sexta-feira, 29 de maio de 2009
Estávamos em nosso quarto e conversando sobre as mudanças que estavam ocorrendo com o irmão da Evie, depois da prisão do pai deles.
- De qualquer forma eu não confio em nenhum dos dois Micah.- disse enfático.
- Porque você odeia tanto os dois Ty? Desde que chegou aqui ficaram aprontando uns pros outros. - comentou Ricard.
- Eu não os odeio, é desprezo crônico, diferente. Você sabe sobre as iniciações não é? E que de algum tempo para cá, elas ficaram mais violentas... Bem, Max e Luka tiveram participação importante na minha entrada na Reis e Sombras. - vi Reno e Chris se mexerem desconfortáveis.
- O que foi que ele te fez?- perguntou Victor. - com um gesto suave apontei a varinha para minhas costas e após executar um feitiço silencioso, comecei a tirar as roupas, e Micah disse:
- Ok, você é até bonitão, mas não quero ter na memória um strip-tease seu, Ty. - disse Micah e ele e os garotos começaram a rir, mas suas risadas foram morrendo quando a minha camisa caiu ao chão.
Olhei para seus rostos e estavam pasmos, ao ver uma série de cicatrizes brancas e finas passando pelas minhas costas. Seth e Griff ficaram de pé. Um tinha os olhos vermelhos e o outro dourado:
- Acalmem-se Chronos! Desliguem os faróis, ou daqui a pouco teremos todo o clã, em alerta total, não quero outra guerra por causa disso. - disse colocando minhas mãos em seus ombros, e ambos se esforçaram para se acalmar.
- Isso é o que estou pensando? São marcas de... - começou Gabriel antes de qualquer outro.
- Arthur queria que eu roubasse arquivos dos alunos novos, e descobrisse quem era mestiço. Como eu me recusei a fazer, Luka e Max acharam que me chicotear seria uma boa forma de punição. - expliquei.
- E ninguém fez nada para impedir? - perguntou Micah encarando Reno e Chris.
- Nunca pensamos que eles fossem até o final. Depois disso, eu contei ao meu pai sobre o que estava acontecendo nas iniciações e briguei com Luka e Max. Eu não queria mais fazer parte daquilo. - disse Chris.
- Neste dia alguns dos outros começaram a perceber que a sociedade estava fora de rumo, até então as punições se limitavam a reprimendas públicas. Protestei, mas não me ouviram, ainda me lembro da vergonha que senti quando acabou. - disse Reno.
- Luka e Max queriam garantir que eu não entrasse na sociedade, afinal já nos estranhamos logo de cara, então esta foi à forma escolhida, e depois das pegadinhas... O que eles não contavam é que eu seria mais teimoso depois do primeiro golpe. - como eles estavam, chateados eu disse:
- Para minha sorte, havia ali medibruxos que fizeram um bom trabalho em minhas costas e não fiquei com marcas. Imagina ter que explicar isso para minha mãe?
- Cara, tia Alex, ia botar o castelo abaixo, e ia amassar a cabeça deles com aqueles saltos dela, e nossas mães viriam junto, ninguém ia conseguir segurar, seria o Inferno. - disse Gabriel num tom leve, e eu sabia que ele falou para tentar descontrair, continuei:
- Elas só aparecem quando faço um feitiço para mostrar ferimentos antigos. Eles poderiam ter resolvido suas diferenças comigo aqui fora, não lá de uma forma covarde. Por isso digo, que aparentemente eles tenham mudado, eu não baixaria a guarda tão cedo. - meus amigos me olhavam e eu comecei a falar num tom brincalhão:
- E vocês não têm idéia do quanto algumas garotas gostam de caras durões com cicatrizes, tem uma ‘policial’ no vilarejo...
- Vamos embora, ou Ty vai começar a contar em detalhes vívidos sobre a noite em que ele foi algemado na cama pela ‘oficial Sasha”. - disse Micah enquanto eles me arrastavam para fora da república, debaixo de piadas.
o-o-o-o-o-o-o-o
- Bati!- disse Annia, colocando as cartas na mesa, e sorrindo vitoriosa.
- Não é possível, você encantou as cartas. - resmunguei enquanto ela puxava para si, os confeitos de chocolate que ganhou.
- Mas ela só está ganhando assim, porque a Milla saiu com o Luka, porque se ela estivesse aqui, estaria no mesmo barco que nós. - disse Victor e rimos.
A tarde de jogos acabou se transformando em noite, e estávamos nos divertindo bastante. Seth e Luna, jogaram um pouco conosco, mas depois foram passear sozinhos, e como havia muita comida preparada pela Milla, que teve mais um daqueles seus surtos de culinarista na ultima semana, Geórgia convidou os outros garotos da Spartacus, para os jogos e consumir a comida excedente. Estávamos distraídos, quando Filipe veio nos chamar:
- Ty, Micah, tem um homem ai na porta procurando por vocês, o nome dele é Nicolau, e diz que é urgente.
Acompanhamos o primo da Evie, e realmente era o dono da boate do vilarejo nos esperando. As meninas o cumprimentaram, mas embora ele retribuísse, mantinha-se sério. Ele falou rápido e baixo, comigo e Micah, e pedimos a ele alguns segundos para resolver o que fazer:
- Griff, vem conosco, precisaremos de seus poderes de cura, para a Milla. - eu disse e Griff veio para o meu lado preocupado, enquanto as meninas se agitavam.
- A Milla, está passando mal, num dos quartos da pousada dele. Ele ficou com receio de chamar o diretor, porque sabe que ela é nossa amiga e que acabamos de sair da intervenção do Ministério. - explicou Micah e as garotas começaram a pegar seus casacos para ir conosco.
Fomos para a pousada, que nada mais era que um motel barato, nos fundos da boate. Quando entramos no quarto, Milla estava caída no chão, tendo uma convulsão e a garota que conhecíamos como Sasha estava com ela, junto de uma outra. Elas a mantinham deitada de lado. E para quem nunca tinha visto uma convulsão, era assustador.
- Nós tentamos colocá-la na cama, Nico, mas ela está tendo ataques seguidos, não sabíamos mais o que fazer.
Griff lançou um feitiço tranqüilizante nela, e ela começou a se acalmar, Vina passava um lenço no rosto da Milla, e disse:
- Ela está suando muito...Pode ficar seriamente doente, por ficar no chão frio.
- O que foi isso no rosto dela? Ela bateu quando caiu?- quis saber Micah.
- Já estava assim quando chegamos. - disse a garota nova.
Olhei para a marca avermelhada no rosto dela e disse:
- Isso foi um tapa, dá pra ver as marcas dos dedos. - disse revoltado.
- Ela disse que estaria com o Luka, cadê ele?- perguntou Evie e Sasha respondeu:
- Só os ouvi discutindo, e depois ele quase derrubou a porta quando saiu. Não ia me intrometer, mas eu a ouvi gemendo, achei que ele tivesse feito algo ruim com ela e quis ajudar. Quando entrei, ela estava caída no chão, tremendo, e logo as convulsões começaram, então chamei o Nicolau.
- O que foi que ela usou?- quis saber Griff e Vina disse empertigada:
- A Milla não usa drogas, deve ter tomado algum remédio para gripe por engano. - e foi apoiada pelas amigas.
- Isso é claramente uma overdose, e se não soubermos o que ela tomou, não vamos poder ajudar. Você sabe que ela pode ter danos neurológicos permanentes se ficar tendo convulsões direto.
- Olhamos por todos os lugares e não encontramos nada estranho. - disse Sasha e ajudamos Griff a colocar Milla deitada na cama, quando começou mais uma convulsão. Griff lançou mais um feitiço tranqüilizante e depois de olhar para Vina, disse:
- Temos que levá-la pra enfermaria, enquanto isso seria bom, acharem o namorado dela e descobrir o que foi que eles usaram. Não posso ficar lançando estes feitiços tranqüilizantes nela, são temporários, e eu ainda não sei o quanto da magia de cura usar num caso de overdose.
- Se você disser que ela usa drogas, eu vou bater em você. Preciso desenhar? Foi um engano, apenas isso. - disse Vina um pouco histérica e dava para ver os olhos dela cheio de lágrimas e as meninas estavam nervosas também, então Griff se calou, enquanto colocava mais um cobertor em cima da Milla.
- Levem-na para o castelo, vou atrás do Ivanov.- disse tenso.
- Vou com você, pegamos o Reno no caminho. Afinal temos que ter passe livre na Chronos.
