quarta-feira, 6 de maio de 2009

Culpa

“Eu escolhi o caminho das Sombras. O caminho que trilho é cheio de trevas, onde a cada novo passo me deparo com solidão e dor. Este é um caminho perverso onde, com um passo em falso, posso mergulhar na mais profunda angústia, na pior das loucuras, entregando-me à insanidade e tornando-me um vetor de destruição. Um louco monstro descontrolado e não mais uma fina lâmina fatal. Para trilhar esse caminho maldito, porém, preciso de algo que me mantenha íntegro, são. Num mundo onde nem mesmo o rubro de meus olhos brilha, o que me mostra o caminho é um farol, e o que mantém esse farol acesso é o amor. O que me permite vagar pelas trevas eternas sem medo de me perder é o amor de meus amigos, de minha família e o forte facho de luz chamado Luna.”

- ‘Sobre a Escuridão’, Seth Kamui Capter Chronos.


Das lembranças de Seth K. C. Chronos

A Greve havia sido um sucesso! Todas as pessoas que assinaram a lista que eu circulei pela escola compareceram à greve, sem exceção. Para dizer a verdade, todos os alunos de Durmstrang, assim como os alunos hospedados na escola de Beauxbatons e Hogwarts participaram da greve. Na hora marcada, centenas de alunos saíram de suas salas indo para o campo de quadribol, e ficamos lá por 22 horas. Sofremos com o frio, a fome e a pressão psicológica do Ministro Búlgaro, porém todos estavam unidos e se apoiando e todos resistiram até o fim. Apenas a Evie não resistiu, e algo me dizia que foi algo mais sério do que ela nos contava.

Luna e eu passamos o tempo todo da greve juntos, conversando com nossos amigos enquanto esperávamos o tempo passar e o Ministro desistir. Ela estava animada, extremamente feliz em participar da greve, e a todo o momento falava que tudo ia dar certo, eu sabia disso também, principalmente depois que soube que Tio Quim estava se movimentando para nos ajudar. Não quis falar para ninguém, mas desde o início eu sabia que daria certo.

Em certo momento, muitos alunos dormiam, enquanto tentavam se aquecer de alguma forma, e eu era um dos poucos acordados, pois poderia ficar ali dias sem me importar. Eu abraçava Luna, enquanto a mantinha aquecida e ela dormia em meus braços. Eu usei esse tempo “sozinho” para vagar novamente pelas lembranças de Isaiah, revendo suas memórias e conhecendo seu passado. Buscava informações sobre Cadarn e Gustav e conseguia muitas coisas importantes. Em breve eles me pagariam por tudo que fizeram a todos os meus amigos, e principalmente à Luna... Eu já a deixara sofrer uma vez, sem ter feito nada. Agora, nada nem ninguém me impediria de mantê-la em segurança.

Eu sentia algo estranho. Parecia que eu tentava ver o futuro, mas não conseguia com exatidão. Muitas coisas estavam em andamento, muitos sentimentos e emoções em movimento. Uma delas eu tinha certeza que era à saída do Ministério, porém havia a chegada de novas pessoas, e eu não sabia quem seriam elas. Isso me preocupava, pois não conseguia identificar o que realmente estava por vir. E eu sentia uma forte mudança de humor na direção de mim e de Luna, e me deixava muito preocupado. Porém deve ser a sina daqueles que vêem o futuro: eles se perdem tanto em visões que são incapazes de ver o próprio caminho. Eu não era uma exceção, e às vezes tinha dificuldade de ver o que aconteceria comigo. Mas isso eu considerava um alívio, pois viver sabendo o que está por vir é uma das maiores torturas que pode haver.

