domingo, 8 de março de 2009

- Trouxe tudo, calouro? – Chris perguntou quando Filipe fechou a porta do quarto, ofegante.
- Sim, está tudo aqui – ele estendeu uma sacola e Chris tomou de sua mão, conferindo o conteúdo.
- Por que está esbaforido, calouro? – Ivan olhou para ele com um sorriso sarcástico
- Aurores. Volta. Longe. – Filipe respondeu apoiando as mãos no joelho e de cabeça baixa, tossindo.
- Ok, respira, vai beber uma água – Micah bateu nas costas dele e Wes o levou pra fora do quarto.
- Está tudo pronto então? – Ty perguntou olhando para Ivan.
- Não quero apressar ninguém, mas os aurores vão fazer a troca de turno agora e temos só 1 minuto para passar, até que o novo se posicione – Victor falou olhando pelo canto da janela
- Calouro Ricard, vá buscar o resto dos calouros na cozinha – Nicolas calibrou a arma de brinquedo que segurava e a jogou no ombro – Estamos prontos. Hora do ataque.

Carregamos as armas também, cada um pegou um capuz preto de dentro do saco que Filipe trouxe e cobrimos o rosto, saindo do quarto escuro. Sabíamos que os garotos da Chronos estavam nos esperando, mas tínhamos tudo planejado.

*****


Estávamos deitados na grama com as armas na mão, atentos às orientações passadas por Ivan só por meio de sinais. As luzes da república já estavam apagadas e sabíamos que isso não significava que estavam dormindo. Por certo quando entrássemos íamos topar com alguns garotos defendendo o forte. Ele fez sinal para que os calouros mais novos fossem na frente e esperamos nossa vez. Fiquei observando os garotos de 11 anos rastejando pela grama e encostando-se à parede do lado de fora, quando Filipe bateu na porta e se escondeu de novo.

Foi tudo rápido demais. Vimos a porta abrir e Arthur apareceu com trajes camuflados. Fiquei de pé atrás da moita onde me escondia e acertei um tiro de tinta bem no meio da cara dele. Ele caiu pra trás e os garotos menores saíram do chão, entrando correndo na casa e atirando pra todos os lados. Mas foi um massacre. Os garotos da Chronos saíram dos esconderijos e em menos de 5 minutos derrubaram nossos calouros. Diante da falha inicial, foi a nossa vez de invadir a casa. Ivan levantou já correndo na direção da porta e o seguimos, entrando pelas janelas e onde mais tivesse espaço.

A sala da república se transformou em uma pintura abstrata em questão de segundos. Ricard transportou os calouros da Spartacus para fora da casa em segurança e partimos pra cima deles sem dó nem piedade. O objetivo era levar o quadro do Deus Chronos como refém e Victor e eu ficamos encarregados dessa tarefa, enquanto os outros nos davam cobertura. Localizamos o alvo no centro da parede principal, em destaque, e protegido por alguns garotos. Mas eram todos calouros e não tivemos problema em derruba-los. Victor guardou o quadro em uma sacola e corremos de volta para a porta, as bolas de tinta batendo nas costas e machucando, mas não podíamos parar.

- Todo mundo pra fora! – ouvi Ivan gritar enquanto atirava em Reno – Recuar, recuar!
- Obrigado pela recepção, pessoal – Griffon falou debochado, acertando um ultimo tiro em Reno antes de sair correndo porta afora.

Os garotos ainda correram até a porta disparando tiros de tinta, mas já estávamos longe e se aproximando da nossa república, e eles não sabiam se era seguro nos seguir, então ficaram para trás. Hoje a vitória foi nossa.

*****


Depois do bem sucedido ataque a Chronos, saímos para as aulas do dia seguinte animados. O clima de “somos melhores que vocês” era nítido e não sentíamos nem um pouco de vergonha em nos acharmos superiores, afinal, aquela era toda a graça da guerra das republicas: se achar melhor que o outro. E apesar de terem perdido a batalha da noite anterior, sobrevivemos a todo o dia de aula sem incidentes com algum aluno da Chronos. Mas a trégua não durou até o anoitecer. E ter uma aula do clube dos duelos justamente naquele dia foi decisivo para o barril de pólvora explodir.