Saímos rápido dali, e Wes e Victor vieram conosco. Lancei um patrono para ganhar tempo, e quando nos aproximamos da área onde se localizavam as repúblicas, Reno já vinha ao nosso encontro. Dissemos a ele, o que havia acontecido e ele ficou revoltado.
Entramos na Chronos atrás dele, e ele tranqüilizou os colegas de casa que achavam que era um ataque da Spartacus.
- Não se metam com eles, estão comigo. Ivanov, aprontou das suas, e pode nos por em alerta cinco novamente. Onde aquele estúpido está?
- Ainda não voltou para casa. - disse um garoto do sexto ano.
Subimos até o quarto que Max dividia com Luka, e nem batemos, entramos direto, assustando o seu morador.
- O que vocês fazem aqui? Este quarto é meu. - Max gritou espantado.
- Saia do caminho ou vai sobrar pra você Max. - e começamos a revistar todos os lugares, alguns garotos apareceram na porta e Reno sinalizou que fossem embora.
- A Milla foi hospitalizada por overdose, e ninguém sabe o que causou isso. - disse Victor ríspido.
Quando Max arregalou o olho, achei que ele sabia de alguma coisa. Troquei um olhar com meus amigos e eles achavam o mesmo.
- Na república ninguém a viu usar nada, então a fonte só pode ser o Luka. - eu disse enquanto revirava o colchão.
- Vocês são uns ingênuos mesmo, se Luka usasse alguma coisa, ele não deixaria aqui.
- Ai é que você se engana Max. Pessoas que acreditam na impunidade, são relaxadas e sempre deixam algo para trás. - disse Micah, enquanto remexia nas gavetas.
- Com certeza ele deixou algum rastro, e se nós acharmos alguma coisa aqui neste quarto, vai sobrar para você. - disse Wes.
- Nossa, vocês são bem papudos, devo tremer porque alguns estudantes intrometidos, resolveram bancar os detetives?
- Não. Mas podemos testemunhar contra você acusando-o de ser cúmplice do Luka e complicar a sua vida, afinal você acabou de sair de uma investigação de assassinato, seria um dos primeiros suspeitos se algo sério acontecer com a Milla. - eu disse sério.
- Mas eu não fiz nada. - ele disse tenso.
- Pode ser, mas até provar que focinho de porco não é tomada, você terá muita dor de cabeça. Sabe como as pessoas são, quando um boato começa. - disse Victor.
- É verdade Max, sabemos que se o Luka fez alguma coisa contra a lei, você saberia, é o seu melhor amigo e divide o quarto com ele. Você é inteligente o bastante para saber que bons testemunhos podem tanto ajudar quanto ferrar a vida de alguém. - disse Micah e Max, ainda hesitava.
- Faça um favor a si mesmo: salve a sua pele. Se decidir ficar calado, sabe que o professor Andrei vai igualar suas orelhas. - ouvir o nome do avô o fez decidir colaborar.
- Ele tem usado a Império nela. - ele disse baixo e paramos de mexer no quarto.
- Mas esta maldição não provoca sintomas de overdose. O que mais ele fez? - falou Wes.
- Há um perfume que ela tem usado, que foi modificado com uma poção do amor.
- Que tipo de poção?- como Max, demorasse, Reno insistiu: - Não temos a vida toda, que poção?
- Amortentia. - ele respondeu. - e assobiei incrédulo.
- Ele tem noção de que só por usar a maldição, ele ganha um passe pra Numengard? E ainda usa uma poção do amor proibida??
- Luka, está maluco pela Milla, e quando ela terminou com ele, ele não aceitou bem e deu um jeito dela voltar.
- Esta poção deixa a pessoa obcecada de amor, e Milla não está assim. Está normal. - disse Victor e eu comentei:
- Mas ele pode tê-la modificado, quando a misturou com o perfume, para ela ocultar os sintomas, Milla, tem estado diferente: muito elétrica, até bateu na Tatiana por ciúmes do Luka, não dorme e tem feito faxina e cozinhado como uma neurótica. Ela não é assim.
- Onde está o perfume? Posso identificar o que há nele e assim, a enfermeira pode dar um antídoto para a Milla. - disse Reno e olhamos para Max.
Ele se ajoelhou perto da cama, e deu 3 batidas e um compartimento secreto se abriu, e lá dentro havia um vidro de perfume muito bonito e ao lado um diário de capa púrpura. Max ia fechar o compartimento novamente, mas eu fui mais rápido:
- Accio diário! - e o diário veio parar na minha mão.
- Hey! - ele tentou tirar o diário de minha mão, mas Victor e Wes, o olharam feio, e ele se afastou.
Era o diário pessoal de Irina, irmã do Luka, e se estava escondido poderia haver algo que nos ajudasse. Folhei-o rapidamente e percebi uma letra bem feminina, das paginas do meio para o final, Irina relatava que ela e o irmão decidiram comprar a poção para usar em Milla e Yuri, pois a maldição Império, que vinham usando regularmente, não andava surtindo mais efeito. Ela havia detalhado tudo o que fizeram para afastar Yuri da minha prima Mary e Milla, do Iago.
- Vamos para o castelo. Agora sabemos o que temos que fazer. - disse Micah e começamos a sair do quarto. Max perguntou preocupado:
- O que vai acontecer comigo?
- Hoje nada, mas amanhã a escola inteira estará comentando que você é um dedo-duro.
Agora, era correr contra o tempo e tentar reverter os danos, que o ‘amor’ do Luka estava causando na Milla.
Continua....
sábado, 23 de maio de 2009
The Maiden and the Minstrel Knight (Final)
No dia do embarque, ela prendera uma das flores de violeta na orelha, e junto do pingente de meia-lua branca que ela carregava no pescoço, agora havia uma chave presa nele. Nos últimos dias, ela havia escondido o pingente dentro das vestes, sem querer mostrar que ainda o usava, mas sem coragem de desfazer-se dele. Quem não conhecesse toda a história por trás daquela única chave, acharia que se tratava apenas de mais uma excentricidade de Luna. Mas eu sabia o que significava aquela chave, aquela flor no cabelo, aquele pingente a mostra. Esses sinais foram suficientes para mim, pois mostravam que ainda não havíamos terminado e que ela aceitara minhas flores, assim como não recusara nossas ligações. Porém, eu aguardaria o momento certo de conversarmos, quando eu não pudesse estragar tudo de novo. Enquanto isso, eu simplesmente me encantava com ela a cada novo dia, meus olhos incapazes de desviarem dela, meu coração saltando toda vez que sentia seu cheiro, seu perfume e sua presença.
E também me irritava com os olhares dos outros garotos e viajantes do navio. Meus amigos estavam brincando, porém eu via que era verdade e muitos a encaravam com um olhar cobiçoso, e apenas minha vontade de não estragar tudo me impediu de voar em seus pescoços.
Eu tive a idéia de me desculpar primeiro com o restante das garotas de Avalon, e engolindo meu orgulho, enviei uma única rosa para cada uma delas, com um recado, pedindo que fossem para a cabine da Miyako. Evie, Milla, Nina, Annia, Lavínia e Gina, compareceram mesmo sem saber qual seria o motivo.
- Miyako, você sabe quem enviou essas rosas? – Evie perguntou, ao entrar no quarto e ver apenas ela.
- Fui eu, Evie. – Eu falei, levantando-me de uma cadeira.
- O que ele faz aqui? – Gina perguntou grossa e fechando o semblante. As demais garotas ficaram caladas, me olhando meio torto, enquanto Miyako ficava quieta, segurando o riso.
- Calma, Gina. Não vim discutir com vocês e nem tentar convencê-las de que eu estava certo.
- E você não estava mesmo. – Annia falou, cortando-me.
- Sim, eu estava errado.
- E não adianta insistir. É simplesmente ridículo você nos vigiando 24 horas por dia, indiretamente. Nem Luna, nem nós, vamos aceitar isso outra vez. Ahn?! Que ? – Vina falou, parando meio confusa ao notar o que eu havia dito.
- Repete? Eu acho que estou com problema de audição. – Milla falou também surpresa.
- Eu falei que eu estava errado. – Tomei ar para falar tudo de uma vez. – Quero pedir desculpas a vocês todas por tudo que fiz. Por invadir sua privacidade, por vigiá-las todas as noites e todos os dias, por não ter dado a vocês o direito de viverem suas vidas sem medo de ter alguém as olhando o tempo todo... Minhas intenções foram boas, mas errôneas, e sei muito bem disso agora. Quero muito pedir desculpas a vocês por qualquer inconveniente que causei e por tudo que fiz vocês passarem, mas lhes asseguro que, quanto à privacidade, não há motivos para se preocuparem. Nunca a invadi.