No dia seguinte após o final da Greve, quando Tio Quim, Tio Wayne e o Sr. Igor Stardust chegaram a Durmstrang e após uma conversa séria com o Ministro Búlgaro, liberaram os alunos da ditadura do ministério, os únicos aurores ainda presentes na escola eram os aurores do clã. Os alunos, porém não reclamavam deles, até agradeciam sua presença, pois deste o ataque à escola, muitos ainda tinham medo de um novo ataque, e os aurores do clã faziam a segurança. Isaac era o líder deles e nos deu os parabéns pela iniciativa da Greve.
Era de noite, para ser mais exato, estávamos todos conversando e jantando no grande salão principal, quando senti novamente a chegada de novas pessoas. Eu as reconheci de imediato, e abri um sorriso ao mesmo tempo em que já começava a ficar sem graça. Todas as cabeças, sem exceção, fossem elas de homens ou mulheres, de alunos ou professores, viraram para as grandes portas, sendo eu o único a não olhar. Griffon e Ty pareciam prestes a babar, principalmente o Ty, que tinha um olhar vago e sonhador. O mesmo olhar estava nos olhos de todos os outros garotos, e inclusive nas garotas. Luna sorriu para mim, pois ela já sabia quem era, na verdade ela estava curiosa para conhecê-los. Eu senti as centenas de olhares seguindo duas figuras que se encaminhavam para onde eu e o resto do pessoal estávamos sentados, e me virei quando ela me puxou para um forte abraço, me beijando no rosto. Era Cewyn.

- Seth, querido! – Cewyn riu sua voz fazendo os corações de todos acelerarem. Ela continuava abraçada a mim, até eu retribuir o abraço. Vi como os outros garotos me olhavam com certa inveja.
- Olá Cewyn, o que faz aqui? – Eu perguntei, corando.
- O que mais? Vim ver você! – Ela falou, sorrindo para mim. Agora se os outros tinham alguma dúvida de que eu e ela tínhamos algo, essas dúvidas desapareceram.
- Você está deixando ele sem graça, querida! Todos queriam estar no seu lugar não é? – Derfel falou ao meu ouvido, rindo enquanto me abraçava também e depois abraçava alegre Griffon e Ty.
- Deixem-me apresenta-los. Estes são Miyako, Gabriel, Evie, Micah, Chris, Reno, Milla, Annia, Gina, Ricard, Victor e Vina, são nossos amigos. E esta é Luna, minha namorada. Pessoal, estes são Cewyn e Derfel. Já falamos deles para vocês. – Eu falei, apresentando-os. Cewyn sorriu para todos e senti a pulsação dos garotos saltar, enquanto Derfel apertava a mão de todos com largos sorrisos. Todos balbuciaram apresentações e sorrisos, mais ainda tinham uma expressão de encanto no rosto, principalmente os garotos que não tiravam os olhos de Cewyn. Eu não os culpava, pois ela é uma das mulheres mais belas que conheço.
- Obrigada, Seth. – Ela sorriu pra mim, lendo meus pensamentos. – Voltaremos em breve, precisamos falar com o Diretor e com o Isaac ainda.
- Voltem logo! – Ty falou com os olhos sonhadores seguindo Cewyn.
- Ty, você ta babando... – Griffon brincou, pegando um guardanapo para ele.
- Você também Griffon! Espera só ela ficar sabendo... – Miyako falou rindo, deixando no ar sobre Emily, e fazendo Griff ficar com ar convencido.
- Mas a Emily treme nas bases quando vê o Derfel! Ela disse que ele é O Cara! Educado, forte, corajoso, engraçado e L-I-N-D-O! – Ty provocou imitando a voz de uma garota, soltando um suspiro e deixando Griffon carrancudo e ciumento.
- Todos estão babando! Uau! Ela existe mesmo ou isso foi um sonho?! – Ricard perguntou, enquanto voltava a respirar novamente.
- Nunca mais vou olhar um garoto da mesma forma depois do Derfel... – Evie falou, e Micah concordou, pensando em Cewyn, antes de se tocar e ficar meio carrancudo, fazendo todos rirem.

Cewyn e Derfel vieram para ficar na escola, pelo menos por enquanto e durante a noite, obviamente. Eles reforçariam a segurança da escola durante o período mais perigoso, que era durante a noite. O papel principal deles era garantir a segurança de mim, de meu irmão e de nossos amigos. E era uma boa forma de mostrar que vampiros e humanos poderiam viver em boas condições. A presença deles era importante também pelo fato de que em muitas noites, eu e Griffon saíamos em caçadas, e Derfel e Cewyn nos substituíam na defesa...

