quarta-feira, 22 de outubro de 2008

- Paris, Paris, Paris! Que saudade de dizer que vamos a Paris!

Acordei com alguém pulando na cama e mesmo fora de foco, podia ver a imagem de Ty ainda de pijamas saltando de uma cama pra outra. Ele se atrapalhou com a coberta embolada que havia acabado de arrancar e caiu torto por cima de mim. Por termos esticado bastante durante o verão já quase não cabíamos mais nas camas e nossos pés já batiam no pé dela. E de Ty acabou se chocando com a madeira quando ele caiu, o fazendo saltar pro chão como um saci. Levantei rindo e coloquei os óculos. O verão dava indicias de que entrava em seus últimos dias e um céu muito azul nos esperava lá fora. Era nosso primeiro e único fim de semana em Paris do ano, já que em duas semanas partiríamos para Durmstrang.

- Também senti falta de dizer que vamos passear em Paris por um dia – constatei ao me pegar sorrindo empolgado com a expectativa do dia que viria
- Nem temos mais o que fazer lá depois de tantos anos, mas é sempre bom sair da escola um pouco – Ty já pegava a roupa para sair do quarto
- E vamos conhecer a filha do Ian hoje – lembrei rindo – Isso vai ser engraçado.
- É mesmo, vamos conhecer a pobre criança...

Rimos da imagem de Ian trocando fraldas e fazendo mamadeiras e saímos do dormitório. Miyako, Seth e Griff já nos esperava no salão principal quando chegamos lá meia hora depois e depois de um rápido café, seguimos para o barco. O dia, como já havia notado, estava muito bonito. Aproveitávamos os últimos vestígios do sol que veríamos aquele ano enquanto o barco percorria o canal e assim que descemos no porto, Mad e Marie já nos esperavam para nos acompanharem até o apartamento dele.

Estávamos todos curiosos por conhecer o bebê. Acompanhamos todo o processo pelo qual Ian passou para conseguir a guarda dela de longe, por cartas que eles nos enviavam, e apenas conhecíamos Gabriela através de fotos. As meninas já iam nos preparando para o que veríamos, mas nada, nada mesmo, poderia ter me preparado de verdade para o que vi quando Marie abriu a porta do apartamento. Era como se tivesse adentrado o set de filmagens de “Três Solteirões e um Bebê”. A sala não existia mais. Havia se transformado em um deposito de fraldas, brinquedos, andador, cadeirinhas de bebê e roupas, muitas roupas. Sujas e limpas, todas estavam lá para se escolher. Ainda não tinha conseguido processar tudo que tinha pelo caminho quando Ian saiu do quarto com um embrulho no colo.

- Ei pessoal... – ele se aproximou e vimos um rosto de olhos azuis e cabelos muito loiros no meio daqueles panos cor de rosa – Essa é a Gabriela...

Miyako foi a primeira voluntária a pegar o bebê no colo e depois começou o revezamento. Agora já estávamos craques em como se segurar um bebê sem parecer que ele era uma bomba, tivemos bastante tempo para praticar nas férias. Passamos o dia inteiro na casa deles conversando e paparicando Gabriela. Não que eu considerasse Ian um bom pai ainda, mas não podia negar que ele era esforçado. Fazia questão de fazer tudo sozinho e só aceitava ajuda quando não conseguia se achar em meio àquela zona. Era bom ver o quanto ele havia crescido e amadurecido em tão pouco tempo. Nem de longe lembrava o garoto babaca com quem vivia batendo de frente há dois anos atrás.

O sol já começava a se esconder atrás de algumas nuvens indesejáveis quando resolvemos ir embora. Restava apenas uma hora para voltarmos pra escola e ainda queríamos fazer algumas compras. Mad desceu comigo e ainda não tínhamos nem saído do prédio quando Griffon comentou sobre como estávamos todos ansiosos pelo inicio do Torneio Tribruxo. Mad e eu nos olhamos e ela não falou nada. tinha certeza que ela sabia sobre o torneio, mas não foi através de mim. Ainda não havíamos conversado sobre isso e continuamos sem falar nada mesmo depois dos outros tomarem outro caminho e ficarmos sozinhos. Limitamos-nos a andar de mais dadas pela rua, possivelmente um esperando o outro começar.

