domingo, 13 de julho de 2008

Minhas malas já estavam arrumadas em cima da cama e limpava a gaiola de Osíris para trancá-la para a viagem quando a porta do quarto abriu. Senti um par de braços me abraçarem com força e ri. Desde que comuniquei aos meus amigos que não voltaria em Setembro, todos têm estado sentimentais. Sentia-me como um doente terminal, que poderia cair morto a qualquer instante.

- Vou sentir sua falta, Gabe – Stuart falou me soltando
- Tem certeza que quer voltar para a França? – Evan pegou minha mala da cama e colocou na porta – Não gostou da Califórnia?
- Claro que gostei daqui, mas prometi a minha melhor amiga que nos formaríamos juntos em Beauxbatons. E também quero ficar mais perto da minha namorada.
- Isso não é justo – Sean sentou na cama e me encarou revoltado – Primeiro o Micah, agora você. O que mais falta? Shannon ir embora também?
- Não se preocupe Ronnie, não vou a lugar alguém – Shannon entrou no quarto e era a única a não soar deprimida – E deixem o Gabriel em paz, ele também deixou os amigos para estudar aqui e ninguém morreu por lá. Não é o fim do mundo!
- Exatamente. Não é porque vou embora que nunca mais vou vê-los. E agora será que podem cortar o drama e me ajudar com as malas? Meu pai já está me esperando lá fora.

Os três se olharam cabisbaixos, mas finalmente se deram por vencidos e entenderam que não era uma despedida para o resto da vida. Shannon riu e pegou a gaiola de Osíris, me abraçando. Sean e Stuart pegaram minhas duas malas e caminhamos juntos para fora da escola. Dei uma última olhada nos corredores com as cores do nosso time e abracei um por um antes de me afastar. Meu pai já me esperava com a chave de portal na mão e olhei uma última vez para os quatro, que gritavam e cantavam o hino da escola. Acenei de longe rindo e toquei a chave, sumindo em seguida.

ººº

- Cuidado, atrás de você! – Nicholas gritou saltando do chão com o controle na mão
- Deixa comigo, eu distraio ele – respondi concentrado – Pega a chave, eu dou cobertura!
- Droga, os zumbis estão se multiplicando! Não vou conseguir, eles são muitos, Gabriel! – Nicholas falou desesperado
- Então se protege, vou soltar uma granada!
- Mas é a nossa última, não podemos desperdiçar!
- Você quer morrer? – gritei em pânico – É a nossa única chance! – Nicholas assentiu engolindo seco e se protegeu atrás de algumas caixas – Pronto, o caminho está limpo. Depressa ou eles voltam!
- Ok, já chega! – a porta do quarto abriu com um estrondo e saltamos assustados. Tio Ben acendeu a luz – Vocês estão aí desde 8 horas da manhã e já são 17 horas! Chega de videogame por hoje!
- Mas ainda não conseguimos a chave dos mundos, pai!
- Acabamos de explodir 50 zumbis, não podemos simplesmente encerrar! – protestei
- Salvem esse jogo ou arranco o fio da parede. Venham logo antes que a pizza esfrie.

Olhamos um para a cara do outro indignados, mas salvamos o jogo e desligamos. Tio Ben não estava blefando e era melhor continuar amanha do que perder todo o trabalho feito ao longo do dia. Tio Scott já estava comendo a pizza no balcão e sentamos ao lado dele. Nicholas e eu estávamos em uma maratona de Resident Evil desde que entrei de férias. Já tínhamos até olheiras, mas íamos zerar o jogo até o fim da semana.

- Vocês planejam passar os dois meses de férias trancados no quarto jogando videogame? – tio Ben perguntou incrédulo
- Claro que não, Gabriel em breve terá muitas fraldas pra trocar – tio Scott provocou e eles riram
- Só por que na época de vocês, há milênios, não existiam essas tecnologias, não quer dizer que sejam ruins – provoquei de volta e Nicholas engasgou com o refrigerante quando riu
- Olha o abuso, moleque. Respeita seu padrinho! – tio Scott fingiu indignação e atirou uma bolinha de guardanapo em mim

Rebati a bolinha demos inicio a uma batalha de papel. Encantei uma para voar com mais força e na hora que ela voava em direção a porta, meu pai entrou. Ele sacudiu a varinha fazendo-a evaporar e olhou assustado para a cozinha soterrada de guardanapo.