“They are the legions of the night.
Turning darkness into... turning the dark into light.

Behold the skies; the port of heaven takes the stairway down to hell.
The gate is open lift the curse.
We set aside our dreams, ambitions;
We are one, we will unite.

At the Threshold of the universe, we will rise!”

“Eles avançavam sozinhos, liderando o ataque. Eles que eram a elite do exército, aqueles que prometeram andar nas trevas para fazer a luz nascer. Aqueles mais poderosos e mais temidos, treinados para caçar e destruir. E a frente deles ia seu líder, o exemplo maior de trevas trazendo luz. Sua aura negra esvoaçava como uma capa escura, engolindo a noite, porém eles sabiam que ele trazia a luz. A aura crescia cada vez mais, como labaredas espalhando-se e destruindo. E seus inimigos temiam. Pois diante deles surgia o grande caçador das trevas e seus seguidores”.


Era mais uma noite em que eu fazia vigília próximo a Avalon, tendo certeza de que Luna estava bem. Eu raramente sentia sono e não me cansava, porém se fosse uma pessoa normal, não conseguiria passar tantas noites em claro. Fosse caçando ou vigiando, Cewyn geralmente estava comigo nessas horas, apenas sentada encarando o luar, apenas tendo certeza de que eu estava bem.

- Você faz isso sempre? – Ela perguntou nessa noite, tirando os olhos das estrelas para me encarar. Nós estávamos sentados em uma varanda secreta do castelo, de onde tínhamos uma ampla visão dos terrenos da escola, e principalmente da Avalon e demais repúblicas.
- Isso o que? – Perguntei, olhando-a também. Controlei o pensamento de que eu tinha que admitir o quanto ela era bela e que ela me fazia sentir algo de diferente. Ela sorriu para mim, sempre lendo meus pensamentos.
- Isso de passar as noites vigiando-na.
- Sim. Não permitirei que nada aconteça a ela novamente.
- Não se aprende sem erros... E se há ago que aprendi em minha longa vida, é que a vida é feita de dores e sofrimento, para que após tudo isso haja a felicidade.
- Eu concordo, mas se posso evitar sofrimento, não há porque deixar de fazê-lo.
- Ela é tudo menos fraca, Seth. Em toda a minha vida eu encontrei poucas mortais com tanta força quanto ela. Na verdade, nos últimos anos encontrei muitas mortais assim. A não ser que eu não deva considerar sua mãe como mortal, ela está longe de ser mortal.
- Sim, mamãe está longe de ser uma mortal qualquer... Eu sei que a Luna é forte, mas eu não quero que ela fique em perigo.
- Você a subestima. E isso pode ser ruim. Se ela desejasse um guarda-costas, ela contratava um, e não namorava um. – Ela falou, a voz bela cortante.
- O que quer dizer?
- Quero dizer que você a protege demais. Ela é forte o suficiente para se virar sozinha. Você pode estragar tudo sendo assim.
- Proteção nunca é demais. – Falei começando a ficar de mau humor. Ela gargalhou e com um movimento rápido, estava abraçada a mim, beijando minha bochecha, deixando-me com calafrios.
- Você tem muito que aprender, filho. Mulheres gostam de um pouco de aventura. – Ela falou rindo novamente, enquanto pulava para fora da varanda, mergulhando na noite escura. Eu a ignorei e continuei o resto da noite vigiando a escola.