Elas ouviram ainda surpresas, enquanto eu falava defensivamente. Apesar da surpresa, notei que elas pareciam aceitar minhas desculpas. Apenas Gina que ainda me encarava furiosa, enquanto dirigia olhares para Miyako, acusando-a de cúmplice. Eu me aproximei dela e ela me encarava como se estivesse pronta para discutir comigo, porém eu respirei profundamente e falei, olhando-a nos olhos.
- Gina, a você eu devo a maior das desculpas. Você é uma ótima amiga, me conhece há muito tempo, por isso conhece meu jeito. Eu fui impulsivo e errado, nunca deveria ter envolvido o Harry na história, tudo não passando de puro ciúme bobo e insegurança. Eu queria realmente pedir perdão a você por tudo que falei, pois sei que foram coisas péssimas. – Eu falei, enquanto me ajoelhava e entregava uma nova rosa a ela. – Novamente, desculpas. Eu gostaria de fazer o que vocês desejarem para me redimir, se há alguma forma de eu me redimir, basta pedirem.
Novamente todas ficaram sem falar, mas Gina foi a primeira a reagir. Ela pegou a rosa e me levantou, abraçando-me em seguida.
- Seth, eu estava disposta a nunca mais falar com você, mas esse seu jeito de pedir desculpas me comoveu. Você, ao contrário do Harry, tem “tato” para essas coisas... – ela girou os olhos propositalmente e ri. - Você está desculpado. Desde que nunca mais envolva o Harry nessas discussões sem fundamento, está bem? Só eu tenho o direito de fazer isso e não faço, porque confio nele. E você, se ainda quer ter Luna de volta, terá que ter mais confiança nela. Em todos os sentidos. – ela disse me olhando sério e abri a boca pra responder, mas ela me interrompeu. – Ta, eu sei que você tem. Só precisa deixar de ser inseguro. Também não quero perder uma amizade duradoura como essa.
- Obrigado, Gina, de verdade. Eu não sei o que dizer mais para pedir desculpas, só quero que todas saibam que estou sendo sincero. Vocês poderiam me perdoar?
- Sim, poderíamos. – Elas responderam juntas, e cada uma delas me abraçou, como forma de aceitar o pedido de desculpas. Foi a Annia quem primeiro sorriu.
- Mas precisamos pensar em como fazer você se redimir... Meninas, o que vamos o mandarele fazer? – Ela falou rindo, enquanto elas começavam a bolar coisas que queriam que eu fizesse - muitas já me deixando constrangido.
Miyako sorriu, e me deu os parabéns por ter engolido o orgulho e ter pedido desculpas e também logo se uniu às garotas, bolando as mil e uma maneiras de me usarem por alguns dias, fazendo com que me arrependesse quase imediatamente de não ter estipulado somente um dia para a servidão voluntária.
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Noite de Gala
Na segunda noite da viagem ocorreu a chamada Noite de Gala, onde todos jantariam com o capitão do navio em roupas formais, em um belo banquete. Era à noite em que eu pretendia resolver tudo com Luna, pois não agüentava mais ficar longe dela e não agüentava mais passar os dias sem a presença dela ao meu lado.
Ela estava linda como sempre e controlei-me para não acabar com meu humor, pois muitos outros homens a olhavam, porém me controlei. Eu não estragaria nada essa noite.
Ela usava um longo vestido de gala, totalmente roxo, com golas e detalhes em prateado. Extremamente linda. Em seu pescoço estava pendurado o nosso pingente das luas gêmeas, o branco brilhando acima da roupa, me mostrando várias coisas nesse único ato.
Forever and ever we both will be one
The maiden, the fair and the young fell in love
Eu prestei pouca atenção ao jantar e aos demais, pois meus olhos não saiam dela e nossos olhares se encontraram diversas vezes, porém agora o mantínhamos. Em seus olhos eu via determinação e força, como sempre, e havia felicidade também, apesar de certo rancor. Eu tentava manter minha coragem, preparando para ter o amor de minha vida de volta.
Wherever I'll go you'll be with me
My first though and my last
We'll depart in bitterness
One day you'll understand
Carry on, beloved maiden, mine
Carry on, or we have to pay the price
Em um desses momentos que nos olhávamos, começou a tocar uma música lenta, uma valsa na verdade, e vi quando o capitão chamou uma das passageiras para dançar dando início à pista. Eu me levantei e me encaminhei até Luna, na frente de outros que tentaram o mesmo. Senti sua pulsação sair do ritmo por um segundo, enquanto seus olhos adquiriam um brilho curioso. Nós não tirávamos os olhos um do outro, até eu estar diante dela. Eu me curvei e ofereci o braço a ela, que aceitou e levantou-se com minha ajuda.
Eu não prestava atenção em mais nada e sabia que ela também não. Deixei-me levar pela música e pela sensação dela em meus braços novamente. Nós não falamos nada, apenas dançamos juntos, até certo momento em que ela deitou a cabeça em meu peito e eu baixei a cabeça, mergulhando meu rosto em seus cabelos loiros, respirando com certa dificuldade. Passamos a dançar assim, sem necessidade de palavras, apenas unidos novamente, enquanto matávamos a saudade um do outro.
- Senti sua falta, Luna. – Eu não consegui mais segurar e falei com o rosto ainda em seus cabelos. Lágrimas ameaçavam escorrer pelos meus olhos, mas me mantive firme.
- E eu senti de você, Seth. – Ela falou, abraçada a mim, porém usando meu primeiro nome.
- Gostaria de conversar. Você se importa? – Eu perguntei, após tomar coragem para ouvir a resposta.
- Não. Adoraria conversar com você. – Ela disse, a voz readquirindo a leveza de sempre.
Nós nos afastamos da pista de dança e eu a guiei até um dos conveses, onde poderíamos olhar a lua cheia. Ela se aproximou do parapeito e olhou o mar, encarando o reflexo das estrelas na superfície azulada e pura, enquanto eu fiquei do seu lado, observando-a. Ela se virou pra mim e notei que ela parecia reunir coragem para algo também, o que me fez sentir um frio na barriga.
- Luna... – Eu comecei, aproximando-me dela, que se afastou no mesmo ritmo.
- Não. – Ela falou, me mantendo afastado com uma das mãos em meu peito. – Temos muito que conversar.
- Sim, seu sei. – Eu assenti suspirando e novamente ficamos calados por um tempo. – Eu disse coisas horríveis, nunca deveria ter dito aquelas coisas. Não deveria nunca duvidar de você. – Ela continuou calada, me olhando com seus olhos azuis, porém eles pareciam frágeis e a ponto de chorar. – Eu...
- Seth, eu preciso falar uma coisa. – Ela falou me interrompendo.
- Fale. – Eu aguardei enquanto ela parecia brigar com palavras.
- Acho que devemos terminar. – Ela falou de uma vez, sem dar volta com palavras. Eu senti como se levasse um soco ou como se faltasse o chão sob os meus pés e a fitei sem entender.
- Do que você está falando?! – Eu consegui dizer, gaguejando.
- Acho que devemos terminar. Não quero mudar seu jeito, mas não quero machucá-lo acima de tudo. – Ela falou, e agora lágrimas escorriam pelo seu rosto, porém ela ainda me encarava firmemente.
- Luna, você só pode estar brincando. – Eu falei, enquanto grossas lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu começava a soluçar. Eu me aproximei dela novamente, tentando abraçá-la, mas ela me afastou novamente.
- Não ouse.
- Nós só tivemos uma briga! Não quero terminar com você. – Eu falei, enquanto meu corpo inteiro tremia de dor e tristeza.
- É o melhor para nós. Sei que encontrará alguém ideal para você. – Ela falou, enquanto também chorava e tremia, porém mantinha a mão firme em meu ombro, segurando-me.
- Eu já encontrei! É você! Não há outro alguém, não haverá outro alguém! – Eu falei, e notei que minha voz aumentou de tom.
- Não, Kam... – Ela falou, a voz cheia de tristeza, enquanto que sua mão tremia em meu peito. – Não quero mais machucar você, não quero mais te ver triste, falar coisas horríveis para você...
- E como acha que vou me sentir se terminarmos? Eu que falei coisas horríveis, eu que fui horrível, possessivo e idiota!
- Eu falei coisas horríveis de você também. Te chamei de monstro e falei sobre coisas que eu não poderia saber. – Ela falou, enquanto chorava mais fortemente. Eu não me contive mais e a abracei com força. Ela dessa vez não mais resistiu e chorou em meu ombro, enquanto eu chorava próximo ao seu pescoço.
