sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Academia de Magia Beauxbatons, 24 de Outubro de 1999.


TORNEIO TRIBRUXO

A delegação de Beauxbatons partirá para o Instituto Durmstrang às 17h do dia 30 de Outubro. Todos os alunos do 7º ano deverão estar no saguão do castelo meia hora antes.

Olímpia Maxime
Diretora.


O aviso foi pregado em todos os murais do castelo, saiu no jornal interno e era lido pelo menos duas vezes por dia na rádio da escola. O clima que envolvia a turma do 7º ano era de pura euforia, estávamos todos ansiosos para embarcar e na expectativa de sermos selecionados para competir em nome da escola. De todo o grupo, Seth era o único que não pensava em se inscrever, o que era uma pena. Com ele de campeão, era vitória garantida pra Beauxbatons.

A semana seguinte aos avisos sobre nossa partida passou voando. Quando percebemos, estávamos embarcando nas carruagens azuis que nos levariam até Durmstrang. Elas eram pequenas por fora, mas muito espaçosas por dentro, poderíamos até dormir dentro delas. Maxime terminou de delegar as ultimas instruções à professora Emily e ao professor Pierre, que ficariam responsáveis pela escola durante o resto do ano, e fechou a porta da carruagem. Pela janela pude ver os alunos que ficaram na escola se despedindo e gritando boa sorte para nosso grupo. Agora sim nosso ano estava começando.

ººº

Instituto Durmstrang, 30 de Outubro de 1999.

Sentimos a carruagem perder velocidade e descer lentamente. As rodas bateram com um baque no chão e seguramos Miyako com a mão antes que ela fosse arremessada contra a parede. Seth foi o primeiro a descer e abriu a porta para madame Maxime sair, liderando a fila. Descemos logo atrás dela e um ar gelado cortou nossas faces e apertamos os casacos, que não eram grossos o suficiente, contra o corpo. O diretor da escola puxou uma salva de palmas e os alunos acompanharam, e em seguida caminhou até a diretora e a abraçou. Paramos em fileira atrás dela e de relance podíamos já localizar nossos amigos, seja de longa data ou que fizemos durante as olimpíadas, acenando discretamente.

O frio que fazia era castigante e esperar pela chegada da delegação de Hogwarts parados do lado de fora do castelo pareceu durar uma eternidade. Começamos a especular se eles viriam mesmo de trem quando ouvimos o barulho de um, fazendo grande estardalhaço na direção da estação logo em frente à escola. Esticamos os pescoços e ficamos na ponta dos pés, curiosos, e logo foi possível avistar Minerva McGonagall sorrindo na medida em que seu jeito sério permitia, liderando uma fila com a maior delegação de alunos que já participaram de um torneio desse. Eram alunos do 7º ano regular e alunos que voltaram à escola depois da guerra para refazer o ano perdido. Logo localizei Gina e Luna, bem à frente da delegação, e Seth se agitou atrás de mim. Griffon fez uma piada e recebeu um soco no braço em resposta. Sufocamos a risada, pois Maxime já olhava atravessado.

McGonagall foi recebida com o mesmo entusiasmo pelo diretor de Durmstrang e finalmente pudemos entrar e nos acomodar nas grandes mesas do salão. Micah e Chris sinalizavam para sentarmos com eles e ocupamos nossos lugares. Gina e Luna também sentaram ao nosso lado e quando todos finalmente estavam acomodados, o diretor de Durmstrang nos deu as boas vindas e o jantar foi servido.

- Come devagar, Ty! – Miyako reclamou – Vai acabar engolindo um osso
- Logo você vai aprender que aqui a comida esfria rápido se ficar dando bobeira no prato, Mi...
- Café nem pensar, não é? – perguntei brincando e Chris balançou a cabeça, confirmando.

Logo os pratos foram trocados por sobremesas já frias, mas não demorou nada para que limpássemos todas as travessas. Os pratos desapareceram da mesa e o diretor se levantou mais uma vez. O falatório que tomava conta das mesas cessou quase que instantaneamente e uma enorme tensão tomou conta do ambiente.

