Viagem de Formatura – Caribe
No dia do embarque, ela prendera uma das flores de violeta na orelha, e junto do pingente de meia-lua branca que ela carregava no pescoço, agora havia uma chave presa nele. Nos últimos dias, ela havia escondido o pingente dentro das vestes, sem querer mostrar que ainda o usava, mas sem coragem de desfazer-se dele. Quem não conhecesse toda a história por trás daquela única chave, acharia que se tratava apenas de mais uma excentricidade de Luna. Mas eu sabia o que significava aquela chave, aquela flor no cabelo, aquele pingente a mostra. Esses sinais foram suficientes para mim, pois mostravam que ainda não havíamos terminado e que ela aceitara minhas flores, assim como não recusara nossas ligações. Porém, eu aguardaria o momento certo de conversarmos, quando eu não pudesse estragar tudo de novo. Enquanto isso, eu simplesmente me encantava com ela a cada novo dia, meus olhos incapazes de desviarem dela, meu coração saltando toda vez que sentia seu cheiro, seu perfume e sua presença.
E também me irritava com os olhares dos outros garotos e viajantes do navio. Meus amigos estavam brincando, porém eu via que era verdade e muitos a encaravam com um olhar cobiçoso, e apenas minha vontade de não estragar tudo me impediu de voar em seus pescoços.
Eu tive a idéia de me desculpar primeiro com o restante das garotas de Avalon, e engolindo meu orgulho, enviei uma única rosa para cada uma delas, com um recado, pedindo que fossem para a cabine da Miyako. Evie, Milla, Nina, Annia, Lavínia e Gina, compareceram mesmo sem saber qual seria o motivo.
- Miyako, você sabe quem enviou essas rosas? – Evie perguntou, ao entrar no quarto e ver apenas ela.
- Fui eu, Evie. – Eu falei, levantando-me de uma cadeira.
- O que ele faz aqui? – Gina perguntou grossa e fechando o semblante. As demais garotas ficaram caladas, me olhando meio torto, enquanto Miyako ficava quieta, segurando o riso.
- Calma, Gina. Não vim discutir com vocês e nem tentar convencê-las de que eu estava certo.
- E você não estava mesmo. – Annia falou, cortando-me.
- Sim, eu estava errado.
- E não adianta insistir. É simplesmente ridículo você nos vigiando 24 horas por dia, indiretamente. Nem Luna, nem nós, vamos aceitar isso outra vez. Ahn?! Que ? – Vina falou, parando meio confusa ao notar o que eu havia dito.
- Repete? Eu acho que estou com problema de audição. – Milla falou também surpresa.
- Eu falei que eu estava errado. – Tomei ar para falar tudo de uma vez. – Quero pedir desculpas a vocês todas por tudo que fiz. Por invadir sua privacidade, por vigiá-las todas as noites e todos os dias, por não ter dado a vocês o direito de viverem suas vidas sem medo de ter alguém as olhando o tempo todo... Minhas intenções foram boas, mas errôneas, e sei muito bem disso agora. Quero muito pedir desculpas a vocês por qualquer inconveniente que causei e por tudo que fiz vocês passarem, mas lhes asseguro que, quanto à privacidade, não há motivos para se preocuparem. Nunca a invadi.
Elas ouviram ainda surpresas, enquanto eu falava defensivamente. Apesar da surpresa, notei que elas pareciam aceitar minhas desculpas. Apenas Gina que ainda me encarava furiosa, enquanto dirigia olhares para Miyako, acusando-a de cúmplice. Eu me aproximei dela e ela me encarava como se estivesse pronta para discutir comigo, porém eu respirei profundamente e falei, olhando-a nos olhos.
- Gina, a você eu devo a maior das desculpas. Você é uma ótima amiga, me conhece há muito tempo, por isso conhece meu jeito. Eu fui impulsivo e errado, nunca deveria ter envolvido o Harry na história, tudo não passando de puro ciúme bobo e insegurança. Eu queria realmente pedir perdão a você por tudo que falei, pois sei que foram coisas péssimas. – Eu falei, enquanto me ajoelhava e entregava uma nova rosa a ela. – Novamente, desculpas. Eu gostaria de fazer o que vocês desejarem para me redimir, se há alguma forma de eu me redimir, basta pedirem.
Novamente todas ficaram sem falar, mas Gina foi a primeira a reagir. Ela pegou a rosa e me levantou, abraçando-me em seguida.