- Eu que te fiz coisas horríveis. Não confiei em você e cheguei a acusá-la de desejar estar com outro. Mas por favor, eu não sei viver sem você. Eu te prometo que mudarei.
- Você não tem o que mudar, Kam. Você é o garoto, o homem, mais fofo e carinhoso que eu já conheci, e nunca acharei alguém como você. Por isso não quero mais te magoar do jeito que magoei. Não quero mais ver você chorar! – Ela falou, enquanto socava meu peito, ainda chorando. Sua voz transmitia desespero e tristeza como eu nunca havia visto nela.
- Eu quero fazer você feliz... – Eu falei entre soluços, acariciando seus cabelos. – Só serei feliz com você, Luna.
- E se eu te machucar novamente? E se eu te magoar novamente? Te fazer chorar?
- Você me faz o homem mais feliz do mundo. Eu mudei por sua causa e por você, graças a você eu sou o que sou. Luna, você me salvou, você é a mulher que eu amo e quero passar minha vida inteira ao seu lado. – Eu falei, soluçando. Ela me abraçou com força, como se tentasse me confortar.
- Você será feliz com outra garota. – Ela falou, se afastando um pouco.
- Eu não quero outra pessoa! – Eu falei, socando o parapeito. – Eu quero te fazer feliz, e só serei feliz com você! Você não entende isso? Eu errei em achar que você era frágil, errei ao te vigiar tanto. Eu prometo que te farei feliz.
- Não comece a puxar toda culpa pra você. – Ela falou, a voz agora também cheia de irritação. – Se vai mudar, comece por parar de achar que apenas você errou. Eu errei e muito. Te fiz sofrer quando só deveria lhe dar apoio e estar ao seu lado.
- Luna, todo relacionamento tem momentos de dificuldades, e quero passar por eles junto de você. – Eu falei, e segurei seu rosto entre minhas mãos, obrigando-a a me olhar. – Luna, eu amo você. Sempre amarei e nunca haverá outra pessoa.
- Seth...Kam, por favor não...Chega disso tudo. – Ela falou, sem tirar os olhos dos meus. Eles estavam vermelhos pelo choro, mas determinados. Eu suspirei cansado e me joguei em seus braços, chorando em seu ombro novamente. Ela me abraçou com força, tentando me acalmar. – Você é a melhor pessoa que eu já conheci, por isso quero apenas sua felicidade, e eu acho que não é comigo, não é assim, que você vai encontrá-la...
- Eu não serei feliz sem você! – Eu repeti com a voz rouca pelo choro e abafada pelo abraço dela.
- Será sim, você era feliz antes de me conhecer.
- Não, não era! Eu sequer conhecia o verdadeiro significado de felicidade.
- Era sim. Você tinha sua família sempre ao seu lado, seus amigos... Você encontrará alguém perfeito pra você.
- Eu já encontrei e não perderei o amor da minha vida. Não dessa maneira. Eu sou o teimoso, se lembra?
- Kam, por favor... – Ela começou a chorar novamente. – Não torne tudo isso mais difícil.
Ela me abraçou amolecida e tomei novo fôlego, apesar de meu coração parecer que estava sendo arrancado aos pedaços e eu me sentia fraco como nunca em minha vida. Após algum tempo, nos afastamos, porém eu ainda estava determinado. Eu a mantive presa em meus braços e a obriguei a me olhar.
- Luna, você realmente quer que eu vá embora da sua vida? Realmente quer que eu nunca mais esteja com você? Realmente quer que nos afastemos? Se sim, se você realmente quiser isso, eu lhe prometo que a deixarei em paz. Lhe prometo fazer pelo menos isso, mesmo que custe minha vida e a minha felicidade, embora você não acredite que ela seja real ao seu lado... Eu estou disposto.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Ela ficou calada por um longo tempo, enquanto não parava de chorar, olhando no fundo de meus olhos. Eu também chorava, mas mantinha o olhar fixo e determinado. Se fosse isso que ela realmente quisesse, eu faria de tudo para que ela fosse feliz, mesmo se fosse com outro alguém.
- Não. Eu quero você sempre do meu lado. Quero você sempre abraçado a mim, quero você sempre comigo, na felicidade e na tristeza... – ela se rendeu cansada e eu não a deixei falar mais nada.
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Will you still wait for me?
Will you still cry for me?
Come and take my hand
Proudly it stands
Until the world's end
The victorious banner of love
Puxei-a para meus braços, e a abracei com força, beijando-a longamente enquanto praticamente a levantava do chão. Ela abraçou-se a mim com força também, como se sua vida dependesse disso, e a mantive junto a mim. Nossos corações batiam como um só, nossos lábios moviam-se em perfeita sincronia, nosso beijo longo e cheio de amor, carinho, saudade e o medo pela possibilidade de nunca mais estarmos assim: juntos. Matávamos a saudade um do outro em um beijo intenso e caloroso, longamente...
Após um tempo, não sei ainda quanto tempo ficamos nos beijando, nós separamos nossos lábios, mas não nossos corpos, presos em um forte abraço. Encostamos a testa um no outro, enquanto recuperávamos o fôlego.
- Eu amo você, Kam. – Ela falou, sorrindo pra mim, enquanto acariciava meu rosto. – Obrigada por não me permitir fazer a maior loucura da minha vida.
- Não diga mais nada, Luna. Eu nunca deixaria você ir embora, eu não sei viver sem você. Eu amo você, Luna. Hoje e sempre.
Nós sorrimos novamente, nos entregando a outro beijo, tão longo quanto o primeiro. Eu a peguei em meus braços, sem deixar seus lábios longe dos meus, e a levei para minha cabine, onde prometemos nunca mais ficar longe um do outro.
N.A.: The Maiden and the Minstrel Knight, Blind Guardian.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
The Maiden and The Minstrel Knight I
Das Lembranças de Seth K. C. Chronos
“Todo ser humano, ao estar perdido procura a luz. Mas e se essa luz não estiver mais presente? E se você foi o responsável por ela ter desaparecido? O que fazer? Faça a fonte de luz surgir novamente”.
Uma palavra definia meu estado de espírito: culpa.
Sentia-me culpado por tudo que havia feito, sabendo que estava completamente errado, mas orgulhoso demais para aceitar este fato, enquanto ouvia minha consciência me falando a cada segundo que deveria engolir meu orgulho.
A culpa trazia a dor e o sofrimento e agora não tinha ânimo para nada, apenas querendo ficar quieto num canto. Por isso nos últimos dias eu passava a maior parte do tempo na república, e apenas meus amigos tinham coragem de chegar perto de mim. Lembro-me que um calouro tentou me tirar do quarto porque queria jogar Snap Explosivo com os amigos, porém ele desistiu quando rosnei pra ele. Desde então ninguém tinha muita vontade, e coragem, de testar meu humor.
Na noite em que brigamos, passei a noite inteira em claro. Não a vigiando nem nada, mas apenas chorando e pensando. Meu peito ardia e doía, pois sabia que havia feito algo de muito errado, a machucando como ninguém seria capaz. Eu tentava a todo custo ignorar o som do choro dela, que eu ouvia mesmo a distância, tentava ignorar as batidas descompassadas de seu coração, mas não conseguia. Sequer conseguia dormir para esquecer...E o que me doía mais era o fato de saber que se fosse outra pessoa que tivesse feito isso, eu teria rasgado-a em pedaços, mas como iria fazer isso a mim mesmo? Acredite, eu tentei, mas as marcas de garras sumiam de meu braço com rapidez.
Eu só freqüentava as aulas forçado por Gabriel, Ty, Griffon, Isaac e Miyako, principalmente depois do primeiro dia que eles descobriram que tentei mandar uma ilusão minha para a sala. Miyako era a única garota que ainda falava comigo, apesar de concordar que eu havia exagerado, porém ela via que eu precisava de ajuda, e eu a agradecia muito por isso. Todas as outras garotas evitavam falar comigo, sendo que Gina sequer olhava nos meus olhos. Eu não as culpo, sei que fui péssimo nos últimos dias...
Mas se sei, porque não admito para elas?! Por que ser tão orgulhoso?! Eu também queria saber...
Na verdade, eu passava a maior parte do tempo com Miyako e Gabriel, que tentavam me animar e me ajudar, e também brigavam comigo pelo jeito como estive agindo.
- Você a estava sufocando, Seth. Nenhuma garota iria conseguir conviver com isso. – Miyako explicou pela enésima vez durante uma tarde em que ela e Biel me fizeram companhia em um dos jardins.
