quarta-feira, 24 de junho de 2009

Levantei da mesa tropeçando nas vestes e depois de receber um olhar de apoio de minha mãe, sai com Gina e Reno do salão principal sob uma chuva de aplausos de todos os alunos. Caminhamos ao lado de Fedorovitch até a orla da Floresta Negra e paramos do lado de um pequeno palanque de onde o diretor falaria com a platéia. Alguns minutos depois, vi as arquibancadas montadas ao redor da orla começar a encher. As vozes empolgadas dos alunos iam enchendo o ambiente e vi de longe meus amigos acenarem enquanto estendiam uma enorme faixa azul com o brasão de Beauxbatons.

Quando as arquibancadas já estavam lotadas, a professora McGonagall, madame Maxime e o professor de Trato de Criaturas Mágicas chegaram à orla acompnhados do diretor Ivanovich e se aproximaram de Fedorovitch. Eles usavam grandes estrelas vermelhas e luminosas nos chapéus. O diretor estendeu três rolos de pergaminho e entregou um para cada, com nossos nomes gravados na fita que os prendiam. Parecia que tinham conteúdos diferentes.

- Tudo que vocês devem fazer é encontrar a Taça, localizada no centro da floresta – Fedorovitch começou a explicar – Cada um recebeu um mapa, de acordo com sua posição no torneio. Os mapas são diferentes, cada um possui seu grau de dificuldade, mas todos têm chances iguais para chegar ao centro da floresta. No canto de cada mapa tem uma seqüência numérica. Entendam o que elas significam e poderão ter uma ajuda extra para vencer, mas se a usarem de forma errada, podem acabar se complicando, então fica a critério de cada um arriscar. Cada campeão deve seguir a trilha demarcada no seu mapa, não poderão seguir pela trilha do adversário. Se saírem do caminho correto, encontrem uma forma de voltar. O primeiro a chegar até a Taça, vence. Alguma dúvida? – olhamos um para a cara do outro e negamos.
- Vamos patrulhar o lado externo do labirinto. – disse a professora McGonagall – Se estiverem em apuros e quiserem ser socorridos, disparem faíscas vermelhas para o ar e um de nós irá buscá-los, entenderam? – e assentimos com a cabeça.
- Podem começar, então. - disse Fedorovitch para os três patrulheiros e eles saíram em diferentes direções para se postar em torno da orla da floresta.

O diretor aguardou até que os três já estivessem a postos e apontou a varinha para a garganta, murmurando "Sonorus". Sua voz magicamente amplificada ressoou pelas arquibancadas.

- Senhoras e senhores, a terceira e última tarefa do Torneio Tribruxo está prestes a começar! – ele disse animado e as pessoas na arquibancada batiam os pés no chão, empolgados – Deixe-me lembrar a todos o placar atual: Em primeiro lugar, com oitenta e cinco pontos, o Sr. Renomaru Kollontai, do Instituto Durmstrang! – O barulho da torcida de Durmstrang foi tão grande que alguns pássaros saíram voando da floresta – Em segundo lugar, com oitenta pontos, a Srta. Gina Weasley, da Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts! – mais aplausos da torcida de Hogwarts e também de alguns amigos de Beauxbatons e Durmstrang – E em terceiro lugar, com setenta e cinco pontos, o Sr. Gabriel Lupin, da Academia de Magia Beauxbatons! – agora a gritaria foi enorme, meus amigos conseguiam fazer escândalo mesmo estando em minoria, e acabei rindo e relaxando um pouco – Campeões a postos, quando eu apitar podem começar – anunciou – Três, dois, um...

O diretor soprou com força o apito e saímos os três aos atropelos, correndo cada um para a entrada da sua trilha. Abri o mapa e localizei o caminho que deveria tomar, entrando na mata rapidamente. Segui o caminho certo por cerca de 20 minutos, sempre me orientando com o feitiço dos quatro pontos e repelindo criaturas pequenas que surgiam no caminho, mas fui pego de surpresa por um bicho que parecia um tronco de arvore. Ele era tão parecido com um pedaço de madeira que pisei nele e não senti, recebendo uma mordida como resposta. O bicho, que reconheci depois como um Cava-Charco, avançou para cima de mim enfurecido e fui obrigado a me embrenhar entre os arbustos e árvores para me livrar dele, já que nenhum feitiço parecia atingi-lo. Corria olhando para trás para me certificar de que ele não estava me seguindo e acabei trombando com alguma coisa no caminho. Cai no chão e quando ajeitei os óculos, percebi que havia invadido a trilha da Gina e trombado com ela e Reno, ao mesmo tempo.