- Seth, eu estava disposta a nunca mais falar com você, mas esse seu jeito de pedir desculpas me comoveu. Você, ao contrário do Harry, tem “tato” para essas coisas... – ela girou os olhos propositalmente e ri. - Você está desculpado. Desde que nunca mais envolva o Harry nessas discussões sem fundamento, está bem? Só eu tenho o direito de fazer isso e não faço, porque confio nele. E você, se ainda quer ter Luna de volta, terá que ter mais confiança nela. Em todos os sentidos. – ela disse me olhando sério e abri a boca pra responder, mas ela me interrompeu. – Ta, eu sei que você tem. Só precisa deixar de ser inseguro. Também não quero perder uma amizade duradoura como essa.
- Obrigado, Gina, de verdade. Eu não sei o que dizer mais para pedir desculpas, só quero que todas saibam que estou sendo sincero. Vocês poderiam me perdoar?
- Sim, poderíamos. – Elas responderam juntas, e cada uma delas me abraçou, como forma de aceitar o pedido de desculpas. Foi a Annia quem primeiro sorriu.
- Mas precisamos pensar em como fazer você se redimir... Meninas, o que vamos o mandarele fazer? – Ela falou rindo, enquanto elas começavam a bolar coisas que queriam que eu fizesse - muitas já me deixando constrangido.
Miyako sorriu, e me deu os parabéns por ter engolido o orgulho e ter pedido desculpas e também logo se uniu às garotas, bolando as mil e uma maneiras de me usarem por alguns dias, fazendo com que me arrependesse quase imediatamente de não ter estipulado somente um dia para a servidão voluntária.
-------------
Noite de Gala
Na segunda noite da viagem ocorreu a chamada Noite de Gala, onde todos jantariam com o capitão do navio em roupas formais, em um belo banquete. Era à noite em que eu pretendia resolver tudo com Luna, pois não agüentava mais ficar longe dela e não agüentava mais passar os dias sem a presença dela ao meu lado.
Ela estava linda como sempre e controlei-me para não acabar com meu humor, pois muitos outros homens a olhavam, porém me controlei. Eu não estragaria nada essa noite.
Ela usava um longo vestido de gala, totalmente roxo, com golas e detalhes em prateado. Extremamente linda. Em seu pescoço estava pendurado o nosso pingente das luas gêmeas, o branco brilhando acima da roupa, me mostrando várias coisas nesse único ato.
Forever and ever we both will be one
The maiden, the fair and the young fell in love
Eu prestei pouca atenção ao jantar e aos demais, pois meus olhos não saiam dela e nossos olhares se encontraram diversas vezes, porém agora o mantínhamos. Em seus olhos eu via determinação e força, como sempre, e havia felicidade também, apesar de certo rancor. Eu tentava manter minha coragem, preparando para ter o amor de minha vida de volta.
Wherever I'll go you'll be with me
My first though and my last
We'll depart in bitterness
One day you'll understand
Carry on, beloved maiden, mine
Carry on, or we have to pay the price
Em um desses momentos que nos olhávamos, começou a tocar uma música lenta, uma valsa na verdade, e vi quando o capitão chamou uma das passageiras para dançar dando início à pista. Eu me levantei e me encaminhei até Luna, na frente de outros que tentaram o mesmo. Senti sua pulsação sair do ritmo por um segundo, enquanto seus olhos adquiriam um brilho curioso. Nós não tirávamos os olhos um do outro, até eu estar diante dela. Eu me curvei e ofereci o braço a ela, que aceitou e levantou-se com minha ajuda.
Eu não prestava atenção em mais nada e sabia que ela também não. Deixei-me levar pela música e pela sensação dela em meus braços novamente. Nós não falamos nada, apenas dançamos juntos, até certo momento em que ela deitou a cabeça em meu peito e eu baixei a cabeça, mergulhando meu rosto em seus cabelos loiros, respirando com certa dificuldade. Passamos a dançar assim, sem necessidade de palavras, apenas unidos novamente, enquanto matávamos a saudade um do outro.
- Senti sua falta, Luna. – Eu não consegui mais segurar e falei com o rosto ainda em seus cabelos. Lágrimas ameaçavam escorrer pelos meus olhos, mas me mantive firme.
- E eu senti de você, Seth. – Ela falou, abraçada a mim, porém usando meu primeiro nome.
- Gostaria de conversar. Você se importa? – Eu perguntei, após tomar coragem para ouvir a resposta.