- Depois de tudo que ela passou eu estava muito preocupado! Ela passou por tanta coisa por minha causa! – Eu falei, novamente a emoção a flor da pele.
- A gente sabe muito bem disso, caso se lembre, nós também éramos alvos, esqueceu? Olha, não quero um vampirão me vigiando o tempo todo! Se for a Cewyn, eu posso pensar nisso... – Biel falou, tentando me fazer rir.
- Nós sabemos disso tudo, e tenho certeza que ela também entende, mas você tem que entender também que ela não é nenhuma boneca de porcelana! Francamente, Seth, você o que eu considerava o menos machista de todos, me decepciona pensando assim! – Miyako falou, levantando as mãos pro alto indignada, me fazendo rir um pouco.
- Eu estava apenas preocupado. – Teimei.
- Apenas? Você estava uma pilha de preocupação desnecessária! Você a vigiava 24 horas por dia, passava as noites acampado perto da república. Sabe que invadiu a privacidade tanto dela quanto das outras garotas, certo? – Biel falou, meio chocado.
- Espero que não tenha bancado o pervertido! – Miyako falou séria, enquanto se cobria com uma das mãos e o olhar amedrontado, me fazendo rir novamente.
- Pode ter certeza que não, Mi! Até parece que eu sou assim! – Eu falei indignado. – Eu não sei o que fazer...
- Que tal primeiro admitir seus erros? – Miyako falou, colocando a mão em meu ombro.
- Eu sei que errei, mas não consigo colocar isso pra fora...Tenho medo de machucá-la mais...Como ela está? – Eu perguntei, levantando os olhos.
- Ela já esteve melhor... – Miyako explicou, evasivamente.
- Miyako... – Eu a olhei sério, aguardando ela falar algo.
- Isso já é um começo, não tem vigiado mais ela. – Gabriel falou, animado.
- Eu não tiro os olhos dela durante a aula, não passo um minuto do dia sem ouvir seu coração e sua respiração, sem sentir seu cheiro...Mas não, não a estou espionando, não farei isso novamente. – Eu falei cansado, suspirando. Miyako sorriu.
- Isso sim é um começo. Sério, Seth. Vocês se amam, qualquer um vê isso. Ela não está bem. Ela faltou às aulas no dia após a briga.
- Eu notei.
- Sua ilusão notou. – Gabriel falou sarcástico, lembrando de como Isaac me fez prometer não fazer isso novamente.
- Sim. Ela ficou muito chocada com as coisas que você falou e irritada também. Mas ela também está preocupada com você, porque ela sabe que falou coisas péssimas para você. – Biel continuou tentando me acalmar, pois eu segurava as lágrimas.
- O essencial é agora vocês darem um tempo, deixar um pensar nas coisas que fez e falou... Se vocês se anteciparem, podem estragar tudo de vez! – Miyako falou, tentando me animar novamente. Eu mergulhei o rosto nas mãos e eles ficaram calados, apenas me dando forças com sua presença.
Nos dias seguintes, Luna tentava me ignorar, e eu também tentava não forçar nada, apesar de meu olhar sempre procurá-la. Em alguns momentos nossos olhares se cruzavam, e eu sentia ao mesmo tempo felicidade e esperança, mas também tristeza. Pois via o brilho que seus olhos adquiriam ao me olhar, mas também via a tristeza por trás deles...
There's a moment in life
When all the years will pass by
and the eyes filled with tears
we once shed
we recognize failures
the desperate cries
of the ones who believed in our lies
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Alguns dias depois (Em torno de cinco dias após a briga)
- Sai daí agora Seth, já cansei de você enfiado nesse quarto! – Ty falou, enquanto pulava em cima de mim e tentava me puxar. Eu continuei no lugar, olhando pra ele sem emoção.
- Vamos, Seth, animo! Agora você está livre para outras! – Griffon falou, rindo, porém fechando a cara e desviando de um travesseiro que rachou a parede. – Ei! Cuidado ai!
- Então saia da minha frente. – Falei seco, sem paciência para as brincadeiras dele.
- Cara, nunca havia visto um vampiro de mau humor, ainda mais um vampiro depressivo! – Reno falou, enquanto se sentava em uma das camas me encarando. Micah, Wes e Ricard também se sentaram, todos tentando me fazer sair do quarto.
- Então saiam, não pedi que entrassem. – Falei acidamente para ele, fazendo-o sorrir.
- Só vamos sair daqui quando você se animar! – Biel falou, tentando me animar, sem muito sucesso.
- Ah, quando descobrirem como me animar, me avisem.
- Pois temos um jeito! – Micah falou, animado. – Esqueceu da viagem de formatura?
- Isso mesmo! Caribe, Seth! Calor, Sol, Água fresca, Diversão, Sem Ministério! – Wes enunciava, contando os dedos.
- Ah sim, um monte de gente bebendo, dançando e se divertindo, comigo em um humor doido que caia uma tempestade? Muito obrigado. – Falei seco novamente, revirando os olhos e dando de ombros.
- Ah Seth, vai ser divertido! Terão várias atividades no navio e fora dele também! – Ricard falou, me dando um tapinha no ombro.
- Dispenso.
- Ah qual é, Seth! É nossa formatura! – Biel falou chocado.
- E não adiantar falar que não gosta de sol, você foi pro Egito não foi? – Reno lembrou, me fazendo olhar para ele com um olhar assassino e virar a cara.
- Me dêem um bom motivo para ir. E se falarem em sol, bebida, dança e não sei mais o que, eu taco vocês pela janela. – Falei, o humor totalmente esgotado.
- Garotas? – Ty falou, dando de ombros. Ele levou um travesseiro na barriga voando para cima de uma das camas. Ele levantou massageando a barriga e reclamando comigo.
- Tudo bem então, Seth. Fica aí! – Ty falou, fingindo estar chateado. – Bem, quem vai convidar a Luna pra dançar primeiro então? Eu estou na fila já!
- E ela na piscina de biquíni? – Biel emendou, rindo. Meus olhos brilharam em desafio a eles.
- E ela vai estar tão sozinha...Vai precisar de companhia! – Ricard falou, suspirando.
- Desde que ela confirmou que iria, ouvi muitos garotos falarem que iriam também...Afinal todos querem conferir como ela é. – Wes falou assoviando.
- E agora que ela vai estar solteira, vão chover garotos em cima dela... – Reno comentou, suspirando, fazendo os olhos vagarem pelo quarto. – Pena que já estou com a Jullie...
- Sabe como é né, Seth? Estão todos curiosos... Eles querem conferir como ela é. – Micah falou suspirando também.
- Conferir o que?! Ela vai?! – Eu perguntei, agora totalmente interessado, sem esconder o ciúme.
- Ah, VOCÊ sabe como é, Seth... Todos querem saber como ela é sem uma túnica da sorte ou sem os brincos de nabo... Estão todos curiosos e ... – Griffon começou, dando de ombros, deixando indiretas no ar.
- Se você falar a palavra “excitados”, Griffon Fuuma, eu juro que jogo você pela janela! – Eu falei, desafiando-o, os olhos brilhando de ciúmes e interesse, agora de pé, encarando-o nos olhos. Todos eles riram abertamente e notei de cara que eles queriam isso desde o início, mas eu não me importava, pois estava realmente enciumado e interessado.
- E-X-C-I-T-A-D-O-S! – Ele falou, frisando cada letra. Meus olhos brilharam e eu taquei um travesseiro nele.
- Muito bem, vocês venceram, eu irei à formatura. – Falei, aceitando a derrota e todos começaram a rir, enquanto implicavam comigo.
- E acho que já ta na hora de você engolir o orgulho e tentar voltar com a Luna. – Reno falou, enquanto comentava sobre a viagem.
- Eu já fui até a porta da Avalon duas vezes, mas fiquei sem coragem de tentar falar com ela. – Eu admiti, suspirando.
- É a primeira vez que ouço falar de um vampiro medroso... – Ricard comentou, chocado.
- Acho que você deve tentar conversar com ela, Seth. E quer um lugar melhor do que o Caribe? – Gabriel falou rindo.
- Eu vou tentar...Não vou deixar a garota que eu amo ir embora por minha causa. – Eu falei decidido, esperança voltando a brotar em meu coração.
- Esse é o vampirão que eu conheço! Mas sério, Seth, eu sou o primeiro da fila pra dançar com ela ouviu? – Ty falou, levando outro travesseiro no rosto.
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No dia seguinte, na véspera do embarque.
Por Luna Lovegood.
- Luna, tem uma entrega pra você. – Milla falou, a voz cheia de curiosidade e emoção.