- O que estão fazendo na minha trilha? – Gina perguntou recolhendo seu mapa do chão e estendi a mão para ajudá-la a levantar.
- Acho que me confundi com essas marcações – Reno respondeu consultando o mapa – Devia ter dobrado a direta, não à esquerda. Droga!
- Eu estava fugindo de um bicho com dentes muito afiados – e mostrei a mão sangrando.
- Homens sempre se perdem... – ela disse revirando os olhos – Bom, tratem de voltar pro lugar certo, não podem seguir daqui e estão perdendo tempo.
- Até a premiação! – Reno dobrou o mapa e sumiu na mata outra vez.

Me despedi também e voltei para o lado de onde havia saído. Enfim todos os verões perdidos no acampamento dos escoteiros mirins serviriam de alguma coisa, pois não encontrava dificuldade para ler mapas e não demorei a encontrar minha trilha novamente. Já de volta a ela, parei por um minuto para olhar o mapa com mais atenção e só então prestei atenção na seqüência numérica gravada no alto do pergaminho, entendendo que aquilo eram a latitude e a longitude da taça. Agradeci por ter prestado atenção às explicações que o meu instrutor dos escoteiros deu sobre o assunto e logo já sabia exatamente para que lado deveria ir e se estava longe do meu objetivo.

Voltei a correr pela trilha afastando os animais que apareciam, que iam desde barretes vermelhos a crupes nervosos, que rasgaram a barra da minha calça antes de serem atingidos por um feitiço que lancei. Já devia estar correndo há mais de meia hora desde que havia encontrado Gina e Reno e parei para consultar o feitiço quatro pontos, mas quando coloquei a varinha na palma da mão, fui atingido pelas costas por algo duro e cai no chão. A varinha escapou dos meus dedos e quando virei de frente, dei de cara com o Cava-Charco outra vez. Ele avançou antes que pudesse fazer qualquer movimento e cravou os dentes no meu tornozelo. Gritei de dor e agarrei o pêlo dele com as mãos, tentando fazer com que ele me soltasse, mas sentia seus dentes afundarem na minha pele cada vez mais. Ele tentava me arrastar para fora da trilha, mas consegui passar a mão em um pedaço de galho de árvore e comecei a golpeá-lo com ela, até que ele me soltou. Agitava o galho rápido na direção dele e ele acabou recuando, fugindo de vez quando atirei o pedaço de madeira na sua direção.

Assim que ele desapareceu, levantei para apanhar a varinha, mas cai no mesmo instante. Quando firmei o pé no chão, senti uma dor fora do comum que forçou minhas pernas a cederem. Puxei a calça para ver o ferimento causado pelos dentes do bicho e sangrava tanto que meu tornozelo começava a ficar esverdeado, já abandonando o tom de roxo. Não ia conseguir andar daquele jeito e engatinhei até onde minha varinha estava caída, apontando para o tornozelo.

- Férula – algumas ataduras saíram da ponta da varinha e envolveram o ferimento, estancando um pouco do sangue que escorria – Orienta-me – disse com a varinha na palma da mão e ela apontou pra direita.

Limpei os óculos e o ajeitei no rosto, olhando na direção que ela indicava. Não muito longe dali, a pouco mais de 100 metros, vi um brilho.

- Lumus – apontei na direção do brilho e então eu vi. Brilhando no alto de um pedestal, estava a Taça Tribruxo.

Guardei a varinha no bolso e alcancei um galho acima da minha cabeça, me erguendo outra vez me equilibrando em um pé só. O brilho da taça era mais visível agora, e segurei firma na arvore, descendo o pé machucado devagar. Quando o encostei chão, minhas duas pernas tremeram violentamente. Mas mesmo com toda a dor, não o levantei outra vez. Se quisesse pegar a taça, teria que correr. Respirei fundo e consegui me equilibrar de pé, soltando o galho que me ajudava a não cair. Respirei fundo outra vez e comecei a correr.

A cada pisada que dava, sentia meus olhos encherem de lágrimas de tanta dor que sentia, mas não podia parar. Gina ou Reno podiam aparecer a qualquer momento e não me perdoaria se perdesse aquela corrida, não quando estava tão próximo! Podia sentir meu tornozelo inchando e o sangue passando por cima da atadura e quando parei a um passo do circulo que guardada o pedestal, meu rosto já estava molhado de lágrimas involuntárias que caiam sem que eu percebesse.

A taça estava na minha frente, brilhando tão forte que iluminava toda a clareira. Olhei para trás e não havia sinal de nenhum dos dois, sequer havia barulho. Olhei para frente outra vez e fitei a taça. Dei mais um passo a frente e, com as duas mãos, segurei suas alças. Naquele momento já nem sentia mais a dor no tornozelo, sentia apenas a alça gelada da taça na palma da minha mão. E assim que a toquei, faíscas multicoloridas saltaram detrás dele, indicando que a ela havia sido capturada. Tirei-a do pedestal e a encarei com um sorriso no rosto. Naquele instante, segurando-a nas mãos, me vi saindo do labirinto vitorioso e erguendo-a diante de toda a escola. Eu era o campeão do Torneio Tribruxo.
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