- Não quero feitiços surpresas hoje, vamos treinar apenas a defesa – o professor Marko passava entre as duplas formadas dando instruções – Um ataca apenas com a azaração do impedimento e o outro defende. Lancem a azaração sem intervalos, vocês precisam estar preparados para ataques múltiplos.
- Pronto, lobão? – Ty perguntou apontando a varinha pra mim – Vou mandar chumbo pesado.
- Manda ver! – respondi com a varinha a postos.

Esperamos o sinal do professor e quando ele autorizou, Ty começou a lançar o Impedimenta em cima de mim, sem parar. Estava conseguindo rebater todas elas sem problemas e já começávamos a rir no meio do duelo, quando senti um impacto nas minhas costas e fui jogado para fora do tatame, derrubando Griff no caminho. Levantei ainda atordoado pela pancada e logo de cara vi Arthur rindo, a varinha apontada na direção onde estava antes. Foi como somar 2 + 2. Griff e Ty somaram também e tentaram me segurar, mas já levantei correndo na direção dele e desferindo um soco certeiro. Esqueci completamente que possuía uma varinha e podia usá-la para derrubá-lo. Uma roda rapidamente se formou na sala e enquanto uns gritavam para alguém nos separar, a maioria instigava a briga.

- EXPULSO! – um jato me atingiu e pela segunda vez fui lançado para longe – Detenção! Os dois! É um clube de duelos, não clube da luta trouxa! Levantem do chão e podem sair, a aula terminou para os dois! Ty, Reno, acompanhem os dois até a enfermaria para cuidarem dos machucados.

Ty me ajudou a levantar do chão e peguei a varinha caída, guardando no bolso. Encarei Arthur de lado e ele me encarou de volta, mas Reno já estava segurando seu braço pronto para torcê-lo se tentasse alguma coisa. Ty apenas me olhava sério, mas sabia que ia fazer o mesmo se eu voltasse a atacá-lo. Eles nos escoltaram até a ala hospitalar e a enfermeira mal humorada expulsou os dois, mas eles disseram que iam esperar do lado de fora. Sentamos cada um em uma cama em silencio e evitava olhar para ele, pois sabia que podia perder a calma outra vez.

- Você é um babaca, sabia? – Arthur falou de repente e o encarei
- Eu? – perguntei indignado – Foi você que me atacou do nada!
- E você ontem deu um tiro de tinta na minha cara!
- E isso lhe dá o direito de me atacar pelas costas? Grande covarde, é o que você é!
- Se eu sou um covarde, você é um grande imbecil que se faz se herói e digno de representar sua escola no torneio, mas é um egocêntrico, só olha para o próprio umbigo! Não está nem ai pras pessoas ao redor, o mundo gira em torno de você!
- O que você fumou hoje? – perguntei irritado, mas um estalo ocorreu e comecei a rir – Você está revoltadinho assim porque eu deixei você amarrado dentro do lago? Sério?
- Bom, mostrou que você não tem caráter, foi ótimo ter me deixado lá!
- Se quer saber, não senti nem uma ponta de arrependimento. E também, por que está tão irritado? Nem sou seu amigo, eu não gosto de você, por que deveria salva-lo sabendo que não estava em perigo?
- Eu teria tirado você do lago.
- Por quê? Você também me odeia, ia querer fingir quem não é e sair de herói?
- Eu faria porque era o certo a se fazer!
- Você não vai me fazer sentir remorso, desiste. Só teria arriscado estourar o tempo da prova com pessoas com quem me importo, e não é o seu caso.
- Não esperava mesmo que sentisse remorso, não é do sei feitio...
- Você está morrendo de inveja porque não foi selecionado como campeão de Hogwarts, perdeu para uma garota, por que não admite logo?
- Cala a boca! Você não sabe do que está falando! – e soltei uma risada, o que o irritou ainda mais.
- Eu dei autorização para conversarem? – a enfermeira voltou com dois frascos de poções na mão e algumas gazes e interrompeu a discussão – Sentem de frente pra mim e calados!

Virei de costas pra ele e ainda pude ouvi-lo resmungar alguma coisa, mas ignorei por completo. Quando a enfermeira terminou de limpar os machucados, agradeci e sai sem olhar para trás, indo com Ty direto para o clube de transfiguração, do qual Arthur não fazia parte, fato que agradeci. Não estávamos mais suportando a presença constante um do outro e sabia que agora o melhor era evitar esbarrar com ele pelos corredores o máximo que fosse possível, assim evitaríamos novos confrontos...
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