- E que entrega! – Annia comentou, suspirando também.
- Eu não estou esperando nada. Os novos colares só chegariam após a viagem. – Luna falou, a voz meio fraca, parando de arrumar suas malas. Ela ficou um tempo encarando as chaves que Seth lhe dera de Natal, em dúvida se levaria ou não, assim como o pingente preso em seu pescoço, pois ela não conseguia se desfazer deles.
Ela foi até a porta e deixou escapar um suspiro de susto. Diante dela estava uma quantidade enorme de tulipas, copos de leite e violetas, arrumadas em diversos arranjos. As garotas ajudaram-na a levar tudo para dentro, enquanto ela parecia à beira das lágrimas.
- Não tem cartão. – Evie comentou, procurando um indício de quem mandara tantas flores.
- Você ganhou um grande admirador. – Gina falou, apesar de saber quem enviara as flores, e apesar da raiva que sentia dele, não pode deixar de considerar um gesto muito belo.
- É só você ficar solteira que chove garotos atrás de você! – Annia falou rindo, enquanto pegava uma tulipa para cheirá-la.
- Você sabe quem mandou, não sabe? – Miyako perguntou, já sabendo a resposta. Luna ficou um tempo apenas encarando as flores, os olhos cheios de lágrimas, que misturavam alegria e raiva também. Ela apenas apertava o pingente com força, deixando os nós dos dedos brancos.
- Foi ele. Apenas ele sabe esse tipo de coisa que eu gosto tanto. – Ela falou, sem mais conseguir conter um enorme sorriso, sendo abraçada por Miyako e Gina. Não adiantava, por mais que ela quisesse, ela não conseguia ficar longe dele, e muito menos ele dela.
Yesterday's memories
And melodies
Are gone with the wind so sad
Snow-white her hands and golden her hair
But she's not the one out in the emptiness
Where everything's pale
There is no sign of you
I'm alone
How I wish you would be here
I'm alone
Telling me it's all right
Come rest your head
Come rest your head
Come rest your head
Come rest your head
I'm alone and sadness
Reigns in my heart
As long as we live
It won't go away
We are one
But torn apart
To be continued…
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Culpa
- ‘Sobre a Escuridão’, Seth Kamui Capter Chronos.
Das lembranças de Seth K. C. Chronos
A Greve havia sido um sucesso! Todas as pessoas que assinaram a lista que eu circulei pela escola compareceram à greve, sem exceção. Para dizer a verdade, todos os alunos de Durmstrang, assim como os alunos hospedados na escola de Beauxbatons e Hogwarts participaram da greve. Na hora marcada, centenas de alunos saíram de suas salas indo para o campo de quadribol, e ficamos lá por 22 horas. Sofremos com o frio, a fome e a pressão psicológica do Ministro Búlgaro, porém todos estavam unidos e se apoiando e todos resistiram até o fim. Apenas a Evie não resistiu, e algo me dizia que foi algo mais sério do que ela nos contava.
Luna e eu passamos o tempo todo da greve juntos, conversando com nossos amigos enquanto esperávamos o tempo passar e o Ministro desistir. Ela estava animada, extremamente feliz em participar da greve, e a todo o momento falava que tudo ia dar certo, eu sabia disso também, principalmente depois que soube que Tio Quim estava se movimentando para nos ajudar. Não quis falar para ninguém, mas desde o início eu sabia que daria certo.
Em certo momento, muitos alunos dormiam, enquanto tentavam se aquecer de alguma forma, e eu era um dos poucos acordados, pois poderia ficar ali dias sem me importar. Eu abraçava Luna, enquanto a mantinha aquecida e ela dormia em meus braços. Eu usei esse tempo “sozinho” para vagar novamente pelas lembranças de Isaiah, revendo suas memórias e conhecendo seu passado. Buscava informações sobre Cadarn e Gustav e conseguia muitas coisas importantes. Em breve eles me pagariam por tudo que fizeram a todos os meus amigos, e principalmente à Luna... Eu já a deixara sofrer uma vez, sem ter feito nada. Agora, nada nem ninguém me impediria de mantê-la em segurança.
Eu sentia algo estranho. Parecia que eu tentava ver o futuro, mas não conseguia com exatidão. Muitas coisas estavam em andamento, muitos sentimentos e emoções em movimento. Uma delas eu tinha certeza que era à saída do Ministério, porém havia a chegada de novas pessoas, e eu não sabia quem seriam elas. Isso me preocupava, pois não conseguia identificar o que realmente estava por vir. E eu sentia uma forte mudança de humor na direção de mim e de Luna, e me deixava muito preocupado. Porém deve ser a sina daqueles que vêem o futuro: eles se perdem tanto em visões que são incapazes de ver o próprio caminho. Eu não era uma exceção, e às vezes tinha dificuldade de ver o que aconteceria comigo. Mas isso eu considerava um alívio, pois viver sabendo o que está por vir é uma das maiores torturas que pode haver.
No dia seguinte após o final da Greve, quando Tio Quim, Tio Wayne e o Sr. Igor Stardust chegaram a Durmstrang e após uma conversa séria com o Ministro Búlgaro, liberaram os alunos da ditadura do ministério, os únicos aurores ainda presentes na escola eram os aurores do clã. Os alunos, porém não reclamavam deles, até agradeciam sua presença, pois deste o ataque à escola, muitos ainda tinham medo de um novo ataque, e os aurores do clã faziam a segurança. Isaac era o líder deles e nos deu os parabéns pela iniciativa da Greve.
Era de noite, para ser mais exato, estávamos todos conversando e jantando no grande salão principal, quando senti novamente a chegada de novas pessoas. Eu as reconheci de imediato, e abri um sorriso ao mesmo tempo em que já começava a ficar sem graça. Todas as cabeças, sem exceção, fossem elas de homens ou mulheres, de alunos ou professores, viraram para as grandes portas, sendo eu o único a não olhar. Griffon e Ty pareciam prestes a babar, principalmente o Ty, que tinha um olhar vago e sonhador. O mesmo olhar estava nos olhos de todos os outros garotos, e inclusive nas garotas. Luna sorriu para mim, pois ela já sabia quem era, na verdade ela estava curiosa para conhecê-los. Eu senti as centenas de olhares seguindo duas figuras que se encaminhavam para onde eu e o resto do pessoal estávamos sentados, e me virei quando ela me puxou para um forte abraço, me beijando no rosto. Era Cewyn.
- Seth, querido! – Cewyn riu sua voz fazendo os corações de todos acelerarem. Ela continuava abraçada a mim, até eu retribuir o abraço. Vi como os outros garotos me olhavam com certa inveja.
- Olá Cewyn, o que faz aqui? – Eu perguntei, corando.
- O que mais? Vim ver você! – Ela falou, sorrindo para mim. Agora se os outros tinham alguma dúvida de que eu e ela tínhamos algo, essas dúvidas desapareceram.
- Você está deixando ele sem graça, querida! Todos queriam estar no seu lugar não é? – Derfel falou ao meu ouvido, rindo enquanto me abraçava também e depois abraçava alegre Griffon e Ty.
- Deixem-me apresenta-los. Estes são Miyako, Gabriel, Evie, Micah, Chris, Reno, Milla, Annia, Gina, Ricard, Victor e Vina, são nossos amigos. E esta é Luna, minha namorada. Pessoal, estes são Cewyn e Derfel. Já falamos deles para vocês. – Eu falei, apresentando-os. Cewyn sorriu para todos e senti a pulsação dos garotos saltar, enquanto Derfel apertava a mão de todos com largos sorrisos. Todos balbuciaram apresentações e sorrisos, mais ainda tinham uma expressão de encanto no rosto, principalmente os garotos que não tiravam os olhos de Cewyn. Eu não os culpava, pois ela é uma das mulheres mais belas que conheço.
- Obrigada, Seth. – Ela sorriu pra mim, lendo meus pensamentos. – Voltaremos em breve, precisamos falar com o Diretor e com o Isaac ainda.
- Voltem logo! – Ty falou com os olhos sonhadores seguindo Cewyn.
- Ty, você ta babando... – Griffon brincou, pegando um guardanapo para ele.
- Você também Griffon! Espera só ela ficar sabendo... – Miyako falou rindo, deixando no ar sobre Emily, e fazendo Griff ficar com ar convencido.
- Mas a Emily treme nas bases quando vê o Derfel! Ela disse que ele é O Cara! Educado, forte, corajoso, engraçado e L-I-N-D-O! – Ty provocou imitando a voz de uma garota, soltando um suspiro e deixando Griffon carrancudo e ciumento.