*****

- Você fez de novo, não fez Kam? – Luna perguntou, me encarando com seus olhos calmos, porém cheios de energia, enquanto brincava com uma mecha de seus cabelos dourados, passando a olhar depois para as nuvens cinzentas.
- O que? – Fiz que não entendi, enquanto pegava uma torrada.
- Passou a noite em claro me vigiando. – Ela falou certeira, os olhos brilhando.
- Vigiar não é a palavra certa. Estava deixando você em segurança. – Eu falei, enquanto beijava sua mão. Ela se deixou abraçar por mim, enquanto saíamos para os jardins, mas continuava a falar.
- Eu estou em segurança, Kam. E porque você foi caçar novamente?
- Do que está falando? – Fiz que não entendi novamente.
- Não se faça de bobo, Kam. Acha que não sei quando você sai durante a noite? Eu já te pedi para não sair caçando assim durante a noite.
- Eu quero ter certeza que está tudo bem, não quero ser pego desprevenido por Cadarn.
- Kam, ele não vai atacar tão cedo... Ele quer vingança, mas não é idiota.
- Mas eu o quero destruído o mais rápido possível.
- Kam, por favor, como você acha que eu fico sabendo que você sai durante as noites para caçar um vampiro maluco sozinho? – Ela perguntou, agora séria, olhando em meus olhos.
- E como acha que eu me sinto sabendo que tem um louco querendo seu sangue a qualquer custo? – Eu rebati, também a olhando em seus olhos.
- Eu sou o de menos. Ao contrário de você, eu não vou atrás dele. E ele não vai conseguir me tocar enquanto tiver tantas pessoas por aqui.
- Você é tudo menos o de menos! Você é a pessoa mais importante pra mim. Não iria me perdoar se algo acontecesse.
- Há coisa que são inevitáveis. Você também é a pessoa mais importante para mim, Kam. Por isso eu te peço para ter cuidado. Olhe que flores lindas !

Ela falou, puxando-me pelo braço enquanto corria para cheirar várias flores. Eu sorri para ela, impressionado como ela conseguia mudar do sério para o sereno em questão de segundos, e a abracei com força, levantando-a do chão, beijando-a longamente.

Naquela noite eu, Luna, Miyako, Cewyn, Gabriel e Gina íamos juntos para Avalon, conversando animadamente. Eu e Luna andávamos de mãos dadas, bem próximos um do outro. Luna e Cewyn estavam se dando muito bem, como eu imaginava que se dariam, e rapidamente tornaram-se melhores amigas, como se uma conhecesse a outra há eras. A maioria das pessoas achavam que Luna deveria estar com ciúmes de mim por causa de Cewyn, e achavam estranho as duas se darem tão bem.

Quando chegamos a Avalon ficamos mais um tempo conversando, enquanto as garotas trocavam risadas e comentários com Cewyn, deixando a mim e ao Biel meio perdidos. Quando elas terminaram, combinando com Cewyn de reunir todas as garotas para uma espécie de festa, fomos nos despedir e beijei com carinho Luna, enquanto ela se colocava na ponta dos pés para falar comigo.

