdá e voltamos pra casa as gargalhadas. A noite ia ficar pra história.

*****

- Eu vos declaro marido e mulher.

O padre nos declarou casados e Gabriel me tomou nos braços, me beijando. Eu era oficialmente a mulher mais feliz do mundo, casada com o homem que nunca deixei de amar e esperando um filho dele.

A festa foi em um salão não muito longe da Catedral. Nossos padrinhos deram um show a parte na hora da sessão de fotos, ninguém obedecia as ordens do fotografo para se postarem direito e por fim ele acabou desistindo, entrando na brincadeira e batendo as fotos o mais descontraído possível. Nós não teríamos um álbum tradicional, isso era um fato.

Minhas madrinhas cumpriram o trato e não contaram a ninguém sobre a minha gravidez. Todos dançaram muito, comeram bastante e beberam demasiado. Ouvi muitos “woooo” na pista de dança e nem sempre saiam da boca de uma mulher. Cada vez que tocava uma das músicas que cantamos no karaokê, o álcool falava mais alto e as meninas começavam a gritar com empolgação e começavam a rir em seguida, ninguém entendia nada. E foi muito bom ver Evan entrosado com os novos primos, mesmo que todos bem mais velhos que ele.

Deixamos o salão já quase de manhã, fomos os últimos a sair junto com todos os padrinhos. Ninguém queria ser o primeiro a abandonar o barco e acabamos saindo todos ao mesmo tempo. Nos despedimos deles e já estávamos dentro do carro quando ouvi uma gritaria sem tamanho. Olhei rápido para trás e quando vi todos comemorando, sabia que elas já tinham contado.

- O que foi isso? – Gabriel riu vendo a bagunça que nossos amigos faziam.
- É que eu pedi que elas esperassem até que já tivéssemos saído para contar a eles, mas não conseguiram esperar nem o carro sair do estacionamento.
- Contar o que? – Gabriel tinha o mesmo ar desesperado da Miyako – Mulher, não faça isso comigo, sabe que sou curioso.
- Fiquei sabendo ontem pela manhã e queria esperar até que já estivéssemos no hotel para contar, mas... – peguei a mão dele e coloquei sobre a minha barriga. Sua expressão passou de curiosidade para surpresa em um segundo – Já tem 6 semanas.
- Você está grávida? – ele abriu um sorriso enorme quando confirmei e começou a rir, me abraçando e me beijando – Eu não achava que pudesse ficar mais feliz do que já estava, mas me enganei.
- Eu te amo.
- Eu também te amo.

Não havia mais nada que eu quisesse naquele momento. Eu já era a pessoa mais realizada do mundo.
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