- Chegou o momento – disse juntando as mãos teatralmente e sorrindo para os visitante – O Torneio Tribruxo vai começar. Primeiramente, para àqueles que ainda não os conhecem, gostaria de apresentar o Sr. Demétrio Donskoi, Chefe do Departamento de Cooperação Internacional em Magia – houveram aplausos vagos e educados – e o Sr. Boris Fedorovitch, Chefe do Departamento de Jogos e Esportes Mágicos – os aplausos agora foram um pouco mais entusiasmados, talvez porque o cara era um ex-jogador de quadribol famoso da seleção da Bulgária – Nos últimos meses esses senhores trabalharam incansavelmente na organização do Torneio e se juntarão a mim, madame Maxime e a professora McGonagall na banca que julgará os esforços dos campeões. As instruções para as tarefas que os campeões deverão enfrentar este ano já foram examinadas pelos Srs. Donskoi e Fedorovitch e eles tomaram as providências necessárias para cada desafio. Haverá três tarefas espaçadas durante o ano letivo, que servirão para testar os campeões de diferentes maneiras. Sua perícia em magia, sua coragem, seus poderes de dedução e, naturalmente, sua capacidade de enfrentar o perigo. Mas chega de enrolação! O escrínio, por favor...

As cabeças no salão automaticamente se viraram para a porta, onde um dos guardas da escola vinha empurrando um pedestal com uma arca de madeira incrustada de pedras preciosas. Já havia visto aquela arca no meu 2º ano, em Hogwarts. Era dela que saiam os nomes dos campeões. O pedestal foi postado em frente às mesas e todos os olhares estavam concentrados nele. O diretor Ivanovich pousou a mão sobre ele e continuou falando.

- Como todos sabem, três campeões competem no torneio. Eles receberão notas por seu desempenho em cada uma das tarefas e aquele que tiver obtido o maior resultado no final da terceira tarefa ganhará a Taça Tribruxo. E os campeões serão escolhidos por um juiz imparcial... – ele puxou a varinha e deu três pancadas leves na arca. Ela se abriu com um rangido e ele puxou de dentro dela um grande cálice de madeira, com chamas branco-azuladas saindo da borda – O Cálice de Fogo!

Os alunos sentados no fundo do salão ficaram de pé para enxergar melhor e ele o depositou sobre a arca, deixando bem visível para todos.

- O aluno maior de 17 anos que quiser se candidatar a campeão deve escrever seu nome e o nome da escola claramente em um pedaço de pergaminho e deposita-lo no cálice. Os candidatos terão 24 horas para apresentar seus nomes. Amanhã à noite, dia das bruxas, o Cálice devolverá o nome dos três que ele julgou mais dignos de representar suas escolas. O cálice será colocado no saguão de entrada hoje à noite, onde estará perfeitamente acessível a todos que queiram competir.

O falatório ameaçou recomeçar, agora com os alunos especulando quem colocaria o nome no Cálice e quais seriam os escolhidos, mas o diretor pigarreou alto e nos calamos outra vez.

- Só para finalizar, eu juro... – brincou e alguns alunos riram – Gostaria apenas de lembrar àqueles que querem competir que ninguém deve se inscrever neste torneio levianamente. Uma vez escolhido pelo Cálice de Fogo, o campeão ficará obrigado a prosseguir até o final do torneio. Colocar o nome no Cálice é um ato contratual mágico. Não pode haver mudança de idéia, uma vez que a pessoa se torne campeã. Portanto, procurem se certificar de que estão preparados de corpo e alma para competir antes de depositar seu nome no Cálice. Agora acho que já está na hora de nos deitarmos. Boa noite a todos!

Olhei para Ty, Miyako e Griff e sabia que estávamos sim preparados para competir naquele torneio. No dia seguinte bem cedo depositaríamos nossos nomes no Cálice e só restaria esperar para saber quem seria escolhido para representar beauxbatons e ter a chance de se formar como campeão do Torneio Tribruxo. Não podia existir melhor maneira de encerrar o ano.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

- Paris, Paris, Paris! Que saudade de dizer que vamos a Paris!

