Véspera do casamento
A véspera do meu casamento havia finalmente chegado. Nos anos que se passaram depois do meu rompimento com a Mad, meus amigos fizeram inúmeros bolões para tentar acertarem quando nós finalmente iríamos acabar com a, nas palavras deles, palhaçada e nos casarmos e hoje à noite eles iam abrir o envelope com as apostas e o vencedor receberia a bolada. Estávamos hospedados em La Force, a sede francesa do Clã Chronos comandada por Arturia, e o resto da turma chegaria até o fim da tarde, mas enquanto esperávamos, Mad e eu tentávamos ajudar minha mãe no que fosse preciso para que a noite seguinte fosse perfeita. Na verdade só ela estava ajudando, eu tentava não atrapalhar.
- Toda minha família já reforçou a confirmação de que virão ao casamento, então não vamos ter nenhum lugar vago por parte deles – Mad entregou a ela uma lista.
- E quanto aos nossos amigos, ninguém vai faltar, garanto – falei rindo.
- Ok, todos da nossa família confirmaram, segundo sua irmã, então essa questão está resolvida.
- Precisa que a gente faça alguma coisa para a decoração? – Mad perguntou.
- Na verdade, só preciso que você mantenha sua mãe longe. Se puder fazer isso, já vai ser de grande ajuda.
- Ai, ela está perturbando, não é? – Mad falou cansada, em tom de quem se desculpava – Ela está tendo problemas em aceitar o fato de que vou me mudar da França.
- Ela não está perturbando, mas suas tentativas de ajudar acabam me atrasando. Ela gosta de falar e temos muita coisa pra fazer, então se sua mãe pudesse não ajudar, Scott, Miriam e eu podemos terminar tudo mais rápido.
- Vou mantê-la longe daqui – mamãe sorriu agradecida – A propósito, ela ligou atrás de você, queria perguntar alguma coisa.
- O que deu na sua mãe, afinal? – perguntei confuso – Ela nunca foi muito com a minha cara, por que está me bajulando tanto?
- Porque, em suas exatas palavras, Evan não é mais um bastardo, ele agora tem um pai – Mad fez uma careta impaciente e a abracei, rindo.
- Sua mãe falou isso mesmo? – tio Scott perguntou incrédulo.
- Sem tirar nenhuma vírgula. Minha mãe é uma pessoa adorável, estou muito feliz por ir morar em outro continente – e todo mundo acabou rindo.
- Padrinho numero 1 na área! – Ty abriu a porta da sala fazendo bagunça e de braços abertos, como se abrisse ala pra ele mesmo.
- Madrinha também! – Rory entrou atrás dele, sem tanto estardalhaço, carregando um bebê no colo. Era Selene, que tinha acabado de nascer. Na mesma hora já estávamos todos ao redor dela, babando.
- Mas a madrinha número um sou eu! – Miyako entrou logo depois e me abraçou apertado – Meu menino cresceu e vai casar, que orgulho!
- Foi você que ganhou o bolão? – perguntei beijando sua bochecha e pegando Eicca no colo, que vinha no ombro de Tiago.
- Faz tanto tempo que apostei que nem me lembro mais, mas mais tarde vamos descobrir!
Depois de Ty, Rory e Miyako, o resto da turma começou a chegar um seguido do outro. Em instantes a sala da casa estava apinhada de gente, todos falando ao mesmo tempo e muito alto. Era como uma grande família italiana. Depois de alguns minutos de conversas cruzadas, mamãe deu um assobio alto e todo mundo parou de falar.
- Ok, tem muita gente aqui dentro e ainda temos um casamento pra terminar de organizar, então quem não se chamar Alex, Yulli, Sam, Miriam e Scott, rua!
- Não precisam mesmo da nossa ajuda? – perguntei.
- Querido afilhado, sua função é só dizer o nome certo no altar, seguido do Sim – tio Scott falou batendo no meu ombro e todo mundo riu.
- E você apenas mantenha sua mãe longe e aproveitem o resto do dia, porque amanhã vocês nem pra respirar terão tempo até a cerimônia terminar!
ººººº
Passei uma tarde muito agradável em La Force na companhia de Mad e dos meus amigos. Micah chegou com a esposa e os três filhos pouco antes do escurecer e Chris, Shannon e os gêmeos chegaram a tempo para o jantar. A única baixa era de Iago e Milla, que não poderiam vir já que o filho mais velho estava doente. Estávamos todos reunidos na sala de jogos quando Ty e Griff entraram chamando a atenção, carregando um envelope grosso nas mãos.
- Muito bem, lobão, vamos lá! – Ty passou por mim com o envelope e colocou em cima da mesa – Chegou a hora de saber quem ganhou o bolão!
- Opa! – Chris ficou de pé na mesma hora – Estou curioso, já não lembro mais minha aposta de data.
- Atenção, que rufem os tambores! – Griff começou a abrir o envelope e puxar o papel lentamente. Todos os envolvidos no bolão já estavam de pé, ansiosos.
- Anda logo com isso, Griffon! – Seth falou impaciente.
- Já digo que você não foi, irmão – Griff falou pra Seth – Você foi muito otimista, colocou 2004 – e Seth resmungou, frustrado.