- Não. Adoraria conversar com você. – Ela disse, a voz readquirindo a leveza de sempre.
Nós nos afastamos da pista de dança e eu a guiei até um dos conveses, onde poderíamos olhar a lua cheia. Ela se aproximou do parapeito e olhou o mar, encarando o reflexo das estrelas na superfície azulada e pura, enquanto eu fiquei do seu lado, observando-a. Ela se virou pra mim e notei que ela parecia reunir coragem para algo também, o que me fez sentir um frio na barriga.
- Luna... – Eu comecei, aproximando-me dela, que se afastou no mesmo ritmo.
- Não. – Ela falou, me mantendo afastado com uma das mãos em meu peito. – Temos muito que conversar.
- Sim, seu sei. – Eu assenti suspirando e novamente ficamos calados por um tempo. – Eu disse coisas horríveis, nunca deveria ter dito aquelas coisas. Não deveria nunca duvidar de você. – Ela continuou calada, me olhando com seus olhos azuis, porém eles pareciam frágeis e a ponto de chorar. – Eu...
- Seth, eu preciso falar uma coisa. – Ela falou me interrompendo.
- Fale. – Eu aguardei enquanto ela parecia brigar com palavras.
- Acho que devemos terminar. – Ela falou de uma vez, sem dar volta com palavras. Eu senti como se levasse um soco ou como se faltasse o chão sob os meus pés e a fitei sem entender.
- Do que você está falando?! – Eu consegui dizer, gaguejando.
- Acho que devemos terminar. Não quero mudar seu jeito, mas não quero machucá-lo acima de tudo. – Ela falou, e agora lágrimas escorriam pelo seu rosto, porém ela ainda me encarava firmemente.
- Luna, você só pode estar brincando. – Eu falei, enquanto grossas lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu começava a soluçar. Eu me aproximei dela novamente, tentando abraçá-la, mas ela me afastou novamente.
- Não ouse.
- Nós só tivemos uma briga! Não quero terminar com você. – Eu falei, enquanto meu corpo inteiro tremia de dor e tristeza.
- É o melhor para nós. Sei que encontrará alguém ideal para você. – Ela falou, enquanto também chorava e tremia, porém mantinha a mão firme em meu ombro, segurando-me.
- Eu já encontrei! É você! Não há outro alguém, não haverá outro alguém! – Eu falei, e notei que minha voz aumentou de tom.
- Não, Kam... – Ela falou, a voz cheia de tristeza, enquanto que sua mão tremia em meu peito. – Não quero mais machucar você, não quero mais te ver triste, falar coisas horríveis para você...
- E como acha que vou me sentir se terminarmos? Eu que falei coisas horríveis, eu que fui horrível, possessivo e idiota!
- Eu falei coisas horríveis de você também. Te chamei de monstro e falei sobre coisas que eu não poderia saber. – Ela falou, enquanto chorava mais fortemente. Eu não me contive mais e a abracei com força. Ela dessa vez não mais resistiu e chorou em meu ombro, enquanto eu chorava próximo ao seu pescoço.
- Eu que te fiz coisas horríveis. Não confiei em você e cheguei a acusá-la de desejar estar com outro. Mas por favor, eu não sei viver sem você. Eu te prometo que mudarei.
- Você não tem o que mudar, Kam. Você é o garoto, o homem, mais fofo e carinhoso que eu já conheci, e nunca acharei alguém como você. Por isso não quero mais te magoar do jeito que magoei. Não quero mais ver você chorar! – Ela falou, enquanto socava meu peito, ainda chorando. Sua voz transmitia desespero e tristeza como eu nunca havia visto nela.
- Eu quero fazer você feliz... – Eu falei entre soluços, acariciando seus cabelos. – Só serei feliz com você, Luna.
- E se eu te machucar novamente? E se eu te magoar novamente? Te fazer chorar?
- Você me faz o homem mais feliz do mundo. Eu mudei por sua causa e por você, graças a você eu sou o que sou. Luna, você me salvou, você é a mulher que eu amo e quero passar minha vida inteira ao seu lado. – Eu falei, soluçando. Ela me abraçou com força, como se tentasse me confortar.
- Você será feliz com outra garota. – Ela falou, se afastando um pouco.