- Todos estão babando! Uau! Ela existe mesmo ou isso foi um sonho?! – Ricard perguntou, enquanto voltava a respirar novamente.
- Nunca mais vou olhar um garoto da mesma forma depois do Derfel... – Evie falou, e Micah concordou, pensando em Cewyn, antes de se tocar e ficar meio carrancudo, fazendo todos rirem.
Cewyn e Derfel vieram para ficar na escola, pelo menos por enquanto e durante a noite, obviamente. Eles reforçariam a segurança da escola durante o período mais perigoso, que era durante a noite. O papel principal deles era garantir a segurança de mim, de meu irmão e de nossos amigos. E era uma boa forma de mostrar que vampiros e humanos poderiam viver em boas condições. A presença deles era importante também pelo fato de que em muitas noites, eu e Griffon saíamos em caçadas, e Derfel e Cewyn nos substituíam na defesa...
“They are the legions of the night.
Turning darkness into... turning the dark into light.
Behold the skies; the port of heaven takes the stairway down to hell.
The gate is open lift the curse.
We set aside our dreams, ambitions;
We are one, we will unite.
At the Threshold of the universe, we will rise!”
“Eles avançavam sozinhos, liderando o ataque. Eles que eram a elite do exército, aqueles que prometeram andar nas trevas para fazer a luz nascer. Aqueles mais poderosos e mais temidos, treinados para caçar e destruir. E a frente deles ia seu líder, o exemplo maior de trevas trazendo luz. Sua aura negra esvoaçava como uma capa escura, engolindo a noite, porém eles sabiam que ele trazia a luz. A aura crescia cada vez mais, como labaredas espalhando-se e destruindo. E seus inimigos temiam. Pois diante deles surgia o grande caçador das trevas e seus seguidores”.
Era mais uma noite em que eu fazia vigília próximo a Avalon, tendo certeza de que Luna estava bem. Eu raramente sentia sono e não me cansava, porém se fosse uma pessoa normal, não conseguiria passar tantas noites em claro. Fosse caçando ou vigiando, Cewyn geralmente estava comigo nessas horas, apenas sentada encarando o luar, apenas tendo certeza de que eu estava bem.
- Você faz isso sempre? – Ela perguntou nessa noite, tirando os olhos das estrelas para me encarar. Nós estávamos sentados em uma varanda secreta do castelo, de onde tínhamos uma ampla visão dos terrenos da escola, e principalmente da Avalon e demais repúblicas.
- Isso o que? – Perguntei, olhando-a também. Controlei o pensamento de que eu tinha que admitir o quanto ela era bela e que ela me fazia sentir algo de diferente. Ela sorriu para mim, sempre lendo meus pensamentos.
- Isso de passar as noites vigiando-na.
- Sim. Não permitirei que nada aconteça a ela novamente.
- Não se aprende sem erros... E se há ago que aprendi em minha longa vida, é que a vida é feita de dores e sofrimento, para que após tudo isso haja a felicidade.
- Eu concordo, mas se posso evitar sofrimento, não há porque deixar de fazê-lo.
- Ela é tudo menos fraca, Seth. Em toda a minha vida eu encontrei poucas mortais com tanta força quanto ela. Na verdade, nos últimos anos encontrei muitas mortais assim. A não ser que eu não deva considerar sua mãe como mortal, ela está longe de ser mortal.
- Sim, mamãe está longe de ser uma mortal qualquer... Eu sei que a Luna é forte, mas eu não quero que ela fique em perigo.
- Você a subestima. E isso pode ser ruim. Se ela desejasse um guarda-costas, ela contratava um, e não namorava um. – Ela falou, a voz bela cortante.
- O que quer dizer?
- Quero dizer que você a protege demais. Ela é forte o suficiente para se virar sozinha. Você pode estragar tudo sendo assim.
- Proteção nunca é demais. – Falei começando a ficar de mau humor. Ela gargalhou e com um movimento rápido, estava abraçada a mim, beijando minha bochecha, deixando-me com calafrios.
- Você tem muito que aprender, filho. Mulheres gostam de um pouco de aventura. – Ela falou rindo novamente, enquanto pulava para fora da varanda, mergulhando na noite escura. Eu a ignorei e continuei o resto da noite vigiando a escola.
- Você fez de novo, não fez Kam? – Luna perguntou, me encarando com seus olhos calmos, porém cheios de energia, enquanto brincava com uma mecha de seus cabelos dourados, passando a olhar depois para as nuvens cinzentas.
- O que? – Fiz que não entendi, enquanto pegava uma torrada.
- Passou a noite em claro me vigiando. – Ela falou certeira, os olhos brilhando.
- Vigiar não é a palavra certa. Estava deixando você em segurança. – Eu falei, enquanto beijava sua mão. Ela se deixou abraçar por mim, enquanto saíamos para os jardins, mas continuava a falar.
- Eu estou em segurança, Kam. E porque você foi caçar novamente?
- Do que está falando? – Fiz que não entendi novamente.
- Não se faça de bobo, Kam. Acha que não sei quando você sai durante a noite? Eu já te pedi para não sair caçando assim durante a noite.
- Eu quero ter certeza que está tudo bem, não quero ser pego desprevenido por Cadarn.
- Kam, ele não vai atacar tão cedo... Ele quer vingança, mas não é idiota.
- Mas eu o quero destruído o mais rápido possível.
- Kam, por favor, como você acha que eu fico sabendo que você sai durante as noites para caçar um vampiro maluco sozinho? – Ela perguntou, agora séria, olhando em meus olhos.
- E como acha que eu me sinto sabendo que tem um louco querendo seu sangue a qualquer custo? – Eu rebati, também a olhando em seus olhos.
- Eu sou o de menos. Ao contrário de você, eu não vou atrás dele. E ele não vai conseguir me tocar enquanto tiver tantas pessoas por aqui.
- Você é tudo menos o de menos! Você é a pessoa mais importante pra mim. Não iria me perdoar se algo acontecesse.
- Há coisa que são inevitáveis. Você também é a pessoa mais importante para mim, Kam. Por isso eu te peço para ter cuidado. Olhe que flores lindas !
Ela falou, puxando-me pelo braço enquanto corria para cheirar várias flores. Eu sorri para ela, impressionado como ela conseguia mudar do sério para o sereno em questão de segundos, e a abracei com força, levantando-a do chão, beijando-a longamente.
Naquela noite eu, Luna, Miyako, Cewyn, Gabriel e Gina íamos juntos para Avalon, conversando animadamente. Eu e Luna andávamos de mãos dadas, bem próximos um do outro. Luna e Cewyn estavam se dando muito bem, como eu imaginava que se dariam, e rapidamente tornaram-se melhores amigas, como se uma conhecesse a outra há eras. A maioria das pessoas achavam que Luna deveria estar com ciúmes de mim por causa de Cewyn, e achavam estranho as duas se darem tão bem.
Quando chegamos a Avalon ficamos mais um tempo conversando, enquanto as garotas trocavam risadas e comentários com Cewyn, deixando a mim e ao Biel meio perdidos. Quando elas terminaram, combinando com Cewyn de reunir todas as garotas para uma espécie de festa, fomos nos despedir e beijei com carinho Luna, enquanto ela se colocava na ponta dos pés para falar comigo.
- Não vá ficar essa noite toda acordado ouviu? E não adianta fingir, Cewyn vai me contar.
- Eu só quero ter certeza que está tudo bem...
- Kam, por favor.- Ela falou enquanto os seus olhos azuis me encaravam e eu suspirei.
- Está bem, pedindo assim eu não consigo resistir.
- Gente vamos indo, antes que tenhamos diabetes! – Gina brincou, puxando Gabriel pelo braço, eles se afastaram conversando, nos deixando um pouco a sós.
- E não vá sair para caçar. – Ela falou me encarando, com um olhar brilhante e certeiro. Começamos a andar de mãos dadas e seu tom de voz, embora sereno, era determinante.
- Eu não vou...
- Não adianta mentir para mim, Seth Kamui Capter Chronos! – Ela falou meu nome completo, brincando, mas notei a diferença em sua voz. – AI. – Luna sufocou um grito de dor em meu peito quando bateu o pé em uma pedra. A apoiei com firmeza fazendo-a sentar no chão, os olhos cheios de lágrimas.
- Luna! Ta tudo bem?! Calma. Deixe eu tirar sua bota para ver... Será que quebrou alguma coisa ou...? – comecei a falar aos atropelos e já começava a desamarrar seu sapato quando ela me impediu, com as duas mãos em meus ombros, me olhando com delicadeza.