- Não vá ficar essa noite toda acordado ouviu? E não adianta fingir, Cewyn vai me contar.
- Eu só quero ter certeza que está tudo bem...
- Kam, por favor.- Ela falou enquanto os seus olhos azuis me encaravam e eu suspirei.
- Está bem, pedindo assim eu não consigo resistir.
- Gente vamos indo, antes que tenhamos diabetes! – Gina brincou, puxando Gabriel pelo braço, eles se afastaram conversando, nos deixando um pouco a sós.
- E não vá sair para caçar. – Ela falou me encarando, com um olhar brilhante e certeiro. Começamos a andar de mãos dadas e seu tom de voz, embora sereno, era determinante.
- Eu não vou...
- Não adianta mentir para mim, Seth Kamui Capter Chronos! – Ela falou meu nome completo, brincando, mas notei a diferença em sua voz. – AI. – Luna sufocou um grito de dor em meu peito quando bateu o pé em uma pedra. A apoiei com firmeza fazendo-a sentar no chão, os olhos cheios de lágrimas.
- Luna! Ta tudo bem?! Calma. Deixe eu tirar sua bota para ver... Será que quebrou alguma coisa ou...? – comecei a falar aos atropelos e já começava a desamarrar seu sapato quando ela me impediu, com as duas mãos em meus ombros, me olhando com delicadeza.
- Está tudo bem, Kam. Foi só uma pedra. Não está doendo mais. Não se preocupe...
- Não. Me deixe ver isso. Você pode ter quebrado algum dedo ou ao menos, torcido o pé. – insisti e ela novamente me impediu.
- Já disse que estou bem. Não comece com isso de novo, por favor?! – se levantou sozinha com um tom meio azedo e me assustei, levantando em seguida e encarando-a. Ela pareceu me avaliar uns segundos, antes de sorrir delicadamente, me abraçando. – Você ainda não me prometeu que não vai mais sair de noite... – disse serenamente perto do meu ouvido e fechei os olhos, cansado.
- Só quero ter certeza que está tudo bem... E ter certeza de que não estão armando nada.
- Você não quer apenas uma desculpa para lutar, quer? – ela se afastou me olhando séria e tensa.
- Claro que não! A sua segurança é o importante!
- Seth, por favor, você, ou Siegfried, ou Derfel ou Cewyn saberiam se eles fossem tentar algo! Não quero você se arriscando! – Luna falou, os olhos ainda brilhantes.
- Mesmo assim quero ter certeza. – Falei, teimoso.
- Kam, prometa-me que não vai caçar.
- Não posso prometer...
- Prometa.
- Eu quero proteger você!
- E eu não quero que você corra riscos por mim! Como acha que eu vou me sentir se algo de acontecer? Da última vez você voltou totalmente ferido, cheio de perfurações, queimaduras e não sei mais o que! – Biel, Miyako, Gina e Cewyn voltaram preocupados, pois ouviam a conversa mais exaltada.
- Eu estava lutando para te proteger!
- É mesmo? Às vezes parece que você só usa isso como desculpa para sair lutando por aí! Sua mãe mesma já me falou que seu pai fazia a mesma coisa!
- Eu não estou apenas procurando uma desculpa para lutar! Se pudesse eu evitaria lutas! – Falei meio exaltado, mas assim que falei algo em mim acendeu, dizendo que ela tinha certa razão.
- Está sim! Se não estivesse, você simplesmente ficaria aqui comigo, em vez de ficar caçando vampiros loucos!
- Eu estou protegendo a sua vida assim!
- Eu sei me virar sozinha, Kam! – Luna falou, os olhos estreitos.
- Eu sei que sabe, mas isso não vai me impedir de querer cuidar de você! – Eu falei, encarando-a. Gabriel, Miyako, Gina e Cewyn pareciam não saber o que fazer e apenas olhavam a discussão.
- Você não acha que cuida até demais? Não precisa passar todas as noites me vigiando.
- Eu já falei que não estou vigiando, estou apenas cuidando de você.
- É quase a mesma coisa. Seth, eu não sou fraca, sei me cuidar e me defender.
- Mas já falei que eu quero proteger você!
- Você já protege sem precisar colocar sua vida em risco caçando vampiros malucos, sem ofensas Cewyn, e passando as noites inteiras acordado!
- Eu quero caça-los antes que eles tentem algo!
- Gente, vamos nos acalmar? – Gabriel tentou falar, se colocando entre eu e Luna, que já começávamos a falar mais rapidamente.
- Biel não se meta. – Nós dois falamos juntos.
- Ah então você quer se jogar na frente do perigo e me deixar sozinha e preocupada? – Luna perguntou, ignorando Gabriel.
- Eu não deixo você sozinha...
- Deixa sim, sempre que sai nessas caçadas suicidas eu fico aqui sozinha, preocupada com você! Sem saber o que pode acontecer! Pare de querer caçá-lo a qualquer custo! Como acha que me sinto sempre que sei que meu namorado sai durante a noite e pode nunca mais voltar? – Ela falou alto, os olhos brilhando com lágrimas. Eu me aproximei dela, tentando abraça-la, mas ela se afastou.