- Eu não quero outra pessoa! – Eu falei, socando o parapeito. – Eu quero te fazer feliz, e só serei feliz com você! Você não entende isso? Eu errei em achar que você era frágil, errei ao te vigiar tanto. Eu prometo que te farei feliz.
- Não comece a puxar toda culpa pra você. – Ela falou, a voz agora também cheia de irritação. – Se vai mudar, comece por parar de achar que apenas você errou. Eu errei e muito. Te fiz sofrer quando só deveria lhe dar apoio e estar ao seu lado.
- Luna, todo relacionamento tem momentos de dificuldades, e quero passar por eles junto de você. – Eu falei, e segurei seu rosto entre minhas mãos, obrigando-a a me olhar. – Luna, eu amo você. Sempre amarei e nunca haverá outra pessoa.
- Seth...Kam, por favor não...Chega disso tudo. – Ela falou, sem tirar os olhos dos meus. Eles estavam vermelhos pelo choro, mas determinados. Eu suspirei cansado e me joguei em seus braços, chorando em seu ombro novamente. Ela me abraçou com força, tentando me acalmar. – Você é a melhor pessoa que eu já conheci, por isso quero apenas sua felicidade, e eu acho que não é comigo, não é assim, que você vai encontrá-la...
- Eu não serei feliz sem você! – Eu repeti com a voz rouca pelo choro e abafada pelo abraço dela.
- Será sim, você era feliz antes de me conhecer.
- Não, não era! Eu sequer conhecia o verdadeiro significado de felicidade.
- Era sim. Você tinha sua família sempre ao seu lado, seus amigos... Você encontrará alguém perfeito pra você.
- Eu já encontrei e não perderei o amor da minha vida. Não dessa maneira. Eu sou o teimoso, se lembra?
- Kam, por favor... – Ela começou a chorar novamente. – Não torne tudo isso mais difícil.
Ela me abraçou amolecida e tomei novo fôlego, apesar de meu coração parecer que estava sendo arrancado aos pedaços e eu me sentia fraco como nunca em minha vida. Após algum tempo, nos afastamos, porém eu ainda estava determinado. Eu a mantive presa em meus braços e a obriguei a me olhar.
- Luna, você realmente quer que eu vá embora da sua vida? Realmente quer que eu nunca mais esteja com você? Realmente quer que nos afastemos? Se sim, se você realmente quiser isso, eu lhe prometo que a deixarei em paz. Lhe prometo fazer pelo menos isso, mesmo que custe minha vida e a minha felicidade, embora você não acredite que ela seja real ao seu lado... Eu estou disposto.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Ela ficou calada por um longo tempo, enquanto não parava de chorar, olhando no fundo de meus olhos. Eu também chorava, mas mantinha o olhar fixo e determinado. Se fosse isso que ela realmente quisesse, eu faria de tudo para que ela fosse feliz, mesmo se fosse com outro alguém.
- Não. Eu quero você sempre do meu lado. Quero você sempre abraçado a mim, quero você sempre comigo, na felicidade e na tristeza... – ela se rendeu cansada e eu não a deixei falar mais nada.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Proudly it stands
Until the world's end
The victorious banner of love
Puxei-a para meus braços, e a abracei com força, beijando-a longamente enquanto praticamente a levantava do chão. Ela abraçou-se a mim com força também, como se sua vida dependesse disso, e a mantive junto a mim. Nossos corações batiam como um só, nossos lábios moviam-se em perfeita sincronia, nosso beijo longo e cheio de amor, carinho, saudade e o medo pela possibilidade de nunca mais estarmos assim: juntos. Matávamos a saudade um do outro em um beijo intenso e caloroso, longamente...
Após um tempo, não sei ainda quanto tempo ficamos nos beijando, nós separamos nossos lábios, mas não nossos corpos, presos em um forte abraço. Encostamos a testa um no outro, enquanto recuperávamos o fôlego.
- Eu amo você, Kam. – Ela falou, sorrindo pra mim, enquanto acariciava meu rosto. – Obrigada por não me permitir fazer a maior loucura da minha vida.
- Não diga mais nada, Luna. Eu nunca deixaria você ir embora, eu não sei viver sem você. Eu amo você, Luna. Hoje e sempre.
Nós sorrimos novamente, nos entregando a outro beijo, tão longo quanto o primeiro. Eu a peguei em meus braços, sem deixar seus lábios longe dos meus, e a levei para minha cabine, onde prometemos nunca mais ficar longe um do outro.
N.A.: The Maiden and the Minstrel Knight, Blind Guardian.