- Está tudo bem, Kam. Foi só uma pedra. Não está doendo mais. Não se preocupe...
- Não. Me deixe ver isso. Você pode ter quebrado algum dedo ou ao menos, torcido o pé. – insisti e ela novamente me impediu.
- Já disse que estou bem. Não comece com isso de novo, por favor?! – se levantou sozinha com um tom meio azedo e me assustei, levantando em seguida e encarando-a. Ela pareceu me avaliar uns segundos, antes de sorrir delicadamente, me abraçando. – Você ainda não me prometeu que não vai mais sair de noite... – disse serenamente perto do meu ouvido e fechei os olhos, cansado.
- Só quero ter certeza que está tudo bem... E ter certeza de que não estão armando nada.
- Você não quer apenas uma desculpa para lutar, quer? – ela se afastou me olhando séria e tensa.
- Claro que não! A sua segurança é o importante!
- Seth, por favor, você, ou Siegfried, ou Derfel ou Cewyn saberiam se eles fossem tentar algo! Não quero você se arriscando! – Luna falou, os olhos ainda brilhantes.
- Mesmo assim quero ter certeza. – Falei, teimoso.
- Kam, prometa-me que não vai caçar.
- Não posso prometer...
- Prometa.
- Eu quero proteger você!
- E eu não quero que você corra riscos por mim! Como acha que eu vou me sentir se algo de acontecer? Da última vez você voltou totalmente ferido, cheio de perfurações, queimaduras e não sei mais o que! – Biel, Miyako, Gina e Cewyn voltaram preocupados, pois ouviam a conversa mais exaltada.
- Eu estava lutando para te proteger!
- É mesmo? Às vezes parece que você só usa isso como desculpa para sair lutando por aí! Sua mãe mesma já me falou que seu pai fazia a mesma coisa!
- Eu não estou apenas procurando uma desculpa para lutar! Se pudesse eu evitaria lutas! – Falei meio exaltado, mas assim que falei algo em mim acendeu, dizendo que ela tinha certa razão.
- Está sim! Se não estivesse, você simplesmente ficaria aqui comigo, em vez de ficar caçando vampiros loucos!
- Eu estou protegendo a sua vida assim!
- Eu sei me virar sozinha, Kam! – Luna falou, os olhos estreitos.
- Eu sei que sabe, mas isso não vai me impedir de querer cuidar de você! – Eu falei, encarando-a. Gabriel, Miyako, Gina e Cewyn pareciam não saber o que fazer e apenas olhavam a discussão.
- Você não acha que cuida até demais? Não precisa passar todas as noites me vigiando.
- Eu já falei que não estou vigiando, estou apenas cuidando de você.
- É quase a mesma coisa. Seth, eu não sou fraca, sei me cuidar e me defender.
- Mas já falei que eu quero proteger você!
- Você já protege sem precisar colocar sua vida em risco caçando vampiros malucos, sem ofensas Cewyn, e passando as noites inteiras acordado!
- Eu quero caça-los antes que eles tentem algo!
- Gente, vamos nos acalmar? – Gabriel tentou falar, se colocando entre eu e Luna, que já começávamos a falar mais rapidamente.
- Biel não se meta. – Nós dois falamos juntos.
- Ah então você quer se jogar na frente do perigo e me deixar sozinha e preocupada? – Luna perguntou, ignorando Gabriel.
- Eu não deixo você sozinha...
- Deixa sim, sempre que sai nessas caçadas suicidas eu fico aqui sozinha, preocupada com você! Sem saber o que pode acontecer! Pare de querer caçá-lo a qualquer custo! Como acha que me sinto sempre que sei que meu namorado sai durante a noite e pode nunca mais voltar? – Ela falou alto, os olhos brilhando com lágrimas. Eu me aproximei dela, tentando abraça-la, mas ela se afastou.
- Não precisa se preocupar comigo, eu sei...
- Sabe se cuidar? Então eu também sei me cuidar e não preciso que fique me tratando como uma boneca de porcelana. – Ela falou exaltada, os olhos me encarando com força, desafiando-me a tentar abraça-la novamente.
- Eu apenas me preocupo com você!
- Eu sei que se preocupa, mas você se preocupa demais! Eu sei me proteger sozinha. Eu invadi um Ministério sem você e sai de lá inteira.
- Você foi pega como refém por um Comensal!
- E você matou um homem por minha causa!
- Ele era um Comensal, torturava e matava, e se tivesse tido a chance ele teria te feito algum mal!
- Mas eu sabia me defender! As aulas que tive na AD e com você me prepararam para muitas coisas.
- Eu não vou deixar você desprotegida, não vou parar de querer cuidar de você!
- Desde o ataque a Durmstrang, você me trata como alguém frágil, você já não me beija como antes... Parece que tem medo de me machucar! Parece que tem medo de me matar se me abraçar com mais força.
- E eu tenho sim! Desde aquele dia eu vi o monstro que há em mim, um monstro que seria capaz de te matar.
- Você já teve milhões de oportunidades e nunca o fez, e já estivemos juntos e sozinhos em diversas situações! O Seth que eu conhecia não ficava se remoendo por ser um monstro sedento.
- Eu não mudei em nada.
- Você mudou sim... Pare de pensar que pode me machucar. Eu confio em você plenamente. E lhe daria meu sangue de bom grado, sem ter medo algum.
- Eu quero proteger você de tudo que possa lhe fazer mal. Se necessário de mim mesmo! Não fale isso levianamente. Eu não quero roubar seu sangue!
- Isso não é leviano! – Ela falou, agora realmente furiosa. - Seth, eu já fui seqüestrada, torturada e atacada por Comensais e vampiros e sempre soube me cuidar. Pelo que me lembre, quando fui feita refém por Comensais, você não fez nada para me ajudar, estava preocupado em se considerar um monstro assassino.
- Por que você acha que eu quero tanto evitar que algo ocorra? Você acha que eu me perdôo por não ter feito nada?! Você acha que consigo ficar em paz sabendo que por minha causa você foi atacada por vampiros e feita refém? Que por minha causa você está marcada para morrer?! – Eu falei, também furioso. Miyako e os outros tentavam se colocar entre nós e nos acalmar, mas nós os ignorávamos, sempre nos aproximando e discutindo mais.
- Não tem o que perdoar! Pare de achar que tem que carregar todo o peso do mundo nas costas. Daquela vez por exemplo, eu soube me proteger e me cuidar, até o Harry aparecer para me ajudar...
- Sempre o Harry não é? Sempre ele!
- Sim, o Harry! Ele é meu amigo! E me ajudou em momentos difíceis.
- Sempre ele! Era ter aulas com ele, conversar com ele e sobre ele, andar com ele! Torcer por ele! Até sair e ir a festas com ele você foi! Por que não fica logo com ele então?
- Ei, não mete o Harry nisso! – Gina interrompeu também se exaltando imediatamente em defesa de Luna, mas já era tarde demais. Eu falei enraivecido e no momento que eu falei essa frase eu soube que havia dito algo muito ruim e errado. Nós estávamos a centímetros um do outro e vi seus olhos se estreitarem com força, revelando lágrimas que começaram a escorrer. Ela me virou as costas e saiu andando. Eu fui atrás dela e a puxei pelo braço. Ela, porém, se virou rapidamente e me deu um tapa no rosto, correndo para Avalon, sendo seguida por Gina. Eu comecei a correr atrás dela, mas Cewyn se colocou na minha frente, os olhos determinados.
- É melhor não, Seth.
- Luna! – Eu chamei por ela, tentando passar por Cewyn. Ela porém me deu um empurrão, jogando-me no chão.
- Melhor não, Seth. Vocês foram longe demais, continuar agora só vai piorar as coisas. – Ela falou.
- Fica aqui, Seth. É melhor vocês darem um tempo um ao outro. Vamos conversar com ela. – Miyako falou, enquanto ela e Biel me ajudavam a me levantar. Ela e Cewyn entraram na Avalon, indo procurar Luna e Gina.
Gabriel ainda me segurava por via das dúvidas e começou a me acalmar, enquanto me levava para Spartacus, e eu me deixava cair em seus ombros, fraco com a discussão e com a tristeza. Ele falava comigo, mas eu o ignorava, pois meus ouvidos só conseguiam captar o choro dela, que chegavam aos meus ouvidos claros e dolorosos. As pessoas nos olhavam enquanto passávamos, e eu também as ignorava. Os olhos molhados demais com lágrimas e o coração apertado com um sentimento de culpa e de que não deveria ter falado aquelas coisas...
N.A.: Threshold, Hammerfall.