- A pessoa que mais se aproximou da data foi... – Griff fez suspense outra vez e começamos a vaiar – Minha japonesinha favorita! – Miyako começou a pular na sala, gritando - Errou por 5 meses, mas chegou mais perto que todo mundo.
- Droga, eu coloquei 2015! – Ty conferiu o papel na mão de Griff – Poxa lobão, não podia esperar mais 3 anos?
- Ele já me fez esperar 12 anos, queria mais 3? – Mad fingiu indignação.
- O que são mais 3 aninhos, pra quem já esperou isso tudo?
- Ah, pare de reclamar, Tyrone – Miyako passou com o saco cheio de galeões e sacudiu na frente de seu rosto – Eu te pago um whisky de fogo com o prêmio.
- E ai, crianças? Chegamos atrasados pra festa?
A porta da sala de jogos abriu outra vez e uma verdadeira comitiva entrou: Ian, Marie, Samuel, Anne, Bernard, Bel, Viera, Manu, Isa, Dora, Sávio e Dominique invadiram a sala, todos arrumados pra sair. Numa fração de segundos, as mulheres já tinham se reunido e rebocavam Mad para fora da sala, mal dando tempo de nos despedirmos e deixando só os homens na sala.
- Elas já foram pra farra, agora é a nossa vez – Ian bateu no meu ombro, rindo.
- Nick, está pronto? – Ty olhou para Nicholas e ele ficou de pé, mas meio receoso – Relaxa, garoto. Está comigo, está com Deus.
- Vamos embora, cambada! Vamos embora que essa é a despedida de solteiro do lobão, então tem que ser legen- esperem... – Griff fez uma pausa de uns 5 segundos – DARY!
Começamos a rir e aos poucos esvaziamos a sala de jogos e, com a turma completa e pra lá de animada, caímos na noite de Paris. Griff tinha razão: pelo pouco que me recordo do que aconteceu naquela noite de bebedeira, ela foi mesmo lendária.
ººººº
Chegamos de volta a La Force já quase com o dia raiando e apesar de não lembrar de tudo que aconteceu na boate, lembro claramente de entrar na casa abraçado a Ty e Griff, e nós três entoávamos a plenos pulmões o hino de Beauxbatons, agradecendo a escola por nos ter apresentado a nossas mulheres. Também me lembro de Seth vir logo atrás, achando graça da cantoria desafinada e carregando um Nick que ria mais que uma hiena bêbada.
Não dormi nada e fui acordado pelo tio Scott, abrindo as cortinas do quarto sem dó nem piedade e com a claridade batendo nos olhos, fui obrigado a levantar. Não houve tempo para curtir ressaca e até tentei arrancar de Miyako alguma informação sobre a noite delas, mas em vão. Tudo que ela e Rory fizeram foi dar inicio a uma escandalosa sessão de gargalhadas com frases pela metade sobre a farra, só para me torturar.
O dia passou num piscar de olhos. Em uma hora estava almoçando com minha família e de repente, estava parado na frente da Catedral de Notre Dame vestindo um terno e conversando com Ty e Miyako. Minha mãe, tia Alex e tia Yulli comandavam a organização dos padrinhos e crianças que entrariam na igreja e chamei Clara para junto de mim.
- Nervoso, maninho? – ela perguntou debochada, irreconhecível em um vestido azul claro e toda enfeitada pela nossa mãe.
- Quero pedir um favor. Evan é muito pequeno para entrar sozinho na igreja com as alianças, pode começar a correr de repente, e a mãe acha melhor alguém entrar com ele. Ela pensou em colocar uma das daminhas, mas quero que seja você.
- Eu? Na frente da igreja inteira?
- Sim, você, minha única irmã que eu tanto amo – apelei pra chantagem emocional e Ty e Miyako riram – E desde quando tem vergonha?
- Não tenho vergonha, eu topo. Só preciso conduzir ele até vocês, certo?
- Isso. Não tropece, por favor.
Ela mostrou a língua e saiu de perto para se juntar ao resto das pessoas que mamãe organizava. Seth e Luna já estavam a postos, assim como Rory, Evie e Tiago, mas Griff, Emily, Micah, Shannon e Chris não paravam de circular e deixavam tia Alex nervosa. Do lado da Mad, toda nossa turma de Beauxbatons já estava organizada. Marie se aproximou logo depois, dizendo que Mad já havia chegado e era hora de começar a cerimônia, e mais uma vez tudo passou numa fração de segundos. De uma conversa descontraída com meus melhores amigos, de repente fui parar alinhado na entrada de uma imensa catedral com o braço junto com o de minha mãe e depois já estava no altar diante de todos os meus amigos.
Quando a música que havíamos escolhido começou a tocar, pela primeira vez em muitos anos, me senti nervoso. Mas quando as portas da catedral tornaram a abrir e vi Mad linda como nunca havia visto antes em um vestido de noiva, entrando lentamente ao lado de seu pai, percebi que era um nervoso diferente. Era a ansiedade de estar diante da visão da mulher que você amava vindo em sua direção, sorrindo, pronta para todo um futuro que nos aguardava. Naquele momento eu soube: Eu era o homem mais feliz do mundo.