Acordei com alguém pulando na cama e mesmo fora de foco, podia ver a imagem de Ty ainda de pijamas saltando de uma cama pra outra. Ele se atrapalhou com a coberta embolada que havia acabado de arrancar e caiu torto por cima de mim. Por termos esticado bastante durante o verão já quase não cabíamos mais nas camas e nossos pés já batiam no pé dela. E de Ty acabou se chocando com a madeira quando ele caiu, o fazendo saltar pro chão como um saci. Levantei rindo e coloquei os óculos. O verão dava indicias de que entrava em seus últimos dias e um céu muito azul nos esperava lá fora. Era nosso primeiro e único fim de semana em Paris do ano, já que em duas semanas partiríamos para Durmstrang.

- Também senti falta de dizer que vamos passear em Paris por um dia – constatei ao me pegar sorrindo empolgado com a expectativa do dia que viria
- Nem temos mais o que fazer lá depois de tantos anos, mas é sempre bom sair da escola um pouco – Ty já pegava a roupa para sair do quarto
- E vamos conhecer a filha do Ian hoje – lembrei rindo – Isso vai ser engraçado.
- É mesmo, vamos conhecer a pobre criança...

Rimos da imagem de Ian trocando fraldas e fazendo mamadeiras e saímos do dormitório. Miyako, Seth e Griff já nos esperava no salão principal quando chegamos lá meia hora depois e depois de um rápido café, seguimos para o barco. O dia, como já havia notado, estava muito bonito. Aproveitávamos os últimos vestígios do sol que veríamos aquele ano enquanto o barco percorria o canal e assim que descemos no porto, Mad e Marie já nos esperavam para nos acompanharem até o apartamento dele.

Estávamos todos curiosos por conhecer o bebê. Acompanhamos todo o processo pelo qual Ian passou para conseguir a guarda dela de longe, por cartas que eles nos enviavam, e apenas conhecíamos Gabriela através de fotos. As meninas já iam nos preparando para o que veríamos, mas nada, nada mesmo, poderia ter me preparado de verdade para o que vi quando Marie abriu a porta do apartamento. Era como se tivesse adentrado o set de filmagens de “Três Solteirões e um Bebê”. A sala não existia mais. Havia se transformado em um deposito de fraldas, brinquedos, andador, cadeirinhas de bebê e roupas, muitas roupas. Sujas e limpas, todas estavam lá para se escolher. Ainda não tinha conseguido processar tudo que tinha pelo caminho quando Ian saiu do quarto com um embrulho no colo.

- Ei pessoal... – ele se aproximou e vimos um rosto de olhos azuis e cabelos muito loiros no meio daqueles panos cor de rosa – Essa é a Gabriela...

Miyako foi a primeira voluntária a pegar o bebê no colo e depois começou o revezamento. Agora já estávamos craques em como se segurar um bebê sem parecer que ele era uma bomba, tivemos bastante tempo para praticar nas férias. Passamos o dia inteiro na casa deles conversando e paparicando Gabriela. Não que eu considerasse Ian um bom pai ainda, mas não podia negar que ele era esforçado. Fazia questão de fazer tudo sozinho e só aceitava ajuda quando não conseguia se achar em meio àquela zona. Era bom ver o quanto ele havia crescido e amadurecido em tão pouco tempo. Nem de longe lembrava o garoto babaca com quem vivia batendo de frente há dois anos atrás.

O sol já começava a se esconder atrás de algumas nuvens indesejáveis quando resolvemos ir embora. Restava apenas uma hora para voltarmos pra escola e ainda queríamos fazer algumas compras. Mad desceu comigo e ainda não tínhamos nem saído do prédio quando Griffon comentou sobre como estávamos todos ansiosos pelo inicio do Torneio Tribruxo. Mad e eu nos olhamos e ela não falou nada. tinha certeza que ela sabia sobre o torneio, mas não foi através de mim. Ainda não havíamos conversado sobre isso e continuamos sem falar nada mesmo depois dos outros tomarem outro caminho e ficarmos sozinhos. Limitamos-nos a andar de mais dadas pela rua, possivelmente um esperando o outro começar.