No dia do embarque, ela prendera uma das flores de violeta na orelha, e junto do pingente de meia-lua branca que ela carregava no pescoço, agora havia uma chave presa nele. Nos últimos dias, ela havia escondido o pingente dentro das vestes, sem querer mostrar que ainda o usava, mas sem coragem de desfazer-se dele. Quem não conhecesse toda a história por trás daquela única chave, acharia que se tratava apenas de mais uma excentricidade de Luna. Mas eu sabia o que significava aquela chave, aquela flor no cabelo, aquele pingente a mostra. Esses sinais foram suficientes para mim, pois mostravam que ainda não havíamos terminado e que ela aceitara minhas flores, assim como não recusara nossas ligações. Porém, eu aguardaria o momento certo de conversarmos, quando eu não pudesse estragar tudo de novo. Enquanto isso, eu simplesmente me encantava com ela a cada novo dia, meus olhos incapazes de desviarem dela, meu coração saltando toda vez que sentia seu cheiro, seu perfume e sua presença.
E também me irritava com os olhares dos outros garotos e viajantes do navio. Meus amigos estavam brincando, porém eu via que era verdade e muitos a encaravam com um olhar cobiçoso, e apenas minha vontade de não estragar tudo me impediu de voar em seus pescoços.
Eu tive a idéia de me desculpar primeiro com o restante das garotas de Avalon, e engolindo meu orgulho, enviei uma única rosa para cada uma delas, com um recado, pedindo que fossem para a cabine da Miyako. Evie, Milla, Nina, Annia, Lavínia e Gina, compareceram mesmo sem saber qual seria o motivo.
- Miyako, você sabe quem enviou essas rosas? – Evie perguntou, ao entrar no quarto e ver apenas ela.
- Fui eu, Evie. – Eu falei, levantando-me de uma cadeira.
- O que ele faz aqui? – Gina perguntou grossa e fechando o semblante. As demais garotas ficaram caladas, me olhando meio torto, enquanto Miyako ficava quieta, segurando o riso.
- Calma, Gina. Não vim discutir com vocês e nem tentar convencê-las de que eu estava certo.
- E você não estava mesmo. – Annia falou, cortando-me.
- Sim, eu estava errado.
- E não adianta insistir. É simplesmente ridículo você nos vigiando 24 horas por dia, indiretamente. Nem Luna, nem nós, vamos aceitar isso outra vez. Ahn?! Que ? – Vina falou, parando meio confusa ao notar o que eu havia dito.
- Repete? Eu acho que estou com problema de audição. – Milla falou também surpresa.
- Eu falei que eu estava errado. – Tomei ar para falar tudo de uma vez. – Quero pedir desculpas a vocês todas por tudo que fiz. Por invadir sua privacidade, por vigiá-las todas as noites e todos os dias, por não ter dado a vocês o direito de viverem suas vidas sem medo de ter alguém as olhando o tempo todo... Minhas intenções foram boas, mas errôneas, e sei muito bem disso agora. Quero muito pedir desculpas a vocês por qualquer inconveniente que causei e por tudo que fiz vocês passarem, mas lhes asseguro que, quanto à privacidade, não há motivos para se preocuparem. Nunca a invadi.
Elas ouviram ainda surpresas, enquanto eu falava defensivamente. Apesar da surpresa, notei que elas pareciam aceitar minhas desculpas. Apenas Gina que ainda me encarava furiosa, enquanto dirigia olhares para Miyako, acusando-a de cúmplice. Eu me aproximei dela e ela me encarava como se estivesse pronta para discutir comigo, porém eu respirei profundamente e falei, olhando-a nos olhos.
- Gina, a você eu devo a maior das desculpas. Você é uma ótima amiga, me conhece há muito tempo, por isso conhece meu jeito. Eu fui impulsivo e errado, nunca deveria ter envolvido o Harry na história, tudo não passando de puro ciúme bobo e insegurança. Eu queria realmente pedir perdão a você por tudo que falei, pois sei que foram coisas péssimas. – Eu falei, enquanto me ajoelhava e entregava uma nova rosa a ela. – Novamente, desculpas. Eu gostaria de fazer o que vocês desejarem para me redimir, se há alguma forma de eu me redimir, basta pedirem.
Novamente todas ficaram sem falar, mas Gina foi a primeira a reagir. Ela pegou a rosa e me levantou, abraçando-me em seguida.