- Que bom que com apenas um aceno de varinha os papeis voltam ao normal – comentou rindo desviando das bolinhas no chão – Gabriel, vamos comigo até Londres?
- Claro, quando? – perguntei animado
- Agora.
- Como agora? Pra que? O que aconteceu?
- O filho do Quim nasceu, e vamos visitá-lo.
- Que legal, mas não podemos ir amanha?
- Não, ele nos espera lá hoje. Vamos, já preparei a chave de portal. Vamos dormir por lá, voltamos amanhã.
- Dê os parabéns a ele por mim, Remo! – tio Scott falou enquanto calçava o tênis para ir embora – Diga que essa semana vamos visitar o bebê.
- Pode deixar, dou o recado.

Subi depressa para colocar duas peças de roupa na mochila, me despedir da minha mãe e logo já estava caindo em Londres, no Caldeirão Furado. Papai estava bem misterioso, e caminhava depressa até o St. Mungus. Acompanhava ele perguntando se tinha acontecido alguma coisa, mas ele só dizia que íamos visitar o filho do Quim. Aquela parte já tinha entendido...

- Mi? – me espantei ao ver Miyako na entrada do hospital com o tio Sergei e a abracei – O que está fazendo aqui?
- Fui arrancada da cama para visitar o bebê do Quim, mas ainda não entendi porque não podíamos vir amanha, quando minha cara não estaria tão amassada – ela olhou atravessado para Sergei e ele e meu pai riram
- Vamos entrar, a maternidade é no 5º andar – meu pai abriu a porta e entramos

Subimos com eles conversando empolgados sobre as grávidas prestes a dar a luz e ninguém explicava o porquê da pressa. Quando a porta do elevador se abriu, tio Quim já estava esperando no corredor e deu um abraço empolgado nos dois, sorrindo de uma orelha a outra. Parecia meio pálido também, assustado.

- Você ta meio branco, está tudo bem? Tio Sergei perguntou
- Não, tudo ótimo. É que assisti o parto e sabem, prefiro enfrentar dementadores. Bati a cabeça no chão quando desmaiei, mas já estou melhor.
- Isso é animador... – meu pai comentou preocupado – Mas então, onde está o garoto?
- Venham, por aqui!

Acompanhamos ele até o berçário e ele apontou feliz para um bebê negro enrolado em uma manta azul clara. Na identificação do berço dizia Jamal Shacklebolt. Miyako e eu ficamos hipnotizados olhando para o bebê, imaginando quando seria a vez de vermos nossos irmãos através daquele vidro. Tio Quim apoiou as mãos em nossos ombros e olhamos para ele.

- O que vocês acham do nome? Gostaram?
- Sim, bem original. Jamal, yeah! – Miyako brincou
- Sim, é um nome forte. Se ficar do seu tamanho, vai impor respeito... – ri
- Ótimo. E o que acham de batizarem ele? Gostariam?
- Como é? – perguntei surpreso olhando para Miyako, que também tinha os olhos arregalados
- Quero que sejam os padrinhos dele. O que me dizem? Aceitam?
- MAS É CLARO QUE SIM! – Mi gritou empolgada e concordei com a cabeça, sorrindo
- Vocês sabiam disso? – perguntei virando para o meu pai e ele riu, confirmando
- Vai ser uma honra, tio – olhei para ele pelo vidro outra vez e ele abriu os olhos, se mexendo. Todos colaram o rosto no vidro para ver – Não se preocupe, vamos deseducar ele do jeito que deve ser feito...

Miyako fez sinal de positivo e eles riram. Era o primeiro bebê da extensa lista que ainda estava por vir, e era nosso primeiro afilhado. Não víamos a hora de poder ensinar tudo que não prestasse a ele...
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