- Então... – Mad foi quem tocou no assunto primeiro – Quando pretendia me contar que está indo pra Escandinávia em 2 semanas? Depois que o Torneio começasse?
- Eu ia contar, só não sabia como – tentei me justificar – Sabia que você não ia gostar.
- Claro que eu não gostei! – disse um pouco exaltada e paramos de andar – E gostei menos ainda de você esperar tanto tempo pra dizer. Está sabendo disso desde que as aulas começaram!
- Desculpe se não encontrei um meio de dizer numa carta “adivinha só, amor? Estou indo pra outro país e só vamos nos ver em Junho!” – respondi tão exaltado quanto ela – Escolhi contar pessoalmente e só estamos nos vendo agora!
- Esse é o problema! – algumas pessoas olharam quando ela sacudiu os braços irritada e Mad diminuiu o tom de voz – Há quanto tempo não nos vemos? Quase dois meses?
- Eu não posso sair da escola todo fim de semana, vá reclamar com a Maxime! – respondi irritado

Ela deixou escapar um rosnado alto e começou a andar de um lado pro outro, sem dizer nada. Quando parou e me encarou outra vez, aparentava estar bem mais calma. E eu também estava.

- Eu não quero que seja assim – disse cansada – Quando começamos a namorar, disse a você que não sabia fazer parte de um relacionamento a distancia.
- Isso não está dando certo, não é? – disse rindo também cansado
- Não, não está. Eu não sei como conduzir isso, não sei lidar com o fato de que só posso ver meu namorado a cada dois meses e o fato de não conseguir controlar isso me enlouquece! Odeio não saber como agir, não saber o que fazer! – ela sentou na calçada e apoiou a cabeça nas mãos
- Também não é agrada ficar longe de você, mas tudo que posso fazer, eu já faço.
- Eu sei, não estou culpando você. Talvez a gente... – mas ela não conseguiu completar
- Talvez a gente deva terminar então – completei por ela

Ninguém falou nada pelo que pareceu uma eternidade. Sentei na calçada ao lado dela e ficamos encarando o asfalto até que resolvi quebrar o silêncio. Ambos sabíamos que tudo ia mesmo terminar, não havia mais como adiar.

- Talvez seja o melhor – dei de ombros – Não gosto de brigar com as pessoas que gosto.
- Eu também odeio brigar com você. Era só o que a gente fazia, não é? – ela riu um pouco
- É, na maior parte de tempo – o espelho no meu bolso vibrou e puxei depressa
- Biel, o barco vai sair em 15 minutos! – ouvi a voz urgente da Miyako
- Como em 15 minutos? – me assustei – Ele só sai às 17h!
- Mas são 16:45! – ouvi a voz do Ty atrás dela – Nossos relógios estão com fuso horário das antigas escolas! Corre, lobão! – e desligaram o espelho
- Melhor você correr, não pode perder o barco – Mad levantou do chão e levantei também
- Mad, eu... – queria dizer tanta coisa, mas 15 minutos era muito pouco tempo
- Está tudo bem, Gabriel, pode ir. Nós estamos bem.

Nos encaramos alguns segundos e foi ela que se adiantou e me abraçou. E não tínhamos pressa em interrompê-lo, pois sabíamos que ele deixava claro que não nos veríamos mais por um bom tempo. Talvez até pela última vez. Quando nos separamos e eu virei às costas para descer a rua, sabia que não seria fácil de esquecê-la, mas também sabia que era o que teria que fazer. Custe o que custar.


Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre, sem saber
Que o pra sempre, sempre acaba...

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou
Quando penso em alguém só penso em você
E aí, então, estamos bem...

Cássia Eller – Por Enquanto
 

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