- Não precisa se preocupar comigo, eu sei...
- Sabe se cuidar? Então eu também sei me cuidar e não preciso que fique me tratando como uma boneca de porcelana. – Ela falou exaltada, os olhos me encarando com força, desafiando-me a tentar abraça-la novamente.
- Eu apenas me preocupo com você!
- Eu sei que se preocupa, mas você se preocupa demais! Eu sei me proteger sozinha. Eu invadi um Ministério sem você e sai de lá inteira.
- Você foi pega como refém por um Comensal!
- E você matou um homem por minha causa!
- Ele era um Comensal, torturava e matava, e se tivesse tido a chance ele teria te feito algum mal!
- Mas eu sabia me defender! As aulas que tive na AD e com você me prepararam para muitas coisas.
- Eu não vou deixar você desprotegida, não vou parar de querer cuidar de você!
- Desde o ataque a Durmstrang, você me trata como alguém frágil, você já não me beija como antes... Parece que tem medo de me machucar! Parece que tem medo de me matar se me abraçar com mais força.
- E eu tenho sim! Desde aquele dia eu vi o monstro que há em mim, um monstro que seria capaz de te matar.
- Você já teve milhões de oportunidades e nunca o fez, e já estivemos juntos e sozinhos em diversas situações! O Seth que eu conhecia não ficava se remoendo por ser um monstro sedento.
- Eu não mudei em nada.
- Você mudou sim... Pare de pensar que pode me machucar. Eu confio em você plenamente. E lhe daria meu sangue de bom grado, sem ter medo algum.
- Eu quero proteger você de tudo que possa lhe fazer mal. Se necessário de mim mesmo! Não fale isso levianamente. Eu não quero roubar seu sangue!
- Isso não é leviano! – Ela falou, agora realmente furiosa. - Seth, eu já fui seqüestrada, torturada e atacada por Comensais e vampiros e sempre soube me cuidar. Pelo que me lembre, quando fui feita refém por Comensais, você não fez nada para me ajudar, estava preocupado em se considerar um monstro assassino.
- Por que você acha que eu quero tanto evitar que algo ocorra? Você acha que eu me perdôo por não ter feito nada?! Você acha que consigo ficar em paz sabendo que por minha causa você foi atacada por vampiros e feita refém? Que por minha causa você está marcada para morrer?! – Eu falei, também furioso. Miyako e os outros tentavam se colocar entre nós e nos acalmar, mas nós os ignorávamos, sempre nos aproximando e discutindo mais.
- Não tem o que perdoar! Pare de achar que tem que carregar todo o peso do mundo nas costas. Daquela vez por exemplo, eu soube me proteger e me cuidar, até o Harry aparecer para me ajudar...
- Sempre o Harry não é? Sempre ele!
- Sim, o Harry! Ele é meu amigo! E me ajudou em momentos difíceis.
- Sempre ele! Era ter aulas com ele, conversar com ele e sobre ele, andar com ele! Torcer por ele! Até sair e ir a festas com ele você foi! Por que não fica logo com ele então?
- Ei, não mete o Harry nisso! – Gina interrompeu também se exaltando imediatamente em defesa de Luna, mas já era tarde demais. Eu falei enraivecido e no momento que eu falei essa frase eu soube que havia dito algo muito ruim e errado. Nós estávamos a centímetros um do outro e vi seus olhos se estreitarem com força, revelando lágrimas que começaram a escorrer. Ela me virou as costas e saiu andando. Eu fui atrás dela e a puxei pelo braço. Ela, porém, se virou rapidamente e me deu um tapa no rosto, correndo para Avalon, sendo seguida por Gina. Eu comecei a correr atrás dela, mas Cewyn se colocou na minha frente, os olhos determinados.
- É melhor não, Seth.
- Luna! – Eu chamei por ela, tentando passar por Cewyn. Ela porém me deu um empurrão, jogando-me no chão.
- Melhor não, Seth. Vocês foram longe demais, continuar agora só vai piorar as coisas. – Ela falou.
- Fica aqui, Seth. É melhor vocês darem um tempo um ao outro. Vamos conversar com ela. – Miyako falou, enquanto ela e Biel me ajudavam a me levantar. Ela e Cewyn entraram na Avalon, indo procurar Luna e Gina.

Gabriel ainda me segurava por via das dúvidas e começou a me acalmar, enquanto me levava para Spartacus, e eu me deixava cair em seus ombros, fraco com a discussão e com a tristeza. Ele falava comigo, mas eu o ignorava, pois meus ouvidos só conseguiam captar o choro dela, que chegavam aos meus ouvidos claros e dolorosos. As pessoas nos olhavam enquanto passávamos, e eu também as ignorava. Os olhos molhados demais com lágrimas e o coração apertado com um sentimento de culpa e de que não deveria ter falado aquelas coisas...

N.A.: Threshold, Hammerfall.
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