- Andem depressa. Miyako, Gina, fiquem perto! – falei agitado, olhando para trás agarrando a mão de Gina e Ty correu para segurar o braço de Miyako – Griff, não deixe a B se afastar! Se nos perdermos, estou indo para a direção daquele relógio gigante – disse apontando para a torre da Central do Brasil – Esperem por mim nela!
Os quatro assentiram com a cabeça e apertei o passo, puxando Gina. Atravessávamos uma enorme avenida e à medida que íamos nos aproximando da única área aberta para cruzar até a entrada do sambódromo, a confusão de gente ia aumentando. Um ano tio Scott ficou para trás porque deixou a bolsa cair e nos perdemos dele, encontrando só uma hora depois, já no camarote. Ty e Griff caminhavam tentando não me perder de vista, mas pareciam duas baratas tontas, olhando para todos os lados vendo as mulheres passando com pouca roupa na rua. As meninas reviravam os olhos vendo os dois babando e ria dos resmungos que ouvia.
Não foi nada fácil, mas conseguimos passar pela multidão que tomava conta da rua carregando os sacos com nossas fantasias. Andamos mais um bom pedaço, eu tendo que ouvir Gina e Beatrice se queixando que era longe e poderíamos ter aparatado, até que chegamos aos portões que davam acesso as frisas. Eram cercados para seis pessoas que ficavam no nível da pista, teríamos uma visão privilegiada dos desfiles. Meus pais, tio Scott, tio Ben, Nick e tio Renato iam ocupar a frisa do lado da nossa e já estavam lá quando chegamos.
- Por que demoraram tanto? – mamãe perguntou aliviada ao ver que tínhamos chegado – Vocês disseram que iam sair logo depois!
- Íamos, mas eles não queriam sair da praia, acabamos nos atrasando – respondi olhando pros cinco, largando minha fantasia no chão.
- Estamos passando frio naquela geleira e você quer nos privar de alguns minutos a mais no sol? – Griff fingiu indignação e eles concordaram.
- Bom, vocês chegaram na hora certa, já vai começar – tio Scott apontou para o início da passarela e vimos os fogos estourando no céu, ao mesmo tempo em que o cronômetro da pista era zerado.
Ocupamos nossos lugares e logo a primeira escola entrou. Durante toda a noite, ficava dividido entre prestar atenção no desfile e observar as expressões no rosto dos cinco. Eles olhavam tudo que passava fascinados, mal piscavam, principalmente os meninos. A cada mulata que passava em cima de algum carro ou no chão, eles me cutucavam e apontavam, batendo palma para elas. As meninas aproveitavam para encarnar neles, dizendo que eram todas montadas, que era impossível uma pessoa ser daquele jeito sem ter feito nada, e eles vaiavam elas quando ouviam esse tipo de comentário. Já haviam passado quatro escolas e estava na hora de sairmos da frisa para caminhar até a concentração. Íamos desfilar pela Mocidade, minha escola, e era um longo caminho até onde ela estava se arrumando. Saímos os seis carregando a sacola com a roupa e tio Scott e tio Ben nos acompanharam.
Nossa fantasia se chamava “O caminho das águas” e era toda azul, o que animou mais ainda Ty, Mi e Griff. Procuramos a posição dela entre os carros e tio Scott foi quem viu primeiro algumas pessoas usando a mesma roupa, apontando para a direção delas e nos guiando até lá. Fazia seis anos que não pisava naquela concentração, vestido como um maluco e cercado por aquela atmosfera louca que era os minutos antes de um desfile começar. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta. Estava tão feliz de estar de volta que me distrai olhando a movimentação das alas e nem percebi que tio Ben e tio Scott já haviam socorrido meus amigos e já estavam todos vestidos, prontos para desfilar.
- Acorda, Gabriel! – tio Scott me sacudiu, rindo – Estava olhando o que?
- Nada especifico – dei de ombros, sorrindo – Só olhando mesmo.
- Sei que sentiu falta, então aproveite hoje – ele sorriu de volta e passou a mão pelo meu ombro – Vamos, já estão começando a organizar a ala.
- Ora, ora... – ouvi uma voz conhecida e o sorriso evaporou do meu rosto – Olha quem está de volta ao carnaval!
Virei para trás e dei de cara com Arthur, meu vizinho intragável. Ele também estava usando a roupa da nossa ala e tinha um sorriso debochado no rosto que tive vontade de socar. Nos conhecemos desde crianças e nunca suportamos um ao outro. Tio Scott, sabendo disso, colou do meu lado e me encarava atento. Ty e Griff perceberam a tensão e já começavam a se armar, mas tio Ben os olhou severo e eles relaxaram.
- Está brincando, não é? – falei olhando atravessado para ele
- O que foi? Não posso desfilar? – ele deu de ombros, rindo.
- Você nem torce pela Mocidade, não tinha fantasia pra você na sua escola não?
- A minha desfila amanha, não vou estar aqui, assim como você. E relaxa, campeão de Beauxbatons, estou pagando, desfilo onde quiser. Você é o dono da escola, por acaso? – ele passou do meu lado e esbarrou na minha fantasia. Na mesma hora parti pra cima dele, mas tio Scott me segurou.
- Arthur, é melhor encontrar um lugar mais lá atrás – tio Scott falou em tom de aviso.
- Como quiser, Sr. Foutley – ele respondeu acenando com um sorriso besta no rosto e sumiu no meio das pessoas da ala
- Odeio esse garoto! – falei irritado e tio Scott ainda me segurava – Pode me soltar, não vou atrás dele.
- Tem certeza? Se for e começar uma briga no meio da concentração, sabe que os diretores de harmonia vão botar os dois pra fora, não é?
- Sim, sei, por isso não vou lá – respondi ainda irritado e ele me soltou – Eu pego ele na escola, ele que me aguarde.
- Quem é esse otário? – Ty se aproximou e perguntou procurando Arthur no meio das pessoas
- Arthur Lewis – Gina se aproximou também e respondeu por mim – Ele é da minha turma, Grifinória também. Gabriel e ele não se entendem muito bem.
- É, deu pra perceber – Miyako falou – Mas esquece esse mané, Biel. Vamos animar, o desfile vai começar, ouvi aquele homem ali dizer!
Sorri mais animado esquecendo o idiota e logo um diretor da ala começou a nos organizar em filas de oito pessoas. Ficamos todos na primeira fila, íamos puxar a ala inteira, a responsabilidade era grande. Ele mandou que déssemos as mãos para não desfazer a linha e começamos a andar devagar, para nos posicionarmos atrás do carro. À medida que íamos nos aproximando do setor 1, minha mão começava a suar. Miyako, que segurava ela, começou a rir, mas acabei deixando ela nervosa também, pois um minuto depois ela ficou séria, encarando o carro na nossa frente sem piscar. Mas quando vi os fogos iluminarem o céu escuro, ouvi a sirene tocar e o grito de guerra da escola ecoar por toda a concentração, fazendo os componentes gritarem empolgados, o nervosismo passou. Aquela era, sem duvida, a sensação mais louca do mundo. Olhei para meus amigos sorrindo animado e eles começaram a pular. A escola andou e assim que viramos no setor 1, vimos as arquibancadas lotadas, gritando e agitando bandeiras. A pista vazia, apenas esperando que a atravessássemos e deixássemos nossa marca. E isso sem duvida nos faríamos. Sabia que a segunda tarefa do torneio era em dois dias, mas naquele momento, não estava ligando. Tudo que importava era atravessar aquela pista, como sempre fiz. E como sempre ia fazer. Nunca mais ia deixar de pisar naquele chão.
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