- Seth, eu estava disposta a nunca mais falar com você, mas esse seu jeito de pedir desculpas me comoveu. Você, ao contrário do Harry, tem “tato” para essas coisas... – ela girou os olhos propositalmente e ri. - Você está desculpado. Desde que nunca mais envolva o Harry nessas discussões sem fundamento, está bem? Só eu tenho o direito de fazer isso e não faço, porque confio nele. E você, se ainda quer ter Luna de volta, terá que ter mais confiança nela. Em todos os sentidos. – ela disse me olhando sério e abri a boca pra responder, mas ela me interrompeu. – Ta, eu sei que você tem. Só precisa deixar de ser inseguro. Também não quero perder uma amizade duradoura como essa.
- Obrigado, Gina, de verdade. Eu não sei o que dizer mais para pedir desculpas, só quero que todas saibam que estou sendo sincero. Vocês poderiam me perdoar?
- Sim, poderíamos. – Elas responderam juntas, e cada uma delas me abraçou, como forma de aceitar o pedido de desculpas. Foi a Annia quem primeiro sorriu.
- Mas precisamos pensar em como fazer você se redimir... Meninas, o que vamos o mandarele fazer? – Ela falou rindo, enquanto elas começavam a bolar coisas que queriam que eu fizesse - muitas já me deixando constrangido.
Miyako sorriu, e me deu os parabéns por ter engolido o orgulho e ter pedido desculpas e também logo se uniu às garotas, bolando as mil e uma maneiras de me usarem por alguns dias, fazendo com que me arrependesse quase imediatamente de não ter estipulado somente um dia para a servidão voluntária.
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Noite de Gala
Na segunda noite da viagem ocorreu a chamada Noite de Gala, onde todos jantariam com o capitão do navio em roupas formais, em um belo banquete. Era à noite em que eu pretendia resolver tudo com Luna, pois não agüentava mais ficar longe dela e não agüentava mais passar os dias sem a presença dela ao meu lado.
Ela estava linda como sempre e controlei-me para não acabar com meu humor, pois muitos outros homens a olhavam, porém me controlei. Eu não estragaria nada essa noite.
Ela usava um longo vestido de gala, totalmente roxo, com golas e detalhes em prateado. Extremamente linda. Em seu pescoço estava pendurado o nosso pingente das luas gêmeas, o branco brilhando acima da roupa, me mostrando várias coisas nesse único ato.
Forever and ever we both will be one
The maiden, the fair and the young fell in love
Eu prestei pouca atenção ao jantar e aos demais, pois meus olhos não saiam dela e nossos olhares se encontraram diversas vezes, porém agora o mantínhamos. Em seus olhos eu via determinação e força, como sempre, e havia felicidade também, apesar de certo rancor. Eu tentava manter minha coragem, preparando para ter o amor de minha vida de volta.
Wherever I'll go you'll be with me
My first though and my last
We'll depart in bitterness
One day you'll understand
Carry on, beloved maiden, mine
Carry on, or we have to pay the price
Em um desses momentos que nos olhávamos, começou a tocar uma música lenta, uma valsa na verdade, e vi quando o capitão chamou uma das passageiras para dançar dando início à pista. Eu me levantei e me encaminhei até Luna, na frente de outros que tentaram o mesmo. Senti sua pulsação sair do ritmo por um segundo, enquanto seus olhos adquiriam um brilho curioso. Nós não tirávamos os olhos um do outro, até eu estar diante dela. Eu me curvei e ofereci o braço a ela, que aceitou e levantou-se com minha ajuda.
Eu não prestava atenção em mais nada e sabia que ela também não. Deixei-me levar pela música e pela sensação dela em meus braços novamente. Nós não falamos nada, apenas dançamos juntos, até certo momento em que ela deitou a cabeça em meu peito e eu baixei a cabeça, mergulhando meu rosto em seus cabelos loiros, respirando com certa dificuldade. Passamos a dançar assim, sem necessidade de palavras, apenas unidos novamente, enquanto matávamos a saudade um do outro.
- Senti sua falta, Luna. – Eu não consegui mais segurar e falei com o rosto ainda em seus cabelos. Lágrimas ameaçavam escorrer pelos meus olhos, mas me mantive firme.
- E eu senti de você, Seth. – Ela falou, abraçada a mim, porém usando meu primeiro nome.
- Gostaria de conversar. Você se importa? – Eu perguntei, após tomar coragem para ouvir a resposta.