- Então... – Mad foi quem tocou no assunto primeiro – Quando pretendia me contar que está indo pra Escandinávia em 2 semanas? Depois que o Torneio começasse?
- Eu ia contar, só não sabia como – tentei me justificar – Sabia que você não ia gostar.
- Claro que eu não gostei! – disse um pouco exaltada e paramos de andar – E gostei menos ainda de você esperar tanto tempo pra dizer. Está sabendo disso desde que as aulas começaram!
- Desculpe se não encontrei um meio de dizer numa carta “adivinha só, amor? Estou indo pra outro país e só vamos nos ver em Junho!” – respondi tão exaltado quanto ela – Escolhi contar pessoalmente e só estamos nos vendo agora!
- Esse é o problema! – algumas pessoas olharam quando ela sacudiu os braços irritada e Mad diminuiu o tom de voz – Há quanto tempo não nos vemos? Quase dois meses?
- Eu não posso sair da escola todo fim de semana, vá reclamar com a Maxime! – respondi irritado

Ela deixou escapar um rosnado alto e começou a andar de um lado pro outro, sem dizer nada. Quando parou e me encarou outra vez, aparentava estar bem mais calma. E eu também estava.

- Eu não quero que seja assim – disse cansada – Quando começamos a namorar, disse a você que não sabia fazer parte de um relacionamento a distancia.
- Isso não está dando certo, não é? – disse rindo também cansado
- Não, não está. Eu não sei como conduzir isso, não sei lidar com o fato de que só posso ver meu namorado a cada dois meses e o fato de não conseguir controlar isso me enlouquece! Odeio não saber como agir, não saber o que fazer! – ela sentou na calçada e apoiou a cabeça nas mãos
- Também não é agrada ficar longe de você, mas tudo que posso fazer, eu já faço.
- Eu sei, não estou culpando você. Talvez a gente... – mas ela não conseguiu completar
- Talvez a gente deva terminar então – completei por ela

Ninguém falou nada pelo que pareceu uma eternidade. Sentei na calçada ao lado dela e ficamos encarando o asfalto até que resolvi quebrar o silêncio. Ambos sabíamos que tudo ia mesmo terminar, não havia mais como adiar.

- Talvez seja o melhor – dei de ombros – Não gosto de brigar com as pessoas que gosto.
- Eu também odeio brigar com você. Era só o que a gente fazia, não é? – ela riu um pouco
- É, na maior parte de tempo – o espelho no meu bolso vibrou e puxei depressa
- Biel, o barco vai sair em 15 minutos! – ouvi a voz urgente da Miyako
- Como em 15 minutos? – me assustei – Ele só sai às 17h!
- Mas são 16:45! – ouvi a voz do Ty atrás dela – Nossos relógios estão com fuso horário das antigas escolas! Corre, lobão! – e desligaram o espelho
- Melhor você correr, não pode perder o barco – Mad levantou do chão e levantei também
- Mad, eu... – queria dizer tanta coisa, mas 15 minutos era muito pouco tempo
- Está tudo bem, Gabriel, pode ir. Nós estamos bem.

Nos encaramos alguns segundos e foi ela que se adiantou e me abraçou. E não tínhamos pressa em interrompê-lo, pois sabíamos que ele deixava claro que não nos veríamos mais por um bom tempo. Talvez até pela última vez. Quando nos separamos e eu virei às costas para descer a rua, sabia que não seria fácil de esquecê-la, mas também sabia que era o que teria que fazer. Custe o que custar.


Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber
Que o pra sempre, sempre acaba...

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem...

Cássia Eller – Por Enquanto
blog comments powered by Disqus
 

Os Renegados © 2008. Design By: SkinCorner