- Não. Adoraria conversar com você. – Ela disse, a voz readquirindo a leveza de sempre.
Nós nos afastamos da pista de dança e eu a guiei até um dos conveses, onde poderíamos olhar a lua cheia. Ela se aproximou do parapeito e olhou o mar, encarando o reflexo das estrelas na superfície azulada e pura, enquanto eu fiquei do seu lado, observando-a. Ela se virou pra mim e notei que ela parecia reunir coragem para algo também, o que me fez sentir um frio na barriga.
- Luna... – Eu comecei, aproximando-me dela, que se afastou no mesmo ritmo.
- Não. – Ela falou, me mantendo afastado com uma das mãos em meu peito. – Temos muito que conversar.
- Sim, seu sei. – Eu assenti suspirando e novamente ficamos calados por um tempo. – Eu disse coisas horríveis, nunca deveria ter dito aquelas coisas. Não deveria nunca duvidar de você. – Ela continuou calada, me olhando com seus olhos azuis, porém eles pareciam frágeis e a ponto de chorar. – Eu...
- Seth, eu preciso falar uma coisa. – Ela falou me interrompendo.
- Fale. – Eu aguardei enquanto ela parecia brigar com palavras.
- Acho que devemos terminar. – Ela falou de uma vez, sem dar volta com palavras. Eu senti como se levasse um soco ou como se faltasse o chão sob os meus pés e a fitei sem entender.
- Do que você está falando?! – Eu consegui dizer, gaguejando.
- Acho que devemos terminar. Não quero mudar seu jeito, mas não quero machucá-lo acima de tudo. – Ela falou, e agora lágrimas escorriam pelo seu rosto, porém ela ainda me encarava firmemente.
- Luna, você só pode estar brincando. – Eu falei, enquanto grossas lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu começava a soluçar. Eu me aproximei dela novamente, tentando abraçá-la, mas ela me afastou novamente.
- Não ouse.
- Nós só tivemos uma briga! Não quero terminar com você. – Eu falei, enquanto meu corpo inteiro tremia de dor e tristeza.
- É o melhor para nós. Sei que encontrará alguém ideal para você. – Ela falou, enquanto também chorava e tremia, porém mantinha a mão firme em meu ombro, segurando-me.
- Eu já encontrei! É você! Não há outro alguém, não haverá outro alguém! – Eu falei, e notei que minha voz aumentou de tom.
- Não, Kam... – Ela falou, a voz cheia de tristeza, enquanto que sua mão tremia em meu peito. – Não quero mais machucar você, não quero mais te ver triste, falar coisas horríveis para você...
- E como acha que vou me sentir se terminarmos? Eu que falei coisas horríveis, eu que fui horrível, possessivo e idiota!
- Eu falei coisas horríveis de você também. Te chamei de monstro e falei sobre coisas que eu não poderia saber. – Ela falou, enquanto chorava mais fortemente. Eu não me contive mais e a abracei com força. Ela dessa vez não mais resistiu e chorou em meu ombro, enquanto eu chorava próximo ao seu pescoço.
- Eu que te fiz coisas horríveis. Não confiei em você e cheguei a acusá-la de desejar estar com outro. Mas por favor, eu não sei viver sem você. Eu te prometo que mudarei.
- Você não tem o que mudar, Kam. Você é o garoto, o homem, mais fofo e carinhoso que eu já conheci, e nunca acharei alguém como você. Por isso não quero mais te magoar do jeito que magoei. Não quero mais ver você chorar! – Ela falou, enquanto socava meu peito, ainda chorando. Sua voz transmitia desespero e tristeza como eu nunca havia visto nela.
- Eu quero fazer você feliz... – Eu falei entre soluços, acariciando seus cabelos. – Só serei feliz com você, Luna.
- E se eu te machucar novamente? E se eu te magoar novamente? Te fazer chorar?
- Você me faz o homem mais feliz do mundo. Eu mudei por sua causa e por você, graças a você eu sou o que sou. Luna, você me salvou, você é a mulher que eu amo e quero passar minha vida inteira ao seu lado. – Eu falei, soluçando. Ela me abraçou com força, como se tentasse me confortar.
- Você será feliz com outra garota. – Ela falou, se afastando um pouco.
- Eu não quero outra pessoa! – Eu falei, socando o parapeito. – Eu quero te fazer feliz, e só serei feliz com você! Você não entende isso? Eu errei em achar que você era frágil, errei ao te vigiar tanto. Eu prometo que te farei feliz.
- Não comece a puxar toda culpa pra você. – Ela falou, a voz agora também cheia de irritação. – Se vai mudar, comece por parar de achar que apenas você errou. Eu errei e muito. Te fiz sofrer quando só deveria lhe dar apoio e estar ao seu lado.
- Luna, todo relacionamento tem momentos de dificuldades, e quero passar por eles junto de você. – Eu falei, e segurei seu rosto entre minhas mãos, obrigando-a a me olhar. – Luna, eu amo você. Sempre amarei e nunca haverá outra pessoa.
- Seth...Kam, por favor não...Chega disso tudo. – Ela falou, sem tirar os olhos dos meus. Eles estavam vermelhos pelo choro, mas determinados. Eu suspirei cansado e me joguei em seus braços, chorando em seu ombro novamente. Ela me abraçou com força, tentando me acalmar. – Você é a melhor pessoa que eu já conheci, por isso quero apenas sua felicidade, e eu acho que não é comigo, não é assim, que você vai encontrá-la...
- Eu não serei feliz sem você! – Eu repeti com a voz rouca pelo choro e abafada pelo abraço dela.
- Será sim, você era feliz antes de me conhecer.
- Não, não era! Eu sequer conhecia o verdadeiro significado de felicidade.
- Era sim. Você tinha sua família sempre ao seu lado, seus amigos... Você encontrará alguém perfeito pra você.
- Eu já encontrei e não perderei o amor da minha vida. Não dessa maneira. Eu sou o teimoso, se lembra?
- Kam, por favor... – Ela começou a chorar novamente. – Não torne tudo isso mais difícil.
Ela me abraçou amolecida e tomei novo fôlego, apesar de meu coração parecer que estava sendo arrancado aos pedaços e eu me sentia fraco como nunca em minha vida. Após algum tempo, nos afastamos, porém eu ainda estava determinado. Eu a mantive presa em meus braços e a obriguei a me olhar.
- Luna, você realmente quer que eu vá embora da sua vida? Realmente quer que eu nunca mais esteja com você? Realmente quer que nos afastemos? Se sim, se você realmente quiser isso, eu lhe prometo que a deixarei em paz. Lhe prometo fazer pelo menos isso, mesmo que custe minha vida e a minha felicidade, embora você não acredite que ela seja real ao seu lado... Eu estou disposto.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Ela ficou calada por um longo tempo, enquanto não parava de chorar, olhando no fundo de meus olhos. Eu também chorava, mas mantinha o olhar fixo e determinado. Se fosse isso que ela realmente quisesse, eu faria de tudo para que ela fosse feliz, mesmo se fosse com outro alguém.
- Não. Eu quero você sempre do meu lado. Quero você sempre abraçado a mim, quero você sempre comigo, na felicidade e na tristeza... – ela se rendeu cansada e eu não a deixei falar mais nada.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Proudly it stands
Until the world's end
The victorious banner of love
Puxei-a para meus braços, e a abracei com força, beijando-a longamente enquanto praticamente a levantava do chão. Ela abraçou-se a mim com força também, como se sua vida dependesse disso, e a mantive junto a mim. Nossos corações batiam como um só, nossos lábios moviam-se em perfeita sincronia, nosso beijo longo e cheio de amor, carinho, saudade e o medo pela possibilidade de nunca mais estarmos assim: juntos. Matávamos a saudade um do outro em um beijo intenso e caloroso, longamente...
Após um tempo, não sei ainda quanto tempo ficamos nos beijando, nós separamos nossos lábios, mas não nossos corpos, presos em um forte abraço. Encostamos a testa um no outro, enquanto recuperávamos o fôlego.
- Eu amo você, Kam. – Ela falou, sorrindo pra mim, enquanto acariciava meu rosto. – Obrigada por não me permitir fazer a maior loucura da minha vida.
- Não diga mais nada, Luna. Eu nunca deixaria você ir embora, eu não sei viver sem você. Eu amo você, Luna. Hoje e sempre.
Nós sorrimos novamente, nos entregando a outro beijo, tão longo quanto o primeiro. Eu a peguei em meus braços, sem deixar seus lábios longe dos meus, e a levei para minha cabine, onde prometemos nunca mais ficar longe um do outro.
N.A.: The Maiden and the Minstrel Knight